A crescente presença de barcos turísticos para observação de golfinhos está a afetar a população destes animais marinhos. O estudo realizado pela Associação para a Investigação do Meio Marinho (AIMM) indica que o aumento do turismo está a ter impactos na comunicação e comportamento destes animais. O organismo pede mais fiscalização do Governo.  

O estudo publicado no final do ano passado, por um grupo de investigadores portugueses, concluiu que o aumento significativo de barcos para a observação de golfinhos está a afetar as populações locais de golfinhos-comuns e golfinhos-roaz. 

O estudo analisou o impacto do aumento dos níveis de ruído subaquático gerados pelas embarcações que, segundo a associação, está a provocar alterações ao nível dos sons que estes animais emitem. “Concluímos que realmente há mudanças significativas nas características dos assobios que estes animais produzem. O que pode acontecer é que, quando acabamos por ter muito ruído em determinadas áreas, muita pressão acústica, os animais podem procurar outras zonas que não aquelas que estão a habitar neste momento”, começa por explicar Joana Castro, diretora-executiva da AIMM. 

Os dados foram recolhidos durante o período mais alto de atividade turística, através da utilização de hidrofones que recolheram os sons emitidos pelos animais na presença e ausência das embarcações. 

Os resultados indicaram mudanças significativas nas características de frequência dos assobios, incluindo um aumento nas frequências iniciais, mas a associação alerta para outros riscos associados. “O turismo de observação de cetáceos no Algarve é uma atividade muito presente na vida destes animais. As alterações que podem ocorrer podem ser a nível comportamental, nos seus hábitos, nos hábitos de reprodução, nos hábitos de alimentação, para além das alterações a nível do comportamento acústico”, diz Joana Castro.   

As conclusões do estudo serão agora partilhadas com as empresas que operam neste setor turístico, no sentido de sensibilizar os operadores para os riscos associados. “Acreditamos que esta atividade pode realmente beneficiar a conservação das espécies locais, desde que seja feita de uma forma consciente e sustentável. Acreditamos que isso passa pela consciencialização das empresas sobre aquilo que a sua atividade representa”, acrescenta a investigadora. 

Para ajudar a solucionar o problema, a AIMM espera ainda um maior envolvimento das entidades fiscalizadoras. “Os grandes responsáveis são as entidades que regulamentam esta atividade, nomeadamente as entidades do Governo. As entidades têm que ser responsáveis pelas licenças que emitem e pela fiscalização de todas estas operações. Os operadores legislativos e de regulamentação têm que ser mais sérios em relação à exploração destes recursos naturais”, conclui a investigadora Joana Castro. 

Segundo a Associação para a Investigação do Meio Marinho, a região do Algarve é a zona com mais turismo de observação de cetáceos em Portugal continental, sendo que o setor assume grande importância económica no sul do país.  

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