O carro ainda domina, mas a bicicleta é uma opção que levanta cada vez mais interesse – esta é uma das conclusões que se podem tirar dos resultados do inquérito sobre mobilidade urbana realizado pela TOMI em várias cidades portuguesas. Os resultados foram conhecidos na passada terça-feira, durante a quarta edição do Moblab Congress, que teve lugar a partir do Museu do Carro Eléctrico, no Porto, num formato híbrido e que reuniu mais de uma centena de participantes.

©TOMI

Transportes, tecnologia, cidades inteligentes, investimento e sustentabilidade foram os temas que marcaram este evento anual dedicado à mobilidade inteligente, organizado pela IFE by ABILWAYS, com o apoio da câmara municipal do Porto, e no qual esteve incluída a realização do inquérito nos dispositivos TOMI. Num total de 190 respostas recolhidas em várias localidades portuguesas (Lisboa, Algarve, Angra do Heroísmo, Figueira da Foz, Águeda, Bragança, Évora e Tábua), foi possível apurar algumas conclusões sobre a mobilidade urbana: o automóvel particular continua a ser o modo dominante (87), seguido do metro/comboio (56) e da bicicleta (33), na terceira posição e superando o autocarro (4). Já quando se questiona sobre que melhorias os inquiridos gostariam de ver nas suas cidades, a mobilidade suave volta a destacar-se, com o maior número de respostas a dividir-se entre “melhores ciclovias” (90) e “[mais] frequência e horários de transportes públicos” (68).

A “falta de alternativas de transporte público” é a principal razão apontada (81) pelos participantes para utilizar um modo particular e a bicicleta surge como a segunda opção de escolha, caso não fosse possível optar pelo automóvel. O inquérito, cujos resultados foram apresentados por Sofia Neves durante o encontro, mostrou ainda que, entre os inquiridos, a “preocupação ambiental” é o principal factor para levar a uma mudança na mobilidade, com 103 respostas das 190 recolhidas.

Enquadrado na mobilidade, o evento abordou também a temática das cidades, que assinalaram o arranque e o encerrar deste congresso. Começando por dar o palco a “quem decide”, no primeiro painel, o evento reuniu representantes municipais à volta do tema “Governação Local: o grande motor da mobilidade”. Cristina Pimentel, vereadora de Transportes da câmara municipal (CM) do Porto, Miguel Gaspar, vereador da Economia e Inovação, Mobilidade e Segurança da CM Lisboa, Marco Espinheira, head of Future da CM Cascais, e João Paulo Gouveia, vereador de Transportes, Mobilidade e Inovação da CM Viseu, foram os convidados em destaque.

Já no cair do pano, no painel “cidades inteligentes são cidades resilientes”, a oportunidade foi a de conhecer experiências internacionais. Numa sessão que contou com a introdução de Ronaldo Valentim, da Bable, o italiano Alessandro Drago partilhou a experiência de gestão da mobilidade na capital italiana durante a pandemia. O responsável explicou como, através da criação de um website no qual se agregaram todos os dados possíveis de recolher na altura do surgimento da pandemia, foi possível compreender os novos padrões de mobilidade dos romanos e, assim, apoiar a tomada de decisões nas vagas de Covid-19 que se seguiram.

Da rede de transportes à tecnologia

No programa do Moblab Congress deste ano, a logística urbana, o futuro da mobilidade nas cidades, o impacto da pandemia e o transporte rodoviário e ferroviário dominaram o bloco dedicado às “redes de transportes”. Recordando que o “caminho é para as emissões zero”, Elsa Cunha Serra, da ACP Autos, apontou “o problema premente: actuar sobre o parque [automóvel] que existe”. Consciente disso, Francisco Ferreira, da associação ambientalista ZERO, sublinhou “transição” como a palavra-chave e lembrou que, apesar dos vários desafios existentes, como a necessidade de aumentar o número de postos de carregamento ou de descarbonizar a logística urbana, “não temos de ficar agarrados ao motor de combustão”. Na procura por novas soluções mais sustentáveis para a mobilidade dentro e fora das cidades, o responsável aponta a complementaridade necessária entre o automóvel e os transportes públicos. “Há uma nova realidade à qual o consumidor se vai ter de habituar – a complementaridade e a fazer contas, incluindo as de aquisição do automóvel –, mas [isto é algo] que vai demorar”, afirmou. Por sua vez, para José Oliveira, da Bosch Car Multimedia, “car as a service” é uma das grandes tendências para o futuro, sendo algo a que “a indústria se vai acomodar”.

No que se refere às novas tecnologias, o impacto de ferramentas como o 5G, analítica de dados ou o blockchain deram forma ao painel “Agenda e velocidade da tecnologia”. “Começamos hoje a ter mais capacidade tecnológica do que a procura primária exige”, observou Miguel Rodrigues, que aproveitou a ocasião para dar a conhecer a Yunex Traffic, a nova empresa da mobilidade não-ferroviária da Siemens. A experiência da plataforma AYR e o seu potencial para a redução de emissões nas deslocações foram apresentados por Catarina Selada (CEiia), enquanto Daniela Carvalho (TIS) deixou a questão sobre a aceitação da tecnologia: “estará esta a ser captada da melhor forma por todos os utilizadores?”. A especialista sublinhou que a “tecnologia tem um papel fundamental num mundo conectado”, reforçando a importância da “interoperabilidade” neste contexto.

Num dia completo de debate, no qual participaram 22 oradores, houve ainda espaço para falar sobre as autoestradas e a mobilidade urbana, com a intervenção de Teresa Santos, da Ascendi, e dos desafios da transição energética na mobilidade, trazidos à discussão por João Parreira, da CaetanoBus.

Aproveitando as potencialidades do formato digital e da plataforma interactiva, o Moblab Congress 2021 teve também uma área de exposição, onde foi possível “visitar” stands e conhecer melhor a actividade de algumas das entidades presentes. Esta foi a quarta edição do evento, que todos os anos debate a temática da mobilidade inteligente e que, desta vez, decorreu num formato diferente em virtude dos constrangimentos da pandemia. Embora ainda sem data marcada, a organização do Moblab Congress 2021 garante que o evento regressa em 2022.