Desde esta semana que Portugal tem em pleno funcionamento um dos telescópios óticos mais avançados da Europa. Instalado na Base Aérea n.º 11, em Beja, este equipamento desenvolvido pela empresa portuguesa Neuraspace ajuda a gerir o tráfego espacial através da análise de imagens captadas a milhares de quilómetros de distância.

Um dos principais objetivos é fazer o seguimento e monitorização dos objetos no espaço, por exemplo satélites ou lixo espacial. Desta forma, permite
“acrescentar valor” à Plataforma de Gestão de Tráfego Espacial da Neuraspace, que atualmente monitoriza mais de 300 satélites, possibilitando “operações espaciais seguras e evitando colisões com detritos espaciais e outros satélites”, como disse em comunicado a empresa sediada no Instituto Pedro Nunes, em Coimbra.

A este valor comercial junta-se também uma elevada capacidade ao nível da defesa nacional e segurança aeronáutica, o que levou a Força Aérea Portuguesa (FAP) a juntar-se ao projeto. “Precisamos de saber, por exemplo, quando fazemos sair o nosso F-16, o que está por cima, o que nos está a captar, para manter também toda a operação discreta e tirar valor operacional”, afirmou o coronel Pedro Costa, diretor do Centro de Operações Espaciais da FAP, após a inauguração do telescópio, realizada esta terça-feira.

“A utilização do telescópio, em conjunto com as suas capacidades de inteligência artificial (IA), permitirá otimizar a análise de dados espaciais, transformando informações complexas em conhecimentos valiosos para fins de defesa e proteção civil”, acrescenta a Força Aérea Portuguesa.

Mas, na prática, como consegue ajudar a evitar colisões entre objetos espaciais? De acordo com o coronel Pedro Costa, tudo começa com as imagens que capta. “Estamos a filmar, a fazer pequenos filmes, durante a noite, que é o período no qual o sensor opera, dos objetos que refletem a luz e, com essa informação, com base num catálogo, permite-nos identificar o referido objeto”, explicou. Para isso, também é fundamental a análise de dados realizada por um software avançado que recorre a algoritmos de IA.

O diretor do Centro de Operações Espaciais da FAP revelou ainda que este equipamento foi pensado para captar imagens a distâncias entre os 300 e os 8 mil quilómetros, mas que já fez observações de quase 38 mil quilómetros. Isto porque embora tenha entrado em pleno funcionamento recentemente, antes passou por uma fase de testes que durou cerca de dois meses.

Envolvendo um investimento total de 25 milhões de euros, com financiamento do PRR, o telescópio nasceu de uma parceria entre a Neuraspace e a Força Aérea Portuguesa, mas o seu desenvolvimento contou ainda com a participação de outras empresas e instituições de ensino superior nacionais.

Imagem de destaque: © Neuraspace