Preparar o futuro da mobilidade é procurar potenciar não só uma maior conectividade entre meios de transporte, mas também, e sobretudo, potenciar uma gestão integrada da informação, num processo a que designamos de Internet of Things (IoT) e que engloba toda a rede de transmissão de dados entre veículos, edifícios, infraestruturas e objetos, de forma totalmente autónoma.

A IoT é frequentemente entendida como a base de uma cidade inteligente, no entanto, o sucesso não advém da inovação tecnológica, apesar da sua significativa contribuição. Inteligência artificial, veículos autónomos, cloud computing, entre outros conceitos, são importantes componentes de inovação, mas a eficiência de uma cidade obtém-se através de um planeamento urbano integrado, que proporcione a conectividade dos seus diversos componentes, monitorizando o sistema em tempo real e atuando just in time para o melhorar.

Considerando que os novos padrões de consumo instam a que o consumidor deixe gradualmente de ter a posse sobre os veículos, alugando-os sempre que for necessário, o renting automóvel, aliado à automatização, nunca viu um futuro tão próspero.

Uma cidade inteligente depende da flexibilidade de adaptação à mudança e da promessa de integrar no seu planeamento os seguintes princípios: mobilidade inteligente, que engloba a gestão da rede de transportes; economia de recursos, reduzindo a pegada de carbono; inovação e desenvolvimento, criando condições para o desenvolvimento de negócios com maior potencial de crescimento; participação ativa para envolvimento da população; smart governance, com gestão integrada e transparente da informação e recursos financeiros; e smart living, através da promessa de trabalhar por uma melhoria da qualidade de vida, com mais segurança, conforto e conveniência (Smart Cities – Concepts, Architectures, Research Opportunities, Rida Khatoun e Sherali Zeadally, 2016).

A mobilidade inteligente atua sobre a rede de transporte de uma cidade, que resulta da necessidade das pessoas se deslocarem de um ponto para outro. Custos elevados com os sistemas de transporte resultam no decréscimo de competitividade, razão pela qual é fundamental apostar fortemente na eficiência da rede, seja através da utilização de meios mais económicos e ambientalmente responsáveis, seja também pela redução de outras componentes como o preço dos combustíveis ou da eletricidade.

A multimodalidade é uma resposta eficaz, permitindo que os diferentes meios de transporte coabitem numa lógica de complementaridade. O comboio, metro ou elétrico são meios de transporte reconhecidos como mais eficientes, contudo, as infraestruturas associadas apresentam pouca permeabilidade à mudança. São especialmente importantes para trajetos que não apresentem flutuações no tempo, devendo ser complementados por outros meios, como veículos elétricos, sistemas de car e bike sharing, percursos pedonais, entre outros, que permitam colmatar as alterações necessárias à mobilidade local.

No futuro, os veículos autónomos poderão resolver as exigências de flexibilidade a nível local. Quem não gostaria de ter um carro que nos deixa num determinado lugar e estaciona sozinho? Os sistemas de smart parking são hoje uma realidade e deixarão em breve a fronteira do estacionamento assistido, evoluindo para um sistema que informa o utilizador sobre onde é possível estacionar nas proximidades ou que estaciona de forma autónoma depois de transportar os passageiros. Considerando que os novos padrões de consumo instam a que o consumidor deixe gradualmente de ter a posse sobre os veículos, alugando-os sempre que for necessário, o renting automóvel, aliado à automatização, nunca viu um futuro tão próspero.

Os veículos autónomos têm potencialidades que vão muito além dos sistemas de smart parking, como a parametrização do fluxo de passageiros para adaptar em tempo real a oferta de veículos na cidade ou selecionar trajetos mais eficientes de acordo com o tráfego registado. Os Connected Autonomous Vehicles (CAV) irão revolucionar a forma como observamos a mobilidade e o caminho está já a ser trilhado, não só ao nível do desenvolvimento dos carros, mas também da criação de infraestruturas. Exemplo de iniciativas relevantes nesta área são projetos como o UK Cite, que procura equipar 40 quilómetros de rodovias entre Coventry e Warwickshire, no Reino Unido, com a tecnologia Vehicle-to-everything (V2X), automatizando veículos através de uma rede de telecomunicações.

O Reino Unido ocupa a 5ª posição no index de investimento em veículos autónomos, publicado pela consultora KPMG. Na liderança está a Holanda, seguida de Singapura, Estados Unidos da América (EUA) e Suécia. A Holanda é o país que tem as infraestruturas mais preparadas e o segundo país onde a mentalidade da população está mais alinhada para a adopção dos novos veículos. Em parte, contribui o facto de ter um index elevado de start-ups relacionadas com o desenvolvimento de tecnologia de veículos autónomos, recentes parcerias público-privadas que estão a acelerar a investigação e a existência de uma faculdade de mobilidade inteligente, a High Tech Campus Eindhoven.

Portugal tem ainda um longo caminho para percorrer, contudo, os sinais são muito positivos. Em destaque, está o entendimento entre Portugal e Espanha para a criação de dois corredores rodoviários equipados com tecnologia móvel 5G, entre Porto e Vigo e Évora e Mérida, bem como o anúncio de um funicular não tripulado em Viseu. Em Cascais, foi feita uma demonstração com veículos autónomos e serão também brevemente realizados dois testes em Lisboa, de nível 3 e 4, que poderão abrir portas à alteração do enquadramento legal português, para permitir que o nível de autonomia suba para 5, ou seja, prescindindo de alguém a bordo. São projetos muito relevantes e que posicionam o nosso país na vanguarda da inovação, pois ficar fora da corrida significa hipotecar o futuro da construção das cidades do futuro.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.