Até 2030, a micromobilidade pode criar até um milhão de novos empregos na Europa e contribuir para reduzir as emissões anuais de CO2 em mais de 30 milhões de toneladas. As estimativas fazem parte de um relatório que avalia o impacto de uma abordagem “sistematizada e sustentável” à micromobilidade urbana, levado a cabo pelo EIT InnoEnergy, um dos principais motores mundiais para a inovação na área da energia sustentável.

Os dados foram obtidos através da extrapolação do comportamento da micromobilidade em Munique para outras 100 cidades europeias, incluindo Lisboa. Para tal, foram criados vários “cenários validados para criar projecções do impacto na implementação de micromobilidade eléctrica sistematizada, partilhada e conectada até 2030”.

No cenário mais optimista, o estudo estima que a micromobilidade possa representar uma quota de 15% de todas as viagens nas cidades (da actual <0,1%), com a potencial redução de emissões de CO2 a ultrapassar as 30 milhões de toneladas ao ano, mas esta não é a única vantagem: segundo o estudo, a criação de novos postos de trabalho directos e indirectos pode atingir a fasquia de um milhão até 2030. A par disto, há também que contar com o impacto no PIB, já que o relatório estima um aumento de 111 mil milhões de euros, como resultado de quase mil milhões de horas poupadas por ano devido à diminuição do tráfego nas estradas. Por fim, mas não menos importante, é ainda apontado mais um potencial: a mudança permitiria libertar uma área de cerca 48 mil hectares de terrenos no interior das cidades europeias, o equivalente a mais de quatro vezes a área total de Paris.

O estado da arte da micromobilidade

A análise levada a cabo pelo relatório identificou, no cenário actual, “grandes obstáculos à adopção da micromobilidade”. Entre eles, contam-se as “actuais limitações dos veículos”, o que os torna “inapropriados para actividades do dia-a-dia”. É o caso do transporte de mercadorias e/ou encomendas e o de transporte de crianças. A par da dificuldade logística, há também que contar com o facto de serem veículos de “curta duração de vida”, com elevados custos operacionais, nomeadamente no que diz respeito ao “carregamento e realocação”, sem esquecer a “falta de integração nos sistemas de transporte das cidades europeias”. Por tudo isto, actualmente, a micromobilidade apenas representa “menos de 0,1% de todas as viagens dentro das cidades”.

No caso específico de Lisboa, o documento dá conta de que a cidade tem investido na criação de ciclovias e aumentado o número de bicicletas partilhadas disponíveis. No entanto, refere Jennifer Dungs, responsável pela área de Energia para Mobilidade e Transportes da EIT InnoEnergy e autora do relatório, “a adopção deste tipo de mobilidade tem causado alguns problemas, particularmente no centro histórico da cidade, devido ao seu aumento exponencial e à falta de espaço”.

O relatório não identificou apenas problemas e aponta, também, soluções. No caso de Portugal, o EIT InnoEnergy recomenda a adopção de uma “abordagem sistematizada e com o apoio de todos os stakeholders envolvidos”. Isto é, uma “uma mudança para componentes de maior qualidade e manutenção mais acessível”, nomeadamente no caso dos motores e baterias, a par, sempre que possível, do recurso à produção local e à reciclagem dos componentes.

Há ainda sugestões muito concretas: o desenvolvimento e utilização de Purpose Built Vehicles (PBV, na sigla em inglês, ou Veículos para Fins Específicos, em português), e a utilização de plataformas analíticas para relocalização e carregamento dos veículos, e a implementação de regulação mais favorável para frotas de micromobilidade.

Os dados do relatório da McKinsey “Micromobilidade: Progresso da indústria, e um olhar mais atento ao caso de Munique” de Kersten Heineke, Benedikt Kloss e Darius Scurtu, de Novembro de 2019, foram utilizados como base para a análise do EIT InnoEnergy. A informação foi combinada com pressupostos validados para criar uma projecção relativa aos impactos potenciais de soluções de micromobilidade eclétrica sustentáveis e partilhadas, se implementadas em mais de 100 cidades europeias com mais de 300 mil habitantes até 2030.

O relatório pode ser descarregado aqui.