Se 2017 foi um ano que tornou clara a inevitabilidade da transformação digital do mundo, foi também o ano em que os perigos da segurança associada ao digital, com diversos ataques cibernéticos a porem o mundo de sobreaviso, tornaram cada vez mais evidente a necessidade de manter sistemas de proteção eficazes.

Em Portugal, verificou-se um paradigma entre fenómenos que nos afetam coletivamente. Por um lado, constatámos uma consolidação do crescimento em termos de número de turistas, ao mesmo tempo a que assistíamos a um ano dramático no que diz respeito aos fogos, com acontecimentos repetidos que expuseram a necessidade de melhor prevenir e reagir a este flagelo.

E porque as cidades não se podem dissociar da sua governação, que determina e condiciona muitas das ações que definem a sua atratividade e segurança, num período pós autárquicas, é extremamente importante uma abordagem estruturada e eficiente às Cidades Inteligentes para a consolidação de políticas e implementação de planos estratégicos de médio e longo prazo.

“2018 apresenta-se como um ano que precisa de ver resultados, de ver definidas novas formas de se trabalhar, de novas e melhores formas de servir o cidadão e o munícipe”.

Com o novo ciclo de estabilidade governativa local que as eleições conferiram, 2018 apresenta-se-nos como o ano ideal para cimentar uma abordagem estratégica às Cidades Inteligentes. A cobertura das infraestruturas de comunicações do país, com a disseminação do acesso a dados móveis e a aceleração da distribuição de fibra ótica, vem criar o contexto ideal para a sensorização das cidades, que trará valor se for feita numa ótica integrada, planeada e sistematizada, e sempre com o foco na satisfação do cidadão. A diminuição do custo de grande parte das tecnologias que suportam a Internet of Things deverá incentivar as cidades a criarem o seu sistema nervoso, que lhes permitirá medir o pulso das vertentes mais adequadas a cada urbe. Esta adequação é essencial pois é a singularidade de cada dinâmica citadina que orienta como este metabolismo urbano deve ser medido e que ações priorizar. O metabolismo urbano poderá ser mesmo um dos temas quentes das Cidades Inteligentes em 2018.

Se o ciclo eleitoral que findou veio criar condições para uma abordagem estratégica de médio e longo prazo na abordagem às Cidades Inteligentes, é importante não esquecer o fio condutor do investimento e aposta das cidades na inovação, traduzida numa lógica de continuidade na criação de diversos polos de inovação pelo país, com as cidades a manifestarem uma clara intenção de resolver os seus desafios, fomentando e incentivando a criatividade, promovendo uma descentralização do talento e de competências. 2018 apresenta-se, neste aspeto, como um ano que precisa de ver resultados, de ver definidas novas formas de se trabalhar, de novas e melhores formas de servir o cidadão e o munícipe. A inovação é indubitavelmente um dos pilares da evolução das Cidades Inteligentes, e é suportado, em termos legislativos, pelas alterações à Lei da Contratação Pública, que se estreou também em 2018, trazendo consigo novidades, nomeadamente a parceria para a inovação e alterações que, de uma forma geral, valorizam e criam oportunidades para o tecido empresarial local.

Um dos desafios que irá certamente liderar as agendas das Cidades Inteligentes é o da utilização do manancial de dados produzidos pela revolução digital, incluindo os produzidos pela sensorização já referida, mas também os fornecidos pelos cidadãos e por entidades privadas que também participam na gestão das cidades, para além dos que resultam dos serviços disponibilizados por cada município. As cidades apresentam-se cada vez mais como elemento agregador e a chave para a definição do real valor do Big Data.

2018 traz ainda uma novidade no que concerne à forma como se deve gerir o uso de dados pessoais com o novo Regulamento Geral sobre Proteção de Dados, aplicável em toda a União Europeia. Este regulamento obrigatório traz para a esfera legal uma preocupação que, ao ser introduzida, dará mais confiança aos cidadãos na partilha de dados essenciais para uma correta gestão das cidades, fornecendo aos governos locais um enquadramento lógico para o uso mais apropriado dos dados, restringindo a exposição a danos reputacionais e melhorando a qualidade de vida dos seus munícipes e a eficiência dos seus serviços.

Em suma, antevê-se um ano repleto de dinamismo no movimento das Cidades Inteligentes, no qual a chave do sucesso reside numa abordagem holística à temática, um planeamento integrado das várias vertentes que poderão tornar uma cidade mais inteligente, e, sobretudo, um foco e uma gravitação à volta do cidadão, seja daquele que vive, seja do que visita ou utiliza a cidade, as suas infraestruturas e os seus serviços.