Nos últimos anos, temos assistido a um borbulhar de iniciativas em Portugal para fomentar o espírito empreendedor, entre elas os programas de aceleração de ideias e produtos.
Uma aceleradora é um programa que oferece aos seus participantes as condições para desenvolver a sua ideia, através de mentoria e workshops, em troca de uma parte do seu capital. Nos Estados Unidos, existem inúmeras aceleradoras que tiveram um importante contributo no desenvolvimento de empresas de referência, como a Y Combinator, aceleradora da Dropbox e AirBnB, e a TechStars, que acelerou uma pequena empresa de transporte chamada Uber. Vemos até grandes empresas como a Ford, Disney e General Electric a organizar programas nestes moldes.
Apesar da maior parte dos programas de aceleração contar principalmente com projetos e startups do reino digital, começamos também a ver programas exclusivamente dedicados a produtos de hardware, como é o caso do Techfounders na Alemanha, ou do Buildit na Estónia.
Este tipo de iniciativas, para além de incentivar aspirantes a empreendedores e amantes da tecnologia a criarem os seus próprios produtos destinados ao mercado, serve também como modo de aproximar estudantes e recém-graduados ao sector industrial, transformando teses ou projectos universitários em produtos capazes de conquistar o mercado.
Num país como Portugal, em que, de acordo com dados de 2014 do World Bank, se registam 6.9 candidaturas a patentes por 100.000 pessoas, comparando com o valor de 59.5 na Alemanha, este tipo de programas pode ser um passo fundamental para aproximar o conhecimento nas faculdades às grandes indústrias, em vez de ficar arquivado em formato de tese ou trabalho.
Poderá não ser a única forma, mas considero bastante útil e relevante a realização de eventos de aceleração para ideias de hardware. Temos uma quantidade imensurável de talento e conhecimento nas nossas universidades, em áreas desde a gestão à engenharia, arquitetura e sociologia. Na verdade, um dos outros grandes pontos a favor deste tipo de iniciativa é o modo como obriga pessoas de diferentes contextos académicos a trabalhar em equipa, num caminho que vai contra a tendência actual em Portugal, de fragmentação das universidades em diversos pólos, levando à perda das oportunidades que surgem do cruzamento de áreas distintas.
Para conseguirmos uma economia mais competitiva, não duvido da utilidade da aposta em iniciativas estimulantes neste registo. Trazer as empresas, não só as multinacionais mas também as locais às faculdades, de preferência com grupos de alunos heterogéneos, pode levar a ganhos de inovação a nível de produto e de produção imensuráveis. Resta haver um esforço conjunto, das faculdades, empresas e especialmente dos alunos, para concretizar esta visão.