A maioria das câmaras municipais portuguesas usa tecnologias ou sistemas interconectados no âmbito das cidades e territórios inteligentes. De acordo com um relatório publicado esta semana pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), 213 das 308 autarquias nacionais, ou seja 69,2%, já recorre a sistemas e tecnologias interconectadas de forma inteligente. As restantes 95 ainda não o faz, o que corresponde aos restantes 30,8%, sendo que grande parte está localizada no interior do país.

Os dados, relativos a 2023, foram apurados a partir do Inquérito à Utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação nas Câmaras Municipais (IUTICCM), em que foi introduzido um novo módulo com questões que “permitiram construir e disponibilizar indicadores sobre esta temática em Portugal, incluindo os indicadores que constam na Estratégia Nacional para os Territórios Inteligentes (ENTI)”, refere a publicação “Cidades e Territórios Inteligentes 2023 – Câmaras Municipais”.

Alentejo e Interior Centro são duas das zonas do país com mais câmaras que ainda não utilizam tecnologias ou sistemas interconectados. Imagem: © DGEEC

A partir das informações fornecidas pelos municípios foi possível medir o pulso à forma como as autarquias recorrem a estes sistemas e tecnologias em cinco grandes áreas: mobilidade e acessibilidade; consumos; poluição e ambiente; relação com cidadãos e empresas; e capacidade de resposta.

No caso da mobilidade, o inquérito revelou que a maior parte das câmaras, 38%, aplica-as na disponibilização e localização de postos de carregamento de veículos elétricos, seguindo-se a gestão da mobilidade (21%) e o planeamento urbano (20%). Em matéria de consumos, destacou-se a gestão eficiente da iluminação pública (39% das câmaras) e na área da poluição e ambiente a rega inteligente (24,7%) e a gestão de resíduos (21%). Já no relacionamento com os cidadãos e empresas, 44% dos municípios utiliza estas tecnologias para a gestão das filas de espera e 42% em sistemas e plataformas de comunicação. Por fim, no que diz respeito à capacidade de resposta, a utilização foi mais reduzida, mas, ainda assim, foi referida a deteção e reação a desastres naturais ou tecnológicos (15%) e a prevenção de crimes (11%), por exemplo, através de câmaras de videovigilância.

Impactos e vantagens

A publicação disponibiliza outras informações detalhadas, como a perceção das câmaras municipais sobre o impacto resultante da aplicação destas soluções inteligentes. Por exemplo, mais de metade das autarquias que as utilizou indica um grande impacto no aumento da capacidade de resposta (59%), na redução de consumos (58%) e na melhoria do ambiente (52%). Pelo contrário, 23% afirma que não causaram impacto na melhoria da mobilidade e acessibilidade urbanas.

Este trabalho revela também que o planeamento integrado da implementação das cidades inteligentes trouxe, na opinião das autarquias, várias vantagens, como melhorar o suporte à tomada de decisão, proporcionar serviços públicos autárquicos inclusivos, sustentáveis e interoperáveis em todo o território ou otimizar a despesa no investimento em cidades inteligentes. Por sua vez, quando questionadas sobre os principais motivos que levaram à não implementação (ou limitação da aplicação), a maioria justifica-se com limitações de recursos humanos e competências digitais, inexistência de financiamento ou apoios e uma infraestrutura tecnológica inadequada, além de outros motivos.

O documento mostra ainda que pouco mais de metade das câmaras (51%) já disponibiliza aplicações móveis e que apenas 34% apresenta plataformas eletrónicas de participação cívica. Outros dados revelam que 37% já utiliza a Internet das Coisas (IoT) e que 30% fornece dados abertos.

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