A tecnologia sempre esteve diretamente conectada com a evolução das cidades. Desde os primeiros assentamentos humanos há milénios, da Revolução Industrial até hoje, as inovações tecnológicas impactaram o modo como nos movemos, vivemos, trabalhamos e nos divertimos no espaço urbano.
A qualidade de vida do cidadão também sempre foi a ponta do iceberg do conceito das Cidades Inteligentes e da aplicação das novas tecnologias em soluções que gerem maior eficiência e resolvam problemas normalmente causados por nós mesmos.
A inovação, conceitualmente, é a criação de algo novo ou melhoria de algo já existente, em que haja resultado económico, o que a difere da invenção por si só.
Em outubro deste ano teremos, no Brasil, novas eleições para presidente da República, senadores, deputados estaduais, deputados federais e governadores e o tema das Cidades Inteligentes e da inovação atinge o seu ápice – pelo menos, até o presente momento – nos planos de governo e nos discursos destes candidatos no Brasil. Por todo o país, há uma onda muito importante de disseminação do conceito e de casos de estudo, tendo em vista a realização da primeira edição do Smart City Expo Curitiba – edição brasileira do maior evento de cidades inteligentes do mundo da FIRA Barcelona – realizada em março deste ano pela empresa brasileira iCities.
Mais do que o discurso, os gestores públicos precisam de evoluir rapidamente para a prática, implementando soluções e, mais do que isso, viabilizando práticas de contratações de forma lícita, transparente, ágil e desburocratizada, como, por exemplo, por meio das PPPs – Parcerias Público Privadas. Projetos piloto em menor escala também são uma oportunidade em que as pessoas vão aumentar sua percepção de que uma cidade inteligente é viável e soluções inovadoras podem ser vistas já no presente e não num futuro distante. Muito em breve, viveremos no Brasil um boom de projetos de bairros inteligentes, ruas inteligentes e condomínios inteligentes.
O futuro, porém, também deve ser pensado e inventado baseado no conceito smart. Novos regulamentos também devem ser planeados, já que passamos por mudanças rápidas nas cidades precipitadas pela tecnologia. Vale a pena imaginar como será a cidade inteligente conectada do futuro – e o impacto associado que ela terá na nossa vida quotidiana. Imagine um dia típico na vida de um cidadão, neste futuro hipotético, que acorda na sua casa conectada com inteligência artificial, automatizando tudo, desde a preferência de temperatura até os níveis de luz, monitorização da saúde e muito mais – e a escala para a cidade como um todo.
As cidades estão começando e continuarão a integrar o dinamismo tecnológico nas operações municipais, desde o transporte até a reparação de infraestrutura. Os backends desses sistemas nem sempre são aparentes para o utilizador final – mas, à medida que a integração das tecnologias das smart cities se torna mais visível na nossa vida diária, podemos começar a ver mudanças em grande escala nas nossas cidades.
Veículos elétricos ficaram em evidência na recente greve dos camionistas no Brasil, a qual demonstrou claramente a nossa dependência na matriz energética dos combustíveis fósseis. Ainda no tema da mobilidade urbana inteligente, as nossas estradas e os dados que eles fornecem poderiam criar ambientes onde os semáforos atuais se tornam obsoletos com a implementação de soluções baseadas na Internet das Coisas, assim como todo o sistema de estacionamento público. O tráfego em si torna-se numa coisa do passado, e as cidades podem, mais uma vez, ser para pessoas ao invés de para os carros, pois diferentes modos de transporte funcionam em conjunto, integrando diferentes modais.
Mais do que o discurso, os gestores públicos precisam de evoluir rapidamente para a prática, implementando soluções e, mais do que isso, viabilizando práticas de contratações de forma lícita, transparente, ágil e desburocratizada.
Pensando ainda mais longe, podemos imaginar como a própria crise de segurança que o país vive deve ser impactada com o conceito das smart cities. Tecnologia de reconhecimento facial, integradas com centros de monitorização e controlo poderiam ajudar a transformar a segurança nas cidades. Ao mesmo tempo, a cidade inteligente do presente pode ser mais segura com redes de iluminação pública que usam sensores embutidos para detectar tiros ou acender suas luzes durante emergências – e a maior integração desses sensores permitirá que as cidades recolham informações de qualidade do ar, humidade e temperatura. Cidades por todo o Brasil onde o conceito de smart cities já está mais consolidado vem realizando PPPs de iluminação pública inteligente, minimamente trocando as lâmpadas por LED com sistemas dimerizados e tele-gestão.
As fontes de energia podem ser completamente renováveis no país e também na cidade inteligente do presente. Temos, no Brasil, abundância de sol e vento para a energia solar e eólica, além de fontes alternativas como a biomassa e o próprio biogás proveniente de aterros sanitários.
O Brasil também vive o auge da consolidação das startups e de todo o ecossistema que o circunda. Empreendedores com um novo modelo mental descobrem grandes oportunidades em desenvolver soluções que impactem a vida dos cidadãos e das cidades, em setores como saúde, segurança, educação e mobilidade urbana. Gestores públicos que defendem a causa do empreendedorismo de impacto e geram mecanismos de incentivo a todo este ecossistema certamente conquistarão muita simpatia. As parcerias com startups fornecem muitos benefícios para as cidades, dando às cidades acesso a resolver problemas públicos complexos.
Tudo isso se baseia na premissa de que as tecnologias podem ajudar a melhorar a vida das pessoas nas cidades e quem dominar estes temas nestas eleições, souber como explicá-los e viabiliza-los terá um grande diferencial para atrair eleitores. É importante lembrar que cidades inteligentes são um processo e não um estado final e a tecnologia é um meio e não um fim em si só, portanto, trata-se de um processo contínuo e uma política de continuidade.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.