Afinal, como podem as cidades fazer as pessoas mais felizes? Charles Montgomery, urbanista e autor do livro “Happy City” tem procurado dar a resposta no terreno, ajudando cidades de todo o mundo a criar espaços públicos que melhorem o bem-estar e aumentem a felicidade dos cidadãos.

O canadiano falou sobre o tema com a Smart Cities, no âmbito do Smart City Expo Curitiba, realizado nesta cidade brasileira no final do mês passado, onde lembrou que é preciso construir cidades que promovam encontros positivos. Defensor da cidade de proximidade e crítico da escassez na habitação, defende que a massificação turística está a “envenenar a acessibilidade” e “a transformar algumas das nossas cidades em resorts”.

O que é uma cidade feliz e como criar cidades que façam as pessoas mais felizes?

Acima de tudo, uma cidade feliz é um lugar que cultiva relacionamentos humanos, fortes e positivos. Ou seja, uma cidade que é saudável e uma cidade que inclui todos.

Porque razão há uma ligação tão forte entre os lugares onde moramos e a nossa felicidade?

As nossas casas, os nossos bairros e as nossas cidades são máquinas comportamentais. Elas influenciam a forma como nos movemos, como nos sentimos e como nos tratamos uns aos outros. Portanto, precisamos ter muito cuidado quando projetamos esses lugares para garantir que eles nos unem para colaborar, brincar, amar, descontrair e cuidar uns dos outros.

Quais as cidades mais próximas do conceito de cidade feliz? Pode dar-nos alguns exemplos?

Todos querem saber qual é a cidade mais feliz do mundo. Não há um vencedor único, mas a cidade feliz vive um pouco em cada cidade. Posso dizer que a cidade onde estou neste momento, Curitiba [Brasil], é uma cidade que cultiva a felicidade, por exemplo, pelo seu excelente sistema de transporte rápido por autocarros que oferece mobilidade a mais pessoas.

Já Vancouver, no Canadá, produz felicidade ao dar a todos acesso à natureza. Paris está a criar felicidade ao converter as ruas à volta das escolas em parques e praças onde as pessoas podem reunir-se com segurança e sem medo de serem atropeladas por carros. E Viena está a gerar felicidade ao fornecer habitação pública acessível para mais da metade da população.

Numa entrevista à Smart Cities, em 2019, disse que, no século passado, “destruímos a vida social das nossas cidades”. Houve alguma melhoria desde então, ou sente que a situação piorou ainda mais?

Nos últimos cinco anos, aprendemos muito mais sobre como construir cidades mais felizes e saudáveis. E essas ideias estão surgindo. Elas estão se concretizando em cidades como a Cidade do México, Barcelona, Paris ou Nova York. No entanto, uma terrível nova doença tomou conta das nossas cidades, a doença da exclusão e da inacessibilidade na habitação.
Portanto, esse é o nosso novo desafio. Garantir que as pessoas que trabalham e estudam nas cidades possam realmente viver lá.

Tem afirmado que o turismo está a transformar as nossas cidades em resorts. Como reverter esta realidade?

De facto, o turismo está a transformar algumas das nossas cidades em resorts. Precisamos proteger a habitação para as pessoas que lá estudam e trabalham. Então, embora serviços como o Airbnb e outras plataformas de aluguer de curto prazo possam parecer um presente para os proprietários dos imóveis, precisamos proteger a habitação para as pessoas. Efetivamente, esses serviços estão a envenenar a acessibilidade das nossas cidades.

Que cidades estão melhor preparadas para o futuro?

A cidade que está a preparar-se mais estrategicamente para o futuro, neste momento, é Paris. Com a orientação do professor Carlos Moreno, Paris tem adotado o modelo da cidade dos 15 minutos, capaz de garantir que todos possam ter acesso às suas necessidades diárias através de uma caminhada de 15 minutos ou de um passeio de bicicleta. Isso significa que Paris está a fornecer cada vez mais comodidades e espaços públicos de alta qualidade nos diversos bairros da cidade. Devemos todos seguir o exemplo de Paris.

Na América do Norte, considero que Montreal é a cidade que podemos ter em atenção. A urbe canadiana tem reavaliado agressivamente a forma de usar o espaço público de maneiras que nutram uma comunidade mais forte. Todos os verões, uma dúzia de ruas em Montreal passam a estar abertas para as pessoas se conectarem e construírem um sentido de comunidade.