Recycle Geeks recebem computadores velhos, reparam-nos e vendem-nos a preços mais competitivos. Parte do dinheiro da venda é doado a associações.  

João Botelho e João Pinto partilham o nome próprio, a amizade desde os tempos de meninos e o gosto por computadores. Fundaram a Recycle Geeks há três anos, empresa do Porto na qual colocam em prática princípios de vida: reduzem o desperdício a partir da reparação de computadores estragados e criam valor para quem doa os equipamentos e para o bem da sociedade, ao reservarem parte do dinheiro da venda para uma instituição de solidariedade social. 

As contas dos primeiros três anos dos Recycle Geeks garantem alento: processaram quase duas toneladas de computadores que iriam para o lixo e distribuíram mais de três mil euros por instituições de solidariedade social. 

Além de particulares, João Botelho e João Pinto recebem doações de empresas. “Muitas têm material informático parado que não podem deitar fora e esta é uma forma de valorizar um produto que está encostado”, explica João Botelho. “Confiam que se o material não for reparado é reciclado”, diz o economista, contando que muitos dos computadores, alguns com mais de 20 anos, ainda funcionam quando lhes chegam à oficina da loja, na Rua do Amial. E que ainda há procura para este tipo de equipamento, designadamente de empresas que têm computadores com características específicas para correr sistemas operativos antigos e que compram máquinas para peças ou para garantir futuras substituições. 

Após receberem doações de computadores e “tablets”, João Botelho e João Pinto avaliam o que pode ser feito para aumentar o valor dos produtos. Quando não é possível reparar, vendem as peças para reparação de outros computadores. Caso não haja partes em bom estado ou com valor, os equipamentos são entregues para operadores de reciclagem de produtos eletrónicos. 

Reparados ou em peças, os produtos são vendidos no site da Recycle Geeks ou e na loja física, no número 505 da Rua do Amial. Os lucros da venda são partilhados com o doador que pode escolher qual a instituição de solidariedade social que receberá parte do valor. 

O fim social é muitas vezes determinante para a entrega de equipamentos por particulares. Os computadores inutilizados acumulam-se nas casas das pessoas, por acreditarem que o valor que conseguiriam na venda não compensa o trabalho ou, outras vezes, por desconhecimento sobre o destino a dar a equipamentos no ocaso da vida. “O fim social do projeto permite que possamos receber o material sem ter de definir um valor. E como parte da venda é para a caridade, as pessoas já chegam motivadas e não se importam com o preço da venda”, detalha João Botelho. 

A ideia de negócio da start-up começou a ser forjada nos anos da pandemia. João Pinto começou a disponibilizar online computadores para revenda “para estar entretido” durante o confinamento. Formado na área do audiovisual, sempre partilhou o gosto por computadores com João Botelho, colega dos bancos do Colégio Universal. A ideia para o negócio foi sendo trabalhada e quando participaram na competição ClimateLaunchpad tinham três vértices bem definidos: a Recycle Geek arranja e vende computadores estragados e partilha o lucro com o doador e a caridade. Arrecadaram o primeiro lugar do concurso com esta ideia. 

Foram selecionados como um dos dez projetos apoiados pelo Top 10 Startups for Triggers – Casa do Impacto, Santa casa da Misericórdia de Lisboa. Nessa altura “prepararam o modelo de negócio para fazer retomas” em empresas e associações, recorda João Pinto. 

Os anos de experiência como suporte informático de família e amigos aguçaram o engenho da dupla, que partilha conhecimento em tutoriais sobre reciclagem e reparação de computadores no YouTube. Participam também em várias iniciativas de repair cafés e dão formações, como o Reboot. Veja aqui a reportagem vídeo da Smart Cities sobre este projeto. 


Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 42 da Smart Cities – Janeiro/Fevereiro/Março 2023.