Já que tem de fazer aquela viagem, porque não levar também consigo uma encomenda de outra pessoa, obtendo um rendimento extra? A hipótese torna-se real, através da plataforma Shipizy. Desenvolvida por portugueses e nascida na Startup Lisboa, junta, de forma global, necessidades de envio de encomendas (a um preço mais baixo do que por transportadora) com as viagens já programadas dos utilizadores da plataforma. Para João Pina Souza, um dos fundadores, a plataforma permite “a rentabilização de espaço livre, a prestação de um serviço e, ao mesmo tempo, a poupança de quem pretende poupar no envio e deslocação de bens”, o que faz dela parte integrante da Economia da Partilha.
Na sua opinião, o que define o conceito de Economia da Partilha?
Para mim, é uma variante restritiva de uma lógica de consumo colaborativo que se desenvolveu organicamente na sociedade. Independentemente de nos casos mais conhecidos ter modelos de negócio associados, o conceito poderá ser visto de diferentes formas – a partilha simples, economia de aluguer, cedência, troca, e ou mesma venda de serviços. A partilha sempre existiu e é uma das primordiais formas de transferência económica (financeira ou não) da humanidade e, felizmente, a sociedade actual está a recuperar valores que potenciam o seu crescimento. Esta evolução é inalienável da capacidade de acesso a recursos, valor atribuído a produtos, valor de posse, entre outros conceitos em permanente mudança e ajuste, conforme os factores envolventes (sociedade, tempo, economia, etc.). Se pudermos adquirir um bem que sabemos que, à partida, iremos apenas utilizar uma ou duas vezes, o raciocínio será “porque não revender o mesmo, trocar, ou simplesmente partilhar, ajudando outros que, mais tarde, podem vir a ter algo que necessitamos?”. Isto é Economia da Partilha. Não querendo aprofundar muito, salientava apenas dois modelos: um primeiro, no qual a partilha livre (troca entre vizinhos, família, na rua, alimentos, horas, etc.) e, segundo, os recentes modelos utilizados em algumas das empresas mais conhecidas internacionalmente que começaram por fomentar e apadrinhar o conceito. Neste caso, temos, por exemplo, o Airbnb, que, se seguirmos a lógica acima descrita, não é mais do que uma economia de aluguer e vendas (mesmo que temporária) de um bem ou serviço – este beneficia quem tem pela rentabilização e beneficia quem utiliza pela redução de custos. Estes exemplos são apenas para mostrar os extremos quando designamos tudo por Economia da Partilha. Alguns gerem milhões, outros “tostões”.
De que forma a Shipizy pode ser inserida neste conceito?
A Shipizy abrange este modelo pois permite de forma simbiótica estas sinergias. Por um lado, a rentabilização de espaço livre, a prestação de um serviço, e, ao mesmo tempo, a poupança de quem pretende poupar no envio e deslocação de bens. Estas acções já existem e todos as fazemos, seja para um amigo ou familiar. O que esta plataforma alarga é que a esfera seja global e com desconhecidos.
A plataforma permite dois tipos de utilização (gratuita e paga, esta última com acesso ao serviço Shipizy na íntegra). Ao permitir esta dupla utilização, não há também menores receitas para a Shipizy? O que motivou este posicionamento de negócio?
A Shipizy é sempre gratuita. Hoje, pode realizar todo o processo, desde o “matching” até ao “delivery” sem qualquer custo. Na realidade, não temos um serviço pago, o que acontece – e aqui a Shipizy não é diferente de todos os outros serviços – é que alguns serviços (nomeadamente a utilização de meios de pagamento, seguro e a própria manutenção de serviços de segurança) têm taxas inerentes. E essa comissão permite somente assegurar esses custos, ficando uma reduzida parte que permite que a empresa continue a desenvolver mais e melhores funcionalidades, além da manutenção operacional. Mesmo assim, tal como existe hoje, é sempre uma opção do utilizador. A plataforma em si é segura e nunca tivemos qualquer problema, mas existe um risco maior de confiança que, utilizando os tais processos com taxas internas (por exemplo, protecção financeira), garantem ao utilizar que esse risco é completamente eliminado. Para que seja gratuito, o posicionamento tem a ver com o objectivo inicial do projecto, e pensamos que, desta forma, mais do que o lucro, visamos prestar uma verdadeiro serviço comunitário de entreajuda.
Como explica o sucesso da Economia da Partilha?
Tudo isto é resultado da evolução da economia global, i.e. a sociedade cada vez mais tem necessidade de encontrar novas fontes de rendimento e ao mesmo tempo ter acesso aos bens de uma forma mais barata e compatível com o usufruto dado. Penso que o futuro passa pelas empresas corporativas e organizações também se adaptarem, tanto internamente como na forma como lidam com os seus clientes com modelos híbridos, talvez até com novas variantes desta “Economia da Partilha”.
Quantos envios, a nível global, foram mediados pela Shipizy em 2015? Desses, quantos pagaram comissão?
Neste momento, as comissões estão desactivadas e todo o processo é gratuito. Em termos de número, apenas podemos adiantar que foram na ordem das centenas. Mais do que quantidades, saliento aqui também a escala envolvente, sendo que pedidos e transportes já ultrapassaram 80 países e mais de dez milhões de quilómetros em viagens.
Quantos utilizadores registados há em Portugal?
Em Portugal, o número de registos anda à volta de dois mil. No entanto, Portugal é o quarto país da nossa lista em termos de ranking de utilização, estando à frente países como os EUA, Brasil, e Angola.
A Shipizy é uma das fundadoras da The People Who Share Portugal. Como surgiu esta oportunidade e qual a relevância de estarem associados a esta plataforma?
É muito importante. Primeiro, porque estivemos envolvidos desde as primeiras conversas, depois porque tem uma equipa fantástica e muito bem liderada e, por último, todo o conceito global e parceiros (como Airbnb ou Blablacar) fazem com que este movimento ajude todos a compreender e encontrar serviços idênticos e complementares. À parte, esta parceria levou-nos também a sermos um parceiro a nível global desta organização com sede em Reino Unido. Desde a simples troca de brinquedos, às boleias, ao serviços de crowdshipping, esta associação interage e promove não só eventos, mas, muito mais importante, é um verdadeiro agente de mobilização e divulgação. É uma parceria que queremos manter e que recomendamos a que outros projectos conheçam e se associem.