Mais de 150 voluntários participaram este domingo na campanha Mariscar SEM Lixo, uma iniciativa da ONG Ocean Alive que mobilizou a comunidade local para a limpeza das margens do estuário do Sado, entre os portos palafíticos da Carrasqueira e do Possanco. No final do dia, foram recolhidas e separadas cerca de três toneladas de lixo, a maioria garrafas de plástico, mas também outros objetos, como pneus, materiais ligados à pesca e até um velho frigorífico.

A ação começou ao início da manhã, com os participantes distribuídos por grupos, cada um a limpar uma determinada zona do estuário. Entre os voluntários estava João Santana, de 53 anos, que rapidamente encheu um saco de lixo. “Para já apanhei muito esferovite e plásticos, mas também retirámos pneus e até uma seringa. A esta zona chega muito lixo leve, que flutua, porque o vento e as marés vivas acabam por empurrá-lo para os cantos do estuário. Mas a verdade é que apanhamos de tudo um pouco”, conta à Smart Cities este trabalhador de manutenção hoteleira e pescador lúdico nas horas livres.

Morador em Setúbal e com casa na Comporta, diz-nos que participa pela primeira vez na iniciativa por dois grandes motivos: “primeiro porque fui desafiado pela minha filha, que é estudante universitária da área do mar e do ambiente, mas também porque tenho noções que durante muitos anos fiz o que não devia, como jogar beatas de cigarros para o mar”. Agora, João é o primeiro dar o (bom) exemplo e a puxar pelos outros, embora também faça questão de lembrar que “apesar de muitos dizerem que os pescadores é que poluem tudo, também há muito boa gente que nada tem a ver com a pesca a jogar lixo para o mar, isto já sem falar das fábricas”.

Depois de apanharem o lixo durante a manhã, os participantes juntaram-se na aldeia da Carrasqueira, concelho de Alcácer do Sal, para um almoço convívio e uma breve ação de sensibilização, onde se fez uma retrospetiva desta campanha, lançada em 2016. Na altura surgiu como resposta ao problema das embalagens de sal que eram deixadas no mar, depois de utilizadas na captura do lingueirão, mas agora é recolhido todo o tipo de lixo e envolve muito mais que os investigadores da Ocean Alive ou as Guardiãs do Mar, um grupo de mulheres pescadoras e mariscadoras que se juntou à causa da ONG.

Para Raquel Gaspar, cofundadora e diretora executiva da Ocen Alive, esta edição da Mariscar SEM Lixo teve “um balanço muito positivo” e com o mérito acrescido de envolver toda a comunidade, ao atrair participantes de muitas origens e de todas as idades. “O mais interessante é que, ao longo dos anos, o envolvimento da comunidade tem mudado bastante. Nas primeiras edições eram mais as pessoas relacionadas com a pesca que apareciam, mas hoje em dia são os mais novos que chamam os pais e acabam todos por participar”, diz a bióloga. Para ela, enquanto houver lixo no mar, lá estará a Ocean Alive para intervir e sensibilizar, mas “a ambição desta iniciativa na Carrasqueira é que as pessoas se envolvam e, elas próprias, se encarreguem de levar avante esta limpeza anual e outras, se possível”, acrescenta.

Durante a tarde, os participantes fizeram a separação dos materiais e o ensacamento para transporte, bem como a contagem do lixo recolhido, que nesta edição rondou as três toneladas.

Prémio à vista?

Vencedora de várias distinções nacionais e internacionais, como o Prémio Ciência Viva Educação ou os Green Project Awards, a Ocean Alive foi voltou a ser nomeada para mais um galardão, desta vez os Prémios Natura 2000. Trata-se de uma iniciativa da Comissão Europeia destinada a reconhecer projetos e ações que contribuem para a proteção de espécies e habitats ameaçados na Europa, em concreto na Rede Natura 2000.

A ONG portuguesa é uma das 27 finalistas nomeadas, entre 96 candidaturas de mais de uma dúzia de países, concorrendo na categoria “Conservação Marinha”. No dossiê que será avaliado por um júri de peritos internacionais estão algumas das atividades e ações desenvolvidas pela Ocean Alive, como a conservação e recuperação das pradarias de ervas marinhas de Soltróia Base-ferry ou a melhoria do estado de conservação dos habitats nas zonas da Carrasqueira e Caldeira, ameaçados pelo lixo marinho. Deverá ainda ser valorizado o trabalho de mapeamento das pradarias de ervas marinhas no Estuário do Sado, em especial a inovadora abordagem que envolve as pescadoras locais através do projeto Guardiãs do Mar.

Além dos prémios principais, há também o “Prémio dos Cidadãos”, atribuído pelo público a um dos finalistas. A votação está aberta até ao dia 25 de abril e pode ser feita através deste link.