O concelho de Fornos de Algodres é um território com uma população inferior a 5.000 pessoas, envelhecido, sem grandes industrias e com dificuldades em reter os nossos jovens. Não é de agora, é problema antigo. E o primeiro passo para políticas inteligentes é conhecermo-nos, saber das nossas dificuldades e limitações. Mas também do potencial que temos e das nossas vantagens. E assumirmo-nos como iguais, sem complexos de inferioridade e sem preconceitos sobre ruralidade.

Temos hoje condições – como nunca tivemos – para nos tornarmos cada vez mais atrativos, tanto na retenção dos nossos jovens, como na captação de novos habitantes. Sim, estamos no interior de Portugal. Sim, estamos num território de baixa densidade. Mas também estamos a meio caminho entre duas das principais cidades do interior, Viseu e Guarda. Estamos tão longe de Viseu ou Guarda como, em comparação, Sintra está de Lisboa. E Espanha está ali a 60 Kms. A centralidade é coisa bastante relativa. Políticas inteligentes criam novas centralidades!

Estamos abastecidos de uma rede de fibra óptica que nos permite estar ligados a qualquer parte do mundo, em segundos. Vivemos uma época em que o trabalho remoto assume e assumirá cada vez maior relevância e em que o comércio digital tende a ultrapassar o tradicional. Em que questões como as alterações climáticas, o crescimento sustentável, uma qualidade de vida mais associada à terra e à natureza e a procura de um maior equilíbrio entre a vida profissional/pessoal levará muitos a questionar as centralidades presentes, a tender a relativizá-las e a procurar ou criar novas centralidades. Temos muito para oferecer e claro que temos futuro. Nunca tivemos tantas possibilidades para o ter!

“Temos hoje condições – como nunca tivemos – para nos tornarmos cada vez mais atrativos, tanto na retenção dos nossos jovens, como na captação de novos habitantes. Sim, estamos no interior de Portugal. Sim, estamos num território de baixa densidade..

Afinal, o que faz uma “smart city” ou “smart community”? É precisamente isso, potenciar o bom e minimizar o menos bom. Apostar num turismo sustentável de natureza, tirando partido do nosso património natural – criámos uma estação de biodiversidade, em parceria com a TAGIS – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal e a Universidade de Ciências de Lisboa, catalogámos fauna, criámos um portal informativo de observação de aves e temos uma parceria com o CERVAS – Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens que nos permite ter acesso a técnicos altamente especializados para promover visitas interpretadas e parcerias como, por exemplo, a que temos com a Universidade de Aveiro. Potenciámos o comércio local, os produtos endógenos e fatores tradicionais de produção com a criação da loja online “O bom sabor da Serra” – https://bomsabordaserra.pt/ – e estamos em vias de concretizar nova plataforma digital, com o apoio do PRR, onde agregaremos grande parte do comércio tradicional, presente no centro da vila.

Continuaremos a ver a nossa Estratégia Municipal Ambiental 2022-2025 como politica estrutural de potenciação territorrial. Apostar na mobilidade sustentável para todos, quer através da construção de soluções integradas de melhoria da acessibilidade ou, por exemplo, em que o autocarro 100% eléctrico adquirido é apenas paradigma do que se pretende. Continuar a apostar na valorização dos nossos recursos humanos, com o apoio a bolsas de estudo e uma aposta consistente nas AEC – Atividades de Enriquecimento Curricular associadas ao ambiente e sustentabilidade. Continuar a ampliar o projeto de compostagem residencial que, depois da sua implementação na freguesia da Muxagata, chegará já este ano (2024) à Vila de Fornos e, no futuro, a outras freguesias. Isto, ao mesmo tempo que também tratamos os resíduos verdes e borras de café, através da adesão ao novo Pacto Institucional para a Valorização da Economia Circular, promovida pela CCDR.C.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.


Este artigo foi originalmente publicado na edição nº 43 da Smart Cities – Abril/Maio/Junho 2024.