A produção global de biocombustíveis tem vindo a crescer a bom ritmo, tendo passado de 16 mil milhões de litros em 2000 para cerca de 110 mil milhões em 2013. De acordo com a Agência Internacional de Energia, os biocombustíveis podem vir a ser, num futuro próximo, uma séria alternativa à utilização de combustíveis fósseis no setor dos transportes, nomeadamente o gasóleo e a gasolina, no sentido de reduzir a dependência energética e de reduzir as emissões de dióxido de carbono.
Desde 2009, a aposta centrou-se nos chamados biocombustíveis convencionais, ou de primeira geração, o que se revelou um erro. Existem muitas dúvidas sobre se estes biocombustíveis contribuem, efetivamente, para a redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) no setor dos transportes. Produzidos a partir de culturas agrícolas, os biocombustíveis de primeira geração estão também associados a graves impactes sociais e ambientais, incluindo pressões sobre a apropriação de terrenos agrícolas, competição com a produção de alimentos e influência sobre o preço dos mesmos ou ainda a extensa desflorestação e o uso intensivo dos solos, sobretudo, em países em desenvolvimento.
Veja-se o caso do óleo de palma. Atualmente, a Europa é o segundo maior importador mundial, sendo que quase metade desta matéria-prima é usada para produzir biodiesel, com um impacto climático 80% superior ao gasóleo fóssil. Para além disso, convém não esquecer que a sua produção implica o derrubar de vastas áreas de floresta tropical (um sumidouro de carbono) para dar lugar a plantações de palma.
Há, portanto, que retroceder e aprender com os erros do passado. Isso implica escolher outros caminhos para descarbonizar os transportes e alcançar as metas europeias em cima da mesa para 2020 (de 10% de energias renováveis no setor dos transportes em 2020 e de redução de 6% das emissões de GEE nos combustíveis), no âmbito das Diretivas sobre Energias Renováveis (RED – Renewable Energy Directive) e Qualidade dos Combustíveis (FQD – Fuel Quality Directive), respetivamente.
Um desses caminhos passa, precisamente, por acabar com o investimento nos biocombustíveis de primeira geração e apostar noutras fontes de energia renovável para descarbonizar o setor dos transportes e cumprir a meta acima referida. Aqui inclui-se não só a mobilidade elétrica, mas também o incentivo aos biocombustíveis avançados, não provenientes de culturas agroalimentares, de que podem muito bem ser exemplos, a nível nacional, a produção de bioetanol a partir de resíduos de alfarroba e de bagaço de azeitona (ainda em fase de investigação) ou a produção de biodiesel a partir de gordura animal (já à escala industrial).
A publicação deste artigo integra-se numa parceria entre a revista Smart Cities e a Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, com vista à promoção de comportamentos mais sustentáveis.