Num país que desperdiça todos os anos mais de 100 mil milhões de litros de água por ano, é fundamental encontrar formas mais eficazes de combater as fugas na rede. Uma delas poderá passar pelo FiberLoop, um projecto desenvolvido por duas empresas de Coimbra – a FiberSight e a The Loop – que utiliza o potencial da fibra óptica para ajudar a optimizar a gestão das redes de água.

Com esta tecnologia portuguesa, torna-se possível identificar em tempo real onde começam as fugas, com uma precisão de um metro, evitando que as perdas fiquem por detectar durante muito tempo. “Já existem algumas tecnologias para ajudar a reduzir perdas de água, mas esta é mais uma que vem providenciar mais pontos de medida e dotar a rede de uma inteligência muito útil”, disse à Smart Cities Tiago Neves, o criador do FiberLoop.

Este começou por ser um projecto para o maior acelerador de partículas do mundo, existente no laboratório europeu para a pesquisa nuclear (CERN), na Suíça, onde o investigador fez o doutoramento. Baseado em sensores com fibras ópticas para a detecção de temperatura e humidade em acções ambientais, facilmente foi adaptado para o sector da água porque “quando se mede humidade também se mede água”. “E ela é um bem tão escasso e essencial, que em Portugal e na Europa tem números de perdas verdadeiramente assustadores. O nosso país desperdiça todos os anos [o equivalente a] várias barragens do Alqueva”, acrescentou Tiago Neves.

Para ele, o FiberLoop traz vantagens a três grandes níveis, a começar “pelas poupanças de água para os municípios, que assim, não desperdiçam tanto dinheiro”. Além disso, “é possível detectar as fugas quando elas têm início, ou seja, quando começa a pingar, ao contrário do que acontece actualmente em muitos casos, em que só são detectadas quando já estão à superfície e danificaram todo o chão à volta”. A estes benefícios junta-se também a poupança de energia associada, por exemplo no tratamento, no transporte ou no armazenamento da água.

Além disso, esta tecnologia tanto pode aproveitar a instalação de tubagens novas, como recorrer à chamada técnica da toupeira mecânica, muito utilizada pelas empresas de telecomunicações em zonas de rede mais difíceis. Isto significa que “quando elas passarem as fibras que levam a internet até às nossas casas, também podem passar uma fibra extra que vai servir para monitorizar as fugas de água”.

Atualmente, o FiberLoop já tem um projecto piloto a decorrer, com cerca de 100 metros de fibra óptica enterrados no solo, encarregue da validação da tecnologia em ambiente real. Ainda este ano, deverá arrancar uma instalação com um cliente, que permita a validação com um distribuidor de água. O município pioneiro da instalação destas fibras deverá ser anunciado em breve.

Depois, o objectivo é que em 2024 seja aberta uma ponte de investimento, para ajudar a empresa a crescer e mesmo a apostar na internacionalização. Tiago Neves acredita que o produto já esteja devidamente implementado no mercado em 2025, aproveitando a oportunidade gerada pela norma da União Europeia que obriga os países a reduzir consideravelmente os níveis de perdas de água, a partir de 2026.

Para além deste projecto, o FiberLoop também tem potencial de aplicação noutras áreas, nomeadamente a agricultura, em que a fibra óptica poderá ajudar a monitorizar a humidade do solo e a concentração de água para optimizar os processos de rega.

Fotografia de destaque: Shutterstock
Foto 2: FiberSigth