“Não faz sentido haver sistemas de abastecimento de água com 50% de perdas. Para baixar as perdas para 20% não é preciso dinheiro, [por isso] não há desculpas para não baixar as perdas”. A afirmação é de Joaquim Poças Martins, secretário-geral do Conselho Nacional da Água, para quem o desperdício de água nos municípios é, sobretudo, um sintoma de “má gestão ou falta de dimensão”.

Durante a conferência “Encontro Fora da Caixa”, realizada em Faro na passada sexta-feira, o especialista defendeu que “é possível reduzir as perdas num ano ou dois, fazendo as coisas certas”. “Quem tem 40 ou 50 por cento de perdas, não tem legitimidade para aumentar tarifas. Eu não posso pedir que os meus consumidores vão pagar mais, para pagar a minha ineficiência”, afirmou o e ex-secretário de Estado do Ambiente. Lembrando que a perda de água média no país é de 37% e que metade das 300 entidades gestoras têm perdas acima de 20%, Joaquim Poças Martins apelou a uma gestão mais eficiente da água.

Já sobre a nova central de dessalinização do Algarve, a ser construída em Albufeira, o responsável do Conselho Nacional da Água disse que, graças a ela, nas próximas décadas, a região “não vai ter falta de água para abastecimento público”. Ainda assim, considerou que se trata de uma opção “discutível”, uma vez que “poderia não ter sido necessária”, além de estar associada à má gestão da água que se fez no passado.

Ainda nesta conferência, organizada pela Caixa Geral de Depósitos, a presidente do conselho de administração da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), Vera Eiró, lembrou que esta nova estação não estará concluída antes de 2026. Apelou, por isso, a um esforço mútuo de toda a região, até porque, atualmente “aquilo que nós vemos, na prática, é que não está a haver uma redução de consumo”.

Sanções à vista no Algarve?

Também a ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, tem reiterado a necessidade de haver uma maior poupança de água no país e, em particular, no Algarve. Em entrevista ao Jornal de Notícias e à TSF, divulgada este domingo, a governante reconheceu que a região “teve restrições muito duras”, e que “alguns municípios pouparam bastante”, mas não deixou de lembrar que noutros não aconteceu o mesmo. Nesses casos, a falta de esforço ou de capacidade poderá ser sancionada. “Nós fizemos já uma recomendação a esses municípios que pouparam menos que 10% que têm de fazer um esforço maior. Caso não façam esse esforço, quando fizermos a contabilização do ano, poderá haver sanções”, afirmou.

Já sobre a capacidade de armazenamento de água no sul do país, Maria da Graça Carvalho, admite que “em condições excecionais” poderá ser necessário construir algumas barragens e deu o exemplo de um projeto previsto para o Alto Alentejo. “A barragem do Pisão foi já autorizada, já há concurso, é um projeto PRR. Trata-se de uma barragem que era esperada pela população do Alto Alentejo há 57 anos. Espero que no fim de 2026 seja uma realidade”, acrescentou.