Reduzir o desperdício da água e otimizar os recursos hídricos do país deve ser uma prioridade inadiável, dizem as associações ambientalistas no Dia Nacional da Água, que hoje se assinala. É o caso do GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente), que identifica as perdas de água como um dos principais problemas a enfrentar.

Para o presidente desta Organização Não‑Governamental de Ambiente, Rogério Ivan, “na distribuição há perdas enormes de água, em alguns casos superiores a 30%, que dão origem a custos brutais, muitas vezes não refletidos na fatura de água, mas que acabam por sê-lo nos orçamentos do Estado e dos municípios”. Para o ambientalista, é fundamental “haver mais informação junto dos decisores políticos e técnicos sobre as metodologias e tecnologias disponíveis e depois fazer-se um trabalho integrado com o Governo no sentido de poderem financiar estas medidas necessárias”. “O custo da inação é, claramente, superior e a longo prazo”, lembra Rogério Ivan, sem deixar de sublinhar que vários municípios já começaram a desenvolver projetos de mitigação das perdas de água, alguns com resultados promissores.

No mesmo sentido, também a ZERO afirma que “reduzir essas perdas é essencial para assegurar tanto a sustentabilidade ambiental quanto a viabilidade económica” dos setores urbano e agrícola. Em comunicado, a associação apela ao Governo para não ultrapassar o que chama de “linhas vermelhas” e defende “a necessidade de uma mudança urgente e sustentável na gestão dos recursos hídricos em Portugal”.  Além disso, critica a sobre-exploração dos recursos hídricos, apontando o dedo a dois grupos: “o uso descontrolado, sobretudo em práticas agrícolas e no setor turístico, esgota os aquíferos e aumenta a vulnerabilidade do sistema”.

Rogério Ivan, do GEOTA, revela a mesma preocupação e dá como exemplo as monoculturas intensivas, muitas vezes em locais de seca e escassez. “Isso acaba por colocar uma enorme pressão naquilo que são os recursos disponíveis. Basta olhar para as explorações intensivas no Alentejo que requerem imensa rega, quase contínua, e que depois acabam por causar enormes danos a nível das bacias hidrográficas”, concretiza.

“Portugal enfrenta uma crise hídrica, amplificada pelas alterações climáticas e pela má gestão dos recursos”, considera ainda a ZERO, considerando que propostas como a transferência de água entre bacias hidrográficas e a construção de novas barragens podem “desequilibrar os ecossistemas e aumentar a competição” por recursos hídricos escassos.

Perante esta realidade, a associação reafirma que é crucial garantir que os custos dos serviços de água são distribuídos de forma justa entre todos os setores, de acordo com os princípios de sustentabilidade, e mostra preocupação com o plano de uma “autoestrada da água” para transferir recursos até o Algarve, que “levanta sérias questões quanto à viabilidade ecológica e económica”.

Mesmo admitindo que “a gestão dos recursos hídricos em Portugal tem vindo a melhorar ao longo dos anos, em resultado de imensos investimentos em infraestruturas”, Rogério Ivan, do GEOTA, faz ainda questão de antecipar um dos problemas associados à localização do futuro aeroporto de Lisboa. Isto porque, explica o ambientalista, Alcochete conflitua “com o maior aquífero subterrâneo da Península Ibérica”. “Para se ter uma ideia, toda aquela bacia hidrográfica Tejo-Sado equivale a mais de cinquenta Alquevas. Mas essa questão foi desconsiderada, expondo muito daquilo que são os enormes desafios da gestão de recursos hídricos porque, em primeiro lugar, temos de valorizá-los e trata-los como um tesouro”, conclui, em entrevista à Smart Cities.

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