Um inquérito feito pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) à comunidade académica apurou que apenas 1,3% dos inquiridos utiliza a bicicleta nas suas deslocações diárias entre casa e os campi. Esta percentagem deverá aumentar muito em breve, isto depois de o IPLeiria ter recebido, em meados de Agosto, luz verde para a aquisição de 220 bicicletas eléctricas, no âmbito do Programa U-Bike. Em Leiria, as expectativas são de que esta acção não se fique por transformar apenas a mobilidade da comunidade académica, mas que tenha também efeitos em todo o concelho.
As 220 bicicletas da U-Bike – Operação Politécnico de Leiria vão ser distribuídas pelas diferentes escolas e infra-estruturas científicas do Politécnico (Leiria, Marinha Grande, Caldas da Rainha e Peniche). Para apoiar quem se move de bicicleta, a comunidade académica vai dispor também de postos de amarração com carregamento eléctrico para estas bicicletas em todos os campi e nos restantes edifícios associados ao Politécnico de Leiria, tais como residências e centros de investigação.
Todavia, antes disso, é preciso convencer alunos, docentes e outros colaboradores do Politécnico a optar pelas duas rodas. Nesse sentido, o IPLeiria e a câmara municipal (CM) de Leiria deverão trabalhar em conjunto, num “sistema de co-criação”, avança Sandra Macedo, chefe da Divisão de Obras Municipais da CM Leiria – “As experiências destes acções imateriais deverão ser partilhadas, no sentido de melhor e defender um bom conjunto de intenções. Um bom projecto e uma má promoção nunca deram bom resultado”, alerta.
Com isto em mente e segundo o IPLeiria, estão previstas sessões de sensibilização, acções de formação presencial e à distância sobre a condução de bicicletas eléctricas e sobre a adaptação da bicicleta à fisionomia dos utilizadores. Os interessados poderão ainda aprender dicas de manutenção rápida e cuidados rodoviários a ter em consideração quando se circula de bicicleta.
As bicicletas serão cedidas aos utilizadores por períodos de seis a 12 meses, sendo que a atribuição do veículo terá em conta o perfil do utilizador, nomeadamente a distância a que cada um se comprometerá a fazer por mês, o tipo de transporte habitualmente usado nas deslocações casa e escola/trabalho e se se trata de um estudante ou colaborador.
Carácter pedagógico e de contágio
Promover “uma cultura de mobilidade mais sustentável” tem sido uma constante do Politécnico de Leiria durante a última década, conta à Smart Cities o presidente desta instituição de ensino superior, Nuno Mangas Pereira. Por esse motivo, o U-Bike surgiu como uma oportunidade a não perder para “disponibilizar à comunidade académica os veículos capazes de a cativar para uma mudança de hábitos e proporcionar uma transferência de transporte para os chamados modos suaves”. Paralelamente, “a dimensão que os campi [do IPLeiria] têm nos núcleos urbanos em que se inserem fazem destes polos significativos de atracção e geração de viagens, posicionando-os de forma privilegiada para demonstrar o seu potencial nessas comunidades”, acrescenta o responsável.
Em Leiria, o U-Bike não existe sozinho e integra-se numa estratégia mais abrangente do concelho, cujo apoio, admite Nuno Mangas Pereira, foi determinante para a aprovação do U-Bike. “A motivação e o sucesso desta candidatura também se alicerçou no interesse e apoio das Comunidades Intermunicipais da Região de Leiria e do Oeste, dos Municípios onde o Politécnico de Leiria está presente – Leiria, Caldas da Rainha, Peniche e Marinha Grande -, e ainda dos municípios de Óbidos e Alcobaça e nas Agências Regionais de Energia, Enerdura e Oeste Sustentável”, refere.
Paralelamente, a câmara municipal de Leiria está a trabalhar no Plano Estratégico de Mobilidade e Transportes, que, depois de estar em discussão pública até meados de Junho, se encontra na sua segunda fase. “Temos várias propostas previstas na estratégia de intervenção”, revela Sandra Macedo, que, tendo em conta “os poucos hábitos de mobilidade ciclável” do concelho, espera que o U-Bike tenha um “carácter pedadógico”.
“Pretendemos insistir na osmose e contágio de atitudes que revelem boas práticas, mesmos que sejam ilhas de vivências, e contamos com a alteração de um indicador suave e oportuno – a transformação, lenta, da imagem urbana pela bicicleta”, afirma.
Na sua estratégia e no que se refere à Operação U-Bike, a CM Leiria vai a “inserir, na sua programação da rede ciclável este layer para reforçar, reformular a malha ainda descontínua”, explica Sandra Macedo. “O circuito académico poderá enriquecer a rede prevista ou reprogramar prioridades. E esta temática já está, sobre alguns critérios, inserida na estratégia para uma estrutura ciclável, urbana, em termos de oferta”, revela a responsável.
As 220 bicicletas eléctricas que vão chegar a Leiria representam um investimento total de 659.895,98 euros, co-financiado a 85% pelo PO SEUR – Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos. “O Politécnico de Leiria tem tentado, ao longo dos anos e à medida da sua disponibilidade financeira, tornar os seus campi mais atractivos também para o uso das bicicletas. Esta candidatura é, com certeza, a oportunidade de dar um salto quantitativo e qualitativo nesta área”, acredita Nuno Mangas Pereira.
Para além do Politécnico de Leiria, mais 14 institutos de ensino superior vão receber apoio para adquirir, ao todo, 3234 bicicletas e promover a mobilidade suave nas suas comunidades – Instituto Politécnico de Beja, Universidade de Évora, Universidade da Beira Interior, Universidade de Aveiro, Instituto Politécnico de Viana do Castelo, ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, Instituto Politécnico de Bragança, Instituto Superior Técnico, Universidade do Porto, Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, Universidade do Minho, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Instituto Politécnico do Porto. Até 2018, o U-Bike tem como meta alcançar 2 412 141 quilómetros percorridos pelas bicicletas adquiridas, num esforço que ambiciona gerar economias de energia de 166,34 tep (toneladas equivalentes de petróleo).