O estado atual das massas de água e a vulnerabilidade de Portugal à seca e à escassez de água evidenciam a necessidade da gestão eficiente dos recursos hídricos, garantindo a sua qualidade e evitando a sua degradação, como forma de não comprometer nem colocar em risco a sua disponibilidade futura. A crise hídrica atual só pode ser combatida através de uma gestão e de um consumo sustentáveis, da otimização dos processos produtivos e do incremento da reutilização da água, contribuindo para a transição para uma economia circular.

Uma abordagem circular do recurso água permite reduzir a pegada hídrica das cidades ao mesmo tempo que promove a resiliência, a economia, o crescimento e a sustentabilidade. A par disso, uma boa governança da água pode contribuir fortemente para a implementação de políticas públicas, ao promover o envolvimento ativo dos diferentes níveis de governo e demais stakeholders.

Liderando pelo exemplo, os municípios parceiros do projeto CApt2 – Circularidade da Água: Por Todos e Para Todos têm já em curso diversas iniciativas que simbolizam o compromisso, a eficácia e a eficiência do uso da água.

O Laboratório da Paisagem de Guimarães, em colaboração com outras entidades locais, está a implementar um projeto-piloto de reutilização da água das Piscinas Municipais de Guimarães, habitualmente rejeitada nos processos de limpeza de filtros e de regeneração, para limpeza e lavagem de arruamentos do Centro Histórico da cidade. Também no âmbito da reutilização de água, o município de Loulé procedeu à instalação de um sistema de tratamento de águas residuais dos balneários, na Escola EB 2/3 Padre João Coelho Cabanita, para posterior aproveitamento na rega dos espaços cultivados.

Promovendo a eficiência hídrica, o município de Oeiras tem implementado um sistema de automação e telegestão de rega em espaços públicos, que permite a monitorização remota e controle em tempo real. Já em Ponte de Sor, foi criada a empresa intermunicipal Água do Alto Alentejo, com o objetivo de providenciar à sociedade serviços públicos de abastecimento e saneamento de águas, respeitando princípios de universalidade e equidade no acesso e de eficiência e qualidade de serviço.

Evidenciando a participação ativa do setor privado, em Oliveira de Frades, o projeto Verd’Água é único pelo seu sistema de aquaponia para a produção de alimentos que combina a aquacultura (produção de animais aquáticos) e a hidroponia (cultivo de plantas sem solo). O envolvimento da comunidade é promovido em Mértola, através da iniciativa À Noite no Mercado, um momento de conversa e partilha com os produtores, no qual são comercializados alimentos locais e sazonais, produzidos de forma sustentável.

No âmbito da promoção do património natural, o projeto LIFE Águeda tem como objetivo a renaturalização dos rios Águeda e Alfusqueiro, através da mitigação de pressões hidromorfológicas, de forma a assegurar a melhoria do estado ecológico. Em Lagoa, nos Açores, a Casa da Água Trail Point surge como espaço informativo de caráter turístico que apoia os pedestrianistas da Rota da Água, um trilho que valoriza o recurso hídrico, numa perspetiva de educação ambiental.

A adoção de soluções inovadoras e de digitalização das infraestruturas urbanas de água permite tornar os serviços mais eficientes e sustentáveis ao mesmo tempo que potencia a construção de cidades mais inteligentes e resilientes.

Artigo de autoria e com o apoio de: Laboratório da Paisagem de Guimarães

O texto acima é da responsabilidade da entidade em questão, com as devidas adaptações.