A Wavecom, empresa especializada em comunicações wireless, com uma forte componente de Integração e Desenvolvimento, tem sabido aproveitar o know-how e expandir os seus produtos e serviços além-fronteiras. A Smart Cities quis saber as razões para o sucesso desta empresa e, para isso, falou com os responsáveis da Wavecom, Nuno Marques e Mário Rui Santos.

 

O que faz a Wavecom em Portugal e no mundo?

A Wavecom é uma empresa de engenharia, especializada em comunicações wireless, com uma forte componente de Integração e Desenvolvimento, que cria soluções à medida das necessidades dos clientes.  Fundada em 2000, a primeira internacionalização ocorreu nos finais de 2007, para Cabo Verde. Tratou-se de um projecto decorrente de concursos internacionais, contemplando ligação de 12 municípios à rede de banda larga do Estado, envolvendo assim interligação de três ilhas cabo-verdianas via ligações por microondas. Com projectos realizados em várias partes do mundo, a Wavecom já implementou mais de duas mil ligações em quatro continentes, estendendo-se por vários segmentos, desde a instalação de redes de cobertura Wi-Fi, até à interligação de parques eólicos através da comunicação wireless, redes suportando a telegestão das águas, a logística de Portos Marítimos e de Aeroportos, Hospitais, Universidades, Transportes e empresas de uma forma geralA empresa, que resultou do espírito empreendedor de quatro jovens licenciados em Engenharia Electrónica e Telecomunicações da Universidade de Aveiro, assume desde a sua génese a inovação na tecnologia e nos modelos de negócio como o factor diferenciador no mercado, e tem gerado marcas e spin-offs, que, como empresas independentes, são participadas pela WPART SGPS (a accionista totalitária da Wavecom). A GoTelecom, a FineSource e, mais recentemente, a Go Wi-Fi são exemplos de empresas criadas para dar resposta às áreas abrangentes, e que reflectem bem a evolução do negócio. Paralelamente, a Wavecom participa em marcas (fabricantes) para sectores verticais: Wavesys; Parkware; CitiBrain, RProbe. A nível territorial a Wavecom está presente em Cabo Verde, Angola, Moçambique e Espanha, tendo ainda realizado projectos em países como Brasil, Jamaica, Roménia, Itália, Inglaterra, Guiné-Equatorial e China.

Como empresa portuguesa sentem dificuldades em abraçar os mercados externos?

Sim, claro. Desde 2007, temos feito um esforço acrescido para nos posicionarmos nos mercados externos. A dimensão do mercado português não prepara para que, naturalmente, as empresas tenham sucesso em mercados internacionais. Este é um processo demorado e com resultados incertos. O mais importante é termos a estratégia correcta, e, para isso, é preciso resiliência face aos mais que prováveis, primeiros insucessos. Nesta área, o apoio do Estado podia ser mais efectivo, nomeadamente, no que toca à consultoria e apoio ao desenvolvimento de negócios nesses países.

Como vêem o momento das smart cities em Portugal?

Estamos numa situação muito aproximada ao que se passa na maior parte dos países da Europa. Existe muito pouca coisa feita em termos de criação de urbes que facilitem a vida dos cidadãos. Tal como no resto do mundo, os responsáveis das cidades e as empresas despertaram há pouco tempo para esta tendência, e começam a assimilar o conceito e a projectar as possibilidades e oportunidades que daí advêm. É um facto que existem entidades que são pioneiras e que se destacam por já apresentarem iniciativas concretas, tais como a CM Águeda com tudo o que tem feito ao nível de e-government municipal, ao nível das comunicações e serviços ao cidadão sobre uma camada de comunicações, da mobilidade, da iluminação pública. Por outro lado, recordamos a iniciativa da CM Porto ao nível da monitorização ambiental e das comunicações veiculares, integrando transportes públicos e de um vasto conjunto de municípios e regiões que, desde 2003 – 2004, tem apostado no Wi-Fi como forma de criar um meio de comunicação privilegiado para os cidadãos e visitantes, aportando um conjunto de aplicações e informações que melhoram a qualidade de vida e experiência de visita. Do ponto de vista das empresas, existe uma fileira que se começa a criar de empresas portuguesas, fornecedoras de soluções para o conceito de smart cities, nas mais diversas áreas e aí consideramos que Portugal tem uma boa oportunidade.

Como é que as infra-estruturas de comunicação se tornaram fundamentais para o desenvolvimento de projectos inovadores em smart cities?

É difícil pensar em aplicações smart para as cidades que não pressuponham uma componente de comunicações, ou seja, as comunicações estão quase omnipresentes nas várias aplicações smart em cidades. Em boa verdade, alguns dos paradigmas de aplicações smart, só são possíveis com o avanço das comunicações, nomeadamente IoT. Vejamos o caso dos sensores e actuadores associados a parking, lixo, água, etc., que existirão aos milhões e que têm de ser acedidos por comunicação remota, não estando alimentados e com autonomias de vários anos… É um enorme desafio conseguir este tipo de cenário, mas estamos lá e isso é graças à tecnologia de comunicações de baixo consumo energético e alcance elevado, em simultâneo com baterias de nova geração e/ou meios de geração de energia diversos (fotovoltaico, piezoelétrico, RF harvesting…). Por outro lado, a cidade dos conteúdos vídeo de alta definição, do entretenimento multimédia, do gaming (vide Pokemon Go), das redes sociais, criam dinâmicas de lazer e de negócio e bem-estar social, requerendo a banda larga e a mobilidade. Existem muitas oportunidades a este nível e não há dúvida que as comunicações são estruturantes e dinamizadoras de tudo o resto.

Quais os desafios e dificuldades?

Manter o foco ao mesmo tempo que se investe na inovação. Acompanhar as tendências tecnológicas das gerações futuras é uma prioridade para a empresa, por isso, investe constantemente em I&D. Cada vez mais, o mercado nacional e internacional está munido de empresas que tentam sobreviver e obter vantagens competitivas. Desta forma, a Wavecom aposta também na criação de parcerias com empresas tecnológicas consolidando assim a sua posição no mercado, face à concorrência, tornando-se mais forte no mercado concorrencial.

Quais os objectivos para os próximo anos?

Tornar a Wavecom uma empresa ibérica, com recursos complementares e, ao mesmo tempo, autónomos nos dois lados da fronteira. Em simultâneo, continuar a desenvolver produtos inovadores que permitam à Wavecom agregar valor para os seus clientes e ter sempre uma vantagem competitiva face aos demais players.

 

*O artigo foi publicado, originalmente, na edição #12 da revista Smart Cities. Aqui, com as devidas adaptações.