As soluções baseadas na natureza, o estudo e preservação das florestas marinhas são fundamentais para a criação de uma economia azul sustentável. As cidades costeiras, como as do Grande Porto, deverão ter aqui um papel fundamental no conhecimento, monitorização, valorização e recuperação dos recursos biológicos marinhos costeiros, desenvolvendo produtos,processos e serviços inovadores na área da bioeconomia azul.

 

Portugal é Mar, mas durante muitos séculos estivemos de costas voltadas para o Oceano, agredindo-o de forma sistemática, contaminando-o com nutrientes, metais pesados, pesticidas e plásticos. Mas começamos agora a olhar para este recurso como ele merece, tendo também em consideração a sua importância na regulação do nosso clima. Os recursos biológicos marinhos têm sido também explorados de forma intensa, em muitos casos com sobre pesca, diminuindo drasticamente muitas das populações de espécies de interesse comercial bem como espécies acessórias.

A aquacultura sustentável deverá ser uma atividade complementar da pesca, de forma a produzirmos recursos biológicos marinhos capazes de alimentar uma população humana em crescimento. As cidades costeiras, como as do Grande Porto (Póvoa do Varzim, Vila do Conde, Matosinhos, Porto, Vila Nova de Gaia, Espinho) deverão ter aqui um papel fundamental no conhecimento, monitorização, valorização e recuperação dos recursos biológicos marinhos costeiros, desenvolvendo produtos, processos e serviços inovadores na área da bioeconomia azul. 

O estudo e preservação das florestas marinhas do Norte de Portugal, constituídas por macroalgas que têm um papel fundamental na captação de CO2 e na criação de refúgios para espécies marinhas, é um desses passos. Podemos melhorar os habitats através da reflorestação marinha, à semelhança com o que se faz nos ecossistemas terrestres e poderemos ainda otimizar a captação de CO2 através da utilização de recifes artificiais que são locais de fixação de macro e microalgas, mas também aumentando a biodiversidade, vão melhorar a saúde dos ecossistemas e contribuir para o aumento de stocks de espécies marinhas de valor comercial. A colocação de recifes artificiais e de sistemas de aproveitamento da energia das ondas paralelos à costa também vai mitigar os efeitos da erosão costeira, dissipando a energia das ondas.

As soluções baseadas na natureza devem também ser implementadas no sentido de criar uma bioeconomia azul sustentável. A fitoremediação usando plantas adaptadas a meios marinhos instaladas em ilhas flutuantes e a bioremediação, utilizando bactérias autóctones com capacidade de degradar contaminantes como hidrocarbonetos, pesticidas ou fármacos têm vindo a ser desenvolvidas no CIIMAR, sediado no Terminal de Cruzeiros do porto de Leixões, de forma a poder combater a contaminação do meio marinho. Da mesma forma, o desenvolvimento de tintas anti-incrustantes para aplicações marítimas baseadas em moléculas naturais produzidas por cianobactérias e microalgas tem vindo a ser testado. Essas tintas terão potencial anti-incrustante, mas não causarão danos ao meio ambiente em comparação com os biocidas atuais. De facto, os microorganismos marinhos como as bactérias, cianobactérias, fungos e microalgas estão a ser isolados de regiões costeiras do Norte de Portugal, sendo preservados no Biobanco Azul do CIIMAR, contando já com vários milhares de estirpes.

Os trabalhos efetuados, muitos dos quais resultaram em patentes, estão a ser desenvolvidos para criar novos produtos de origem marinha com aplicações na saúde (antibióticos, anti-obesidade, antimalaria, nutracêuticos), cosmética, têxteis e agricultura.

Em Matosinhos, além do CIIMAR está ser construído um polo de investigação e inovação ligado ao mar, financiado pelo PRR, o HUBAZUL – Matosinhos, com um polo no Terminal de Cruzeiros onde será instalado o Biobanco Azul do CIIMAR e outro no terminal Logístico da APDL onde será construído um edifício gerido pelo INESC-TEC com a colaboração do CIIMAR, APDL, INEGI e Fórum Oceano e que contará entre outras valências com um sistema de tanques de grandes dimensões para testes de equipamentos marítimos e o Centro de Mergulho Científico do CIIMAR.

Só protegemos e cuidamos aquilo que conhecemos e por isso teremos de continuar a apostar no reforço de estratégias de desenvolvimento da literacia do Oceano. Todos somos necessários.

Fotografia de destaque: © Unsplash

Este artigo foi originalmente publicado na edição n.º 43 da Smart Cities – abril/maio/junho 2024, aqui com as devidas adaptações.

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