Depois de maturada durante vários anos, a candidatura da Arrábida a Reserva da Biosfera da UNESCO foi finalmente apresentada e aguarda agora pela aprovação e decisão final, que só deverá acontecer em setembro de 2025. Até lá, o trabalho de “convergência” continua e “é uma mais valia gigantesca”, diz Sofia Martins, Secretária-Geral da Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS), em entrevista à Smart Cities.
Para a responsável da AMRS, o reconhecimento da UNESCO significará o reforço da imagem e notoriedade deste território, mas também uma porta aberta a oportunidades de financiamento que o território poderá aproveitar.
Uma das primeiras ideias de valorizar o território da Arrábida surgiu com a candidatura a Património Mundial da UNESCO, que acabou por cair. O que torna diferente esta candidatura a Reserva da Biosfera da UNESCO e quais os seus principais objetivos?
Os peritos da UNESCO consideraram que ela não cumpria todos os objetivos e por isso não ela não foi sujeita à fase final. Mas ficou um imenso e valioso acervo que foi muito útil para esta candidatura. A candidatura da Arrábida a Reserva da Biosfera é manifestamente diferente. Ela procura valorizar a harmonia entre os valores naturais e o desenvolvimento económico, cultural e social. As Reservas da Biosfera têm como função a conservação da biodiversidade, mas também a preservação e o incremento do desenvolvimento do território de forma respeitosa pelos valores em presença.
Que vantagens poderá trazer a aprovação da candidatura, além do reconhecimento e visibilidade internacional que irá oferecer?
A visibilidade internacional é muito importante, porque acrescenta responsabilidade na gestão deste imenso património que temos nas mãos, mas acrescenta também credibilidade para o percurso que temos pela frente. Os nossos resultados poderão ser amplamente divulgados e isso é muito motivador. Também a integração da Arrábida na Rede Nacional e Mundial de Reservas da Biosfera é uma oportunidade ímpar de trazermos para o nosso território boas experiências e outras oportunidades de financiamento.
Entre as ideias já apresentadas está a criação de um laboratório de desenvolvimento sustentável para o território. Em que consiste?
O laboratório, como o nome indica, é um espaço de trabalho onde aprofundamos o conhecimento, onde pomos em prática novas metodologias ou abordagens de intervenção, sempre em constante observação e monitorização para garantir que o desenvolvimento das atividades que usam recursos do território não só não afetam forma permanente o património natural do mesmo, como ainda dão um contributo significativo para reforçar a sua biodiversidade, garantindo um legado para as gerações futuras.
A cimenteira da Secil ou as pedreiras de Sesimbra poderão ser um obstáculo à candidatura?
A indústria extrativa é uma das atividades económicas que se desenvolvem no nosso território, como a pesca, a agricultura, a pastorícia, a vitivinicultura, turismo da natureza, como tantas outras. Esta atividade foi licenciada há muitos anos, é regulamentada e acompanhada quer ao nível local e nacional, e tem responsabilidades impostas na recuperação paisagística e da biodiversidade. Esta candidatura é diferente, porque reconhece o conjunto dos valores em presença, mas também de um potencial que, através da implementação de um plano de ação, deverá ser concretizado. E por isso, pensamos que as atividades existentes não serão só por si um obstáculo.
Já o facto de juntar os três municípios da região (Setúbal, Palmela e Sesimbra), além da Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e da Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS), torna-se uma mais valia perante a UNESCO?
É uma mais valia gigantesca para o território. Esta plataforma de trabalho permitiu juntar as principais entidades com competências na gestão do território e aprovar um caminho futuro comum. Se é de reconhecer que todas elas já intervêm diariamente na gestão deste património natural, o facto é que sentimos todos que nos faz falta esta estrutura para sermos mais consequentes. Certamente que o compromisso destas entidades com a candidatura, e com a gestão da futura Reserva da Biosfera, é um imenso contributo para a aprovação da candidatura.
A decisão final só deverá ser conhecida em setembro de 2025. O que é preciso fazer até lá e, já agora, depois dessa data, caso a candidatura seja aprovada?
Até à decisão final teremos de continuar o trabalho que vimos fazendo, de convergência, entre as entidades promotoras da candidatura, mas também com todas as outras entidades que que usufruem do território, para desenvolver essa ampla plataforma que no futuro terá a grande responsabilidade de projetar a Reserva da Biosfera da Arrábida como um dos melhores exemplos. Depois da candidatura ser aprovada, é continuar a trabalhar muito, para implementar o Plano de Ação e obter resultados que nos permitam afirmar a Arrábida no panorama nacional e internacional pelas suas qualidades naturais e culturais, mas também sociais.