Empresas, Estado, terceiro setor e cidadãos. A economia circular oferece uma série de estratégias cuja aplicação pelos diferentes atores económicos pode resultar na redução de impactos ambientais, mas também no aumento de eficiência na gestão dos recursos disponíveis. Uma realidade que deve ser especialmente aprofundada na matriz das cidades inteligentes.

Estudos recentes revelam que o impacto económico da economia circular na União Europeia será de cerca de 1,8 biliões de euros até 2030. Ora, as cidades consomem mais de 70% dos recursos do planeta, que concentram mais de metade da sua população e que representam 80% do PIB mundial. As áreas urbanas são então aquelas que apresentam os maiores desafios e benefícios na implementação de um modelo de reutilização e reaproveitamento de recursos.

Nesta equação, o impacto do digital e da tecnologia na economia circular é enorme. Do ponto de vista do planeamento, a utilização de dados para a melhoria das operações, potenciado pela inteligência artificial e pelo machine learning, está cada vez mais presente na indústria. Com a Internet of Things, a utilização de sensores de baixo custo potencia um controlo detalhado, evita perdas desnecessárias e potencia a eficiência das operações. A ligação cada vez mais direta entre produtores e consumidores elimina desperdícios e permite a otimização das cadeias logísticas. Até a fabricação 3D poderá ter um impacto importante nesta perspetiva. As impressoras 3D alimentadas através de plásticos reciclados são um exemplo disso mesmo.

“As áreas urbanas são então aquelas que apresentam os maiores desafios e benefícios na implementação de um modelo de reutilização e reaproveitamento de recursos”.

Por outro lado, um ponto raramente debatido é a aplicação do conceito de economia circular aos ativos digitais da cidade. As cidades devem procurar otimizar a eficiência dos seus recursos e tornar a utilização dos seus ativos digitais e tecnológicos cada vez mais circular. A potencialização de plataformas de integração de sistemas e a utilização de dados que fomentem a interação entre as diversas organizações da cidade é um novo paradigma de redução, reutilização, reciclagem e recuperação. Neste contexto, a cidade inteligente e circular tem cinco passos a dar:

• Mapear os ativos digitais da cidade e avaliar o custo da sua implementação e operação. Através deste mapeamento encontram-se oportunidades de sinergia e de recuperação de informação com potencial impacto positivo nas operações da cidade;

• Definir uma política de utilização de recursos de tecnologias de informação responsável e eficiente, capaz de eliminar duplicações de dados, sistemas e recursos;

• Apostar na criação de plataformas capazes de integrar dados dos diferentes sistemas da cidade, permitindo uma visão holística sobre a informação pública e a reutilização destes importantes ativos digitais;

• Disponibilizar dados aos cidadãos, que irá fomentar os ecossistemas de inovação e permitir a criação de valor com base nessa informação;

• Criar programas de tomada de decisão com base em dados. Importa sensibilizar os decisores públicos para a importância da informação na tomada de decisão.

Esta será uma nova perspetiva para a gestão da cidade e dos seus ativos físicos e digitais. A economia circular afinal também pode aplicar-se a bits e bytes.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.