Habitar em densidade num contexto de emergência pandémica é hoje uma nova realidade a ter em conta para a definição do modelo de cidade.

Os modelos de planeamento têm procurado dar resposta às necessidades das actividades humanas através da densificação e intensificação do uso do solo nas áreas urbanas, procurando limitar a sua expansão sobre os territórios naturais.

Diferentes soluções têm sido testadas na procura de aumentar a resiliência das cidades face às ameaças dos efeitos da alteração climática. Outras abordagens de adaptação a fenómenos migratórios e de dificuldade no acesso a recursos essenciais, como água e alimentos, têm conduzido a um aumento da densidade nas áreas urbanas.

No entanto, a imposição de um real contexto de isolamento social em ambiente urbano leva-nos a questionar os pressupostos que até hoje temos sobre o viver nas cidades. O distanciamento físico, o acesso a produtos alimentares e o aumento da tensão social obrigam-nos a pensar se o caminho até agora seguido é o mais acertado. Sentimos que a cidade compacta não se apresenta com capacidade e condições para responder a situações de emergência como seja as de saúde pública. De um modo imediatista, todos acabamos por concordar.

“(…) o conhecimento e a informação em tempo real aumentam as condições para um apoio e suporte mais rápido e de proximidade. É essa proximidade que permite que as cidades com maior densidade consigam respostas mais eficientes em todas as acções do tipo colaborativas”.

Todavia, se considerarmos que as cidades mais compactas possibilitam uma maior conexão e que a densidade acompanhada da utilização da tecnologia nos assegura outras funcionalidades que a distância não garante, verificamos que tal não é verdade.

A proximidade física é, já hoje, mais reduzida quando nos ausentamos através dos sistemas digitais que nos permitem transportar, em tempo real, informação, som e imagem, e que garantem uma comunicação e condições para trabalhar à distância sem que tal obrigue a deslocações e a consumos de tempo e energia. Esta facilidade é tanto maior quanto mais fácil e digital for. Ora, a densidade associada à conectividade que se procura numa smart city permite maior acesso à informação, à diminuição das necessidades e de tempos de deslocação e a uma redução de consumos de energia. O resultado é um aumento de tempo disponível, uma maior produtividade e mais tempo para convívio familiar e social.

E não é só o cidadão que beneficia da densificação das cidades. A gestão e monitorização permitidas sobre a forma de utilização e de manutenção do espaço público, dos equipamentos e das infraestruturas possibilitam a existência de dados em tempo real que se suportam na conectividade de sistemas e tecnologias de informação. O uso de big data para uma melhoria da eficiência da operação e da prestação de serviços urbanos contribui para o aumentar da competitividade das cidades, assegurando, em simultâneo, um reforço do sentimento de inclusão e de proximidade.

Em situações de emergência como a que é hoje vivida no planeta, esta conexão é difícil de alcançar em áreas de baixa densidade, nas quais os serviços e infraestruturas têm maior dificuldade de operar. Por sua vez, se consideramos que, através de um simples smartphone, podemos, hoje, controlar os sinais básicos de vida, adquirir produtos e serviços e até trabalhar, verificamos que a integração desse enorme número de dados e informação possibilita alcançar as condições para uma regulação triangulada entre os níveis nacional/local/cidadão.

Logo, o conhecimento e a informação em tempo real aumentam as condições para um apoio e suporte mais rápido e de proximidade. É essa proximidade que permite que as cidades com maior densidade consigam respostas mais eficientes em todas as acções do tipo colaborativas.

A possibilidade de tratar dados em módulos geograficamente limitados garante que as acções de resposta são mais eficazes. Daí que, mesmo num cenário de pandemia, as áreas urbanas mais densas continuem a ser uma opção válida para alcançar um modelo de desenvolvimento sustentável das sociedades.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.