Falar da necessidade de digitalização pode parecer algo ultrapassado, mas não no setor da água. Estamos, aos dias de hoje, perante uma operação e um serviço altamente complexos, mas que ainda não conseguiram retirar da tecnologia todo o seu potencial, tendo em vista uma gestão mais eficiente de recursos ambientais, técnicos, humanos e financeiros.
Apesar de ser na vertente de operação que a tecnologia tem sido mais aproveitada pelas empresas do setor, os resultados são ainda parcos. Se ainda temos, nas redes portuguesas, desperdícios anuais de 184 mil milhões de litros de água, temos um sinal claro de que não estamos a fazer uma monitorização assertiva, com recurso à tecnologia, da água que tratamos e transportamos até aos consumidores.
Esta monitorização pode passar, por exemplo, por mecanismos simples como sensores, aplicados ao longo das redes. É uma solução que exige investimentos relativamente modestos, mas que tem uma importância central, já que nos dá a conhecer padrões de utilização e consumo. Ora, conhecendo os padrões, é possível também perceber, de forma automática, alterações (afluências indevidas, consumos ilícitos, fugas, roturas, etc.) e atuar rapidamente para colmatá-las. É assim que se começa a combater o desperdício.
Implementar este tipo de soluções na operação seria já um passo importante. De recordar que, em Portugal, existem 15 entidades gestoras que nem sequer apresentam, ao regulador, resultados sobre as perdas que têm nas redes – começar por conhecê-las, através deste tido de medições, seria um primeiro avanço.
Apesar de altamente relevante, diria que esta utilização da tecnologia é insuficiente e, até, redutora. Se, no abastecimento, queremos eliminar desperdícios e promover eficiência, por que não temos os mesmos objetivos para outras esferas?
Acredito que o setor necessita, com urgência, de uma visão 360º, mais alargada e transversal, sobre o valor que a tecnologia pode aportar a outras áreas, como a gestão de cliente ou de recursos e o planeamento e controlo das empresas.
Sim, a tecnologia pode ajudar-nos a processar quantidades impressionantes de informação– desde a contratação à comunicação personalizada com o cliente – tornando os processos mais rigorosos e satisfatórios para ambas as partes (empresa e cliente).
Pode também ajudar-nos a compreender e gerir fluxos de trabalho, dimensionando a alocação de recursos técnicos e humanos a diferentes tarefas, tornando-as mais produtivas e mensuráveis.
De forma geral, a tecnologia, nomeadamente, a inteligência artificial, tem o importante papel de simplificar informação de forma rápida, seja qual for área em que é implementada: operação, comercial ou engenharia.
É, portanto, um apoio fundamental e fundamentado para apoiar decisões de gestão mais informadas. E é através dessas decisões que cada empresa conseguirá tornar o seu serviço mais rentável e qualitativo, aportando real valor não só a si própria, mas também a todo o setor do abastecimento de água, que clama (ainda que tardiamente) por inovação.
Então, por que estamos ainda a ignorar as potencialidades da tecnologia? Estará relacionado com o facto de, só no continente, existirem 140 concelhos onde as entidades gestoras destas infraestruturas têm receitas próprias (tarifas) inferiores aos seus custos, colocando-as numa situação em que todos os investimentos são adiados eternamente à espera de uma qualquer subsidiação?
O texto acima é da responsabilidade da entidade em questão, com as devidas adaptações.