Identificar os factores que influenciam o desempenho das entidades gestoras da água e, consequentemente, a sustentabilidade do sector, foi o desafio de um estudo realizado em Portugal sobre a eficiência operacional das estações de tratamento de águas e estações de tratamento de águas residuais.
Os resultados estão reunidos no artigo científico “Drivers of water utilities’ operational performance – An analysis from the Portuguese case”, publicado no Journal of Cleaner Production, e assinado por António L. Amaral, investigador do CeBER e do Centro de Engenharia Biológica da Universidade do Minho e docente do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra e Rita Martins e Luís C. Dias, investigadores do Centro de Investigação em Economia e Gestão (CeBER) da Universidade de Coimbra (UC) e docentes da Faculdade de Economia da UC.
Neste trabalho, os autores destacaram três conclusões principais, a começar pela importância da dimensão das entidades gestoras. Isto porque, como disse Rita Martins à Smart Cities, “foi possível constatar que as entidades maiores têm um melhor desempenho em factores como a energia consumida e a energia produzida, o pessoal alocado, os gastos ou o volume de água tratada ou reutilizada”. Como tal, é recomendada uma continuidade na política de agregação das entidades gestoras de menor dimensão, de forma a reduzirem ou partilharem custos fixos e a obterem ganhos de escala. E se esta não for viável, que haja, pelo menos, a partilha de algum tipo de recursos. “Por vezes, em algumas áreas do país, não há agregação porque esta não é tão apelativa para o modelo de negócio. Mas é preciso que haja alguma coesão e solidariedade entre regiões, de forma a fazer aproximar aquilo que são os modelos mais e menos eficientes”, defende a investigadora. Uma orientação, de resto, em linha com o que é preconizado pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) e pelo Plano Estratégico para o Abastecimento de Água e Gestão de Águas Residuais e Pluviais 2030 (PENSAARP 2030), da Secretaria de Estado do Ambiente.
Maior foco no controlo das perdas de água e na alocação de pessoal é outra recomendação do estudo, que detectou, mais uma vez, uma grande influência na relação entre a dimensão e o desempenho dos operadores nos parâmetros operacionais analisados. Para Rita Martins, vários factores explicam os níveis de perdas de água tão elevados no nosso país, mas a questão das infraestruturas sobressai entre as demais: “Como temos um nível de recuperação dos gastos relativamente aquém do que seria desejável, isso significa que não estamos a recuperar os custos todos dos serviços e, muito menos, a cobrar valores que permitam uma adequada reabilitação destas infraestruturas”.
A equipa de investigação destaca, igualmente, o papel das políticas de certificação do sector, particularmente ambiental e energética para a melhoria dos outputs. Até porque, verificou-se que também neste campo as maiores entidades – que atribuem mais importância a este factor – são, em geral, as que têm um desempenho melhor. Aliás, este trabalho científico constatou que as entidades certificadas e as de maior dimensão “se encontram maioritariamente relacionadas com um modelo de gestão do tipo concessão e predominantemente de tipologia urbana”, explicam os autores do estudo.
Para estas conclusões, foram analisados dados de relatórios anuais produzidos pela ERSAR e publicados entre 2015 e 2019, relativos a entidades dos sectores do abastecimento de água potável e do saneamento de águas residuais que operam estações de tratamento de água para abastecimento (cerca de meia centena) e/ou estações de tratamento de águas residuais (um pouco menos de centena e meia). As entidades que não operam nestas valências não foram consideradas no estudo.