De 28 de Maio a 27 de Novembro, Veneza é palco de mais uma Bienal. Mário Caeiro, investigador e docente na ESAD.cr, esteve na 15ª Exposição Internacional de Arquitectura e, durante estes meses, leva-nos numa visita guiada exclusiva por esta mostra.

LifeObject, a participação israelita, examina a influência dos paradigmas biológicos no mundo da arquitectura, explorando a fusão destas duas práticas aparentemente divergentes. A verdade é que, com a evolução tecnológica estão a formar-se novas relações entre o Homem e o ambiente, invalidando a distinção binária entre natureza e cultura, o que obriga a reenquadrar o ambiente arquitectural enquanto parte de uma ecologia (mais) profunda. Israel aborda a questão mostrando elaborações teóricas e experiências práticas, desde metodologias biomiméticas de investigação até aplicações de conceitos biológicos a situações de planeamento urbano. A abordagem em nada é inocente, dada a narrativa da Nação.

Eminentemente transdisciplinar, a postura do Pavilhão de Israel procura demonstrar o argumento essencial através de uma instalação central, no caso um ‘ninho de pássaro’ artificial ocupando grande parte do espaço com uma intrincada estrutura realizada com recurso a tecnologias digitais. Para o curador Yael Eylat Van-Essen, o exercício cabe nas recentes revoltas anti-antropocêntricas do filósofo Sloterdijk, que em Spheres (1998-2004) encara a arquitectura como componente inseparável da definição do que constitui um ser humano. Se temos então de internalizar o facto de que já não existe um ‘lá fora’ externo ao nosso espaço de vida, então a arquitectura é hoje, como nunca, um assunto extremamente sério, para usar um termo de Bruno Latour, também citado neste projecto.

Assim, Israel contribui para a cartografia de Aravena com uma perspectiva nem optimista nem pessimista, mas de alguma forma realista face às possibilidades de alguma tecnologia de ponta para a reconfiguração transdisciplinar do meio urbano. A metáfora do ninho, nesse aspecto, tem especial interesse: Um ninho de pássaro está estruturado para maximizar a flexibilidade da sua forma e absorver choques. É caracterizado pela simultânea redundância e diversidade dos componentes (diferentes tipos de ramos, de vários comprimentos, espessuras e flexibilidade) e a sua capacidade para absorver e responder ao feedback. Note-se porém, ainda no seio desta metaforologia, que a resiliência é caracterizada por um certo número de contradições: Paradoxalmente, à medida que uma entidade se torna resiliente, a sua necessidade de se alterar cresce. E então, relativamente aos elementos da diversidade, a redundância e a experimentação imbuem a resiliência com traços de crescimento e criatividade.

Como se vê, no seu mix de processos especulativos – espaços em que a criatividade contribui para a resiliência da própria comunidade projectual –, ao reunir palavras-chave e soundbites das mais diversas proveniências, incluindo a ‘frente’ da ciência – a Bienal serve para actualizarmos conhecimentos operativos que cada País, em certa medida, relaciona com o seu ‘melhor’  e o seu ‘pior’, numa espécie de parlamento universal de projectos.

 Foto: ©Agata Wiorko