Os municípios de Castro Marim, Figueira da Foz e Óbidos e a junta de freguesia de Arroios foram ontem galardoados com o Prémio Nacional Mobilidade em Bicicleta, na categoria Autarquias e Freguesias, atribuído pela FPCUB – Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta. Numa cerimónia que teve lugar em Lisboa, no âmbito da Semana Europeia da Mobilidade, e que contou com a presença do secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro, foi ainda reconhecido o trabalho realizado na promoção da bicicleta em Portugal de mais nove entidades e cidadãos em quatro outras categorias.
Da XV edição do Prémio Nacional Mobilidade em Bicicleta da FPCUB, saíram premiados o Instituto Politécnico de Leiria, na categoria Instituições de Ensino, e a Chaparros – BTT Team Associação Santiago de Cacém, a Juvemar AFC – Associação Juventude de Marinhais – Secção de Cicloturismo “Os Cansados” e o Núcleo Cicloturista Clube Desportivo do Beato, na categoria Associações e Clubes, e, na categoria Entidades Públicas, a Região de Turismo do Algarve. No que se refere ao Activismo e Intervenção Social, o bloguer Eliseu Almeida foi um dos galardoados, a par dos músicos da Kumpania Algazarra. Por fim, na categoria Cidadania, Gonçalo Peres e Mário Meireles foram os dois nomes distinguidos.
2020: Ano de pandemia, ano da bicicleta?
No actual contexto pandêmico, a bicicleta foi um dos modos de deslocação considerado mais adequado e seguro por vários especialistas, incluindo a Organização Mundial de Saúde, para evitar o risco de contágio, já que permite o distanciamento físico, e contribuindo, ao mesmo tempo, para combater o sedentarismo acentuado pelo período de confinamento.
A par disso, a crise provocada pelo novo coronavírus e os seus impactos nas cidades foram encarados como um momento de oportunidade para repensar modos de vida e mudar paradigmas, incluindo o da mobilidade, que estava já em franca transformação nos últimos anos. Em resposta, assistiu-se a um maior interesse pela bicicleta e a tentativa de várias cidades de implementar medidas para facilitar o seu uso.
Apesar de este efeito ter também sido sentido em Portugal, com um aumento da procura por bicicletas e a criação de ciclovias temporárias em várias cidades portuguesas, é preciso investir ainda mais. “Este ‘boom’ da bicicleta e das infra-estruturas cicláveis deve ser aproveitado. É o momento ideal para a promoção do uso deste modo de transporte. Devemos aproveitar a oportunidade para nos aproximarmos de quotas modais de outros países da União Europeia. E isso deve ser feito através de uma estratégia a nível nacional e não apenas regional/local”, defendeu a FPCUB, numa posição pública divulgada ontem.
Segundo o galardoado Mário Meireles, que é Bicycle Mayor de Braga e presidente da Braga Ciclável, é preciso, hoje, responder a “uma sociedade cada vez mais exigente no que à mobilidade diz respeito”, e tal deve ser feito com a criação de “mais e melhores infra-estruturas” nos territórios.
O especialista lamenta que “essa verdade” não se verifique em todos os municípios portugueses. “São, aliás, muito poucos os que se esforçam para o fazer. Vemos Lisboa a liderar, e a antecipar os projectos que tinha, executando as ciclovias com recurso a uma intervenção mais leve – tinta e dissuasores – e assim surgiram as pop up bike lanes”, explicou à Smart Cities.
Nesta acção da capital portuguesa, o Bicycle Mayor de Braga encontra inspiração para deixar algumas recomendações às cidades portuguesas: “repintar as ruas e avenidas”. E explica como devem fazê-lo: “No espaço dedicado ao carro (estacionamento e circulação) que [os municípios] redefinam, com recurso a tinta e balizadores inicialmente, o espaço público, construindo aí ciclovias unidireccionais, criando vias Bus – se necessário – e dedicando o restante espaço ao automóvel. E, antes de mexerem no espaço das árvores ou dos passeios, olhem bem para o espaço automóvel. Há lá espaço para tudo! E se não souberem, tenham a humildade de perguntar, há muita gente disposta a ajudar. Há associações locais, nacionais, há federações, há investigadores, há muito conhecimento. Não pintem passeios de vermelho para dizer que têm ciclovias!”, conclui.