A possibilidade de desumanização das cidades é uma das críticas e receios que costumam acompanhar a reflexão sobre as smart cities. Perante o progresso tecnológico dos nossos dias, muitos defendem que é preciso encontrar formas de contrariar esta tendência e reforçar as ligações pessoais entre os cidadãos.  Será possível usar a tecnologia para esse efeito? Vivienne Ming responde.

 

Vivienne Ming é neurocientista teórica e empreendedora. Em 2013, estava entre as 10 mulheres no sector tecnológico a acompanhar, segundo a Inc.Magazine. Co-fundadora da Socos Labs, um think tank de experimentação nas áreas do futuro do trabalho, educação, inovação e economias inclusivas, o trabalho de Ming dedica-se a estes temas, mas também à igualdade de género na tecnologia e inclusão LGBT.

 

As cidades inteligentes podem ser utilizadas para maximizar o potencial humano através da criação de fluxos dinâmicos de pessoas que criem e encorajem interacções únicas. É necessário construir comunidades nas quais todos participem e as cidades inteligentes têm a capacidade de ligar pessoas, vizinhanças e comunidades que, caso contrário, poderão nunca interagir.

Com isto, não estou a sugerir que controlemos as pessoas num sentido “assustador”, mas, mesmo com uma aplicação de aprendizagem automatizada relativamente modesta, as cidades inteligentes podem redireccionar o fluxo de pessoas e melhorar a mistura de diferentes segmentos numa comunidade de forma intencional para fomentar a inclusão e a inovação.

“É necessário construir comunidades nas quais todos participem e as cidades inteligentes têm a capacidade de ligar pessoas, vizinhanças e comunidades que, caso contrário, poderão nunca interagir”.

A investigação que sustenta a inovação demonstra que existe valor real na interacção de grupos pequenos e coesos para a criação de uma ideia nova, mas demonstrou também que o desenvolvimento adicional de uma ideia requer a partilha da mesma – como pode ver-se no trabalho “As origens sociais das redes e difusão” (Damon Centola), que demonstra que a estrutura das redes sociais ideal para transmissão da inovação está parcialmente correlacionada, não é demasiado homogénea (sem ligações fora do grupo) nem demasiado heterogénea (sem confiança social para transmissão de informações). É apenas através desta distribuição mais ampla que uma ideia tem o potencial de consolidar e influenciar toda uma comunidade.

A manipulação do fluxo de pessoas para obtenção de lucros não é um conceito novo, os casinos, por exemplo, gerem o fluxo de visitantes de modo a optimizar os rendimentos. Em contexto urbano, em particular nas cidades inteligentes, estas novas interacções diárias podem ter um impacto profundo em toda a comunidade, quase como se fossem um acaso da engenharia.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.