Por: Ana Pinela, Senior Innovation Consultant e Project Leader, Beta-i

O mundo tem enfrentado diversos desafios nos últimos anos, como o rápido crescimento populacional, a pandemia de COVID-19 e a guerra na Ucrânia, que têm impactado de forma significativa diversos setores da economia. Além disso, surgiram necessidades urgentes, como, por exemplo, a produção de energia sem o aumento das emissões de carbono, a pesca e aquacultura sustentáveis de forma a evitar a exaustão dos stocks pesqueiros, entre muitos outros.

Embora tenham sido feitos avanços significativos na tentativa de solucionar esses problemas, como o crescimento do setor de energias renováveis, ainda não é suficiente. É cada vez mais evidente a necessidade de encontrar soluções a uma maior escala. E é nesse contexto que a Economia Azul surge como uma possível resposta, abrangendo todas as atividades relacionadas com os mares e oceanos. Através de avanços tecnológicos e novas abordagens, estão a ser exploradas oportunidades para a produção de energia renovável e aquacultura offshore, bem como a criação de tecnologias mais eficientes e sustentáveis na exploração dos recursos marinhos.

As energias renováveis offshore têm sido destaque nesse contexto, impulsionando a transição energética para um futuro mais sustentável. A energia eólica offshore é um exemplo notável, aproveitando a força dos ventos em alto-mar. Em Portugal, por exemplo, o projeto WindFloat desenvolveu tecnologia inovadora com sistemas flutuantes de moinhos de vento, permitindo a exploração do potencial eólico do mar em profundidades superiores a 40 metros. Essa abordagem tem-se mostrado altamente eficiente, aproveitando os ventos mais consistentes e intensos encontrados em alto-mar.

Outras fontes de energia offshore também merecem destaque: a energia das ondas e das marés, que apresentam um enorme potencial, convertendo o movimento das ondas e correntes marítimas em energia; e a energia térmica oceânica, que utiliza a diferença de temperatura entre as camadas superficiais e profundezas do oceano para gerar eletricidade por meio de ciclos termodinâmicos. Embora haja inúmeros projetos nestas áreas, a maioria encontra-se na fase de investigação e desenvolvimento, prototipagem e piloto. Estas fontes de energia são estáveis e confiáveis, fornecendo uma fonte previsível e constante de energia renovável, e oferecendo uma alternativa promissora para suprir a crescente demanda energética.

A Economia Azul também oferece soluções para impulsionar o desenvolvimento sustentável da pesca e da aquacultura. Segundo o Blue Economy Report de 2022, da Comissão Europeia, esse é um dos setores que mais tem crescido e continuará a crescer. Graças às inovações e ao aumento da investigação por parte dos cientistas, é agora possível reproduzir espécies através da aquacultura que antes não eram viáveis. Além disso, a Biotecnologia Azul está em ascensão, permitindo o desenvolvimento de novos produtos e materiais a partir da biodiversidade marinha, como por exemplo, a criação de alternativas ao plástico, feitas a partir de algas e totalmente biodegradáveis.

Outra abordagem inovadora na aquacultura sustentável, é a aquacultura multitrófica integrada, que procura aproveitar os benefícios da interação entre diferentes espécies, que se complementam ecologicamente num sistema de cultivo, reduzindo a necessidade de alimentação artificial e minimizando os impactos ambientais, uma vez que os resíduos alimentares de uma espécie são reciclados para se converter em recursos (fertilizantes, alimentos) para outra espécie. A aquacultura multitrófica integrada também pode incluir o cultivo de algas marinhas, que desempenham um papel importante na absorção de nutrientes e no sequestro de carbono, ajudando a mitigar as mudanças climáticas.

Essas abordagens inovadoras têm o potencial de responder à crescente demanda do mercado por produtos pesqueiros e marinhos, garantindo ao mesmo tempo a conservação dos ecossistemas marinhos e a sustentabilidade dos recursos. Elas requerem cooperação entre governos, comunidades locais, setor privado e organizações de investigação para promover a adoção de práticas responsáveis e o desenvolvimento de políticas e regulamentações adequadas.

A Economia Azul oferece um mar de oportunidades para abordar desafios globais, como a necessidade de produzir energia limpa e garantir a segurança alimentar por meio da pesca e aquacultura sustentáveis.  Embora existam obstáculos a serem superados, a inovação nesse setor tem avançado significativamente, proporcionando soluções promissoras. As empresas também devem olhar para a Economia Azul como uma oportunidade para impulsionar o seu crescimento e aumentar as suas receitas. Com uma abordagem sustentável, colaborativa (de “win-win”), em que a exploração dos recursos marinhos está aliada à conservação dos ecossistemas e da biodiversidade marinha, podemos construir um futuro mais resiliente e equilibrado para as próximas gerações, e no qual a exploração dos oceanos não é sinónimo de destruição, mas sim de desenvolvimento sustentável e regeneração.

Fotografia de destaque: © www.edpr.com

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.