A tecnologia desempenha um papel crucial na prevenção e na mitigação de catástrofes naturais em áreas urbanas (como cheias, sismos e incêndios), por meio de diversas soluções inovadoras que aumentam a capacidade de monitorização, previsão e resposta rápida. Monitorização e previsão, planeamento urbano inteligente, resposta e coordenação em tempo real, Inteligência Artificial (IA) e Big Data e sistemas de simulação são os domínios que, inevitavelmente interligados pela tecnologia, constituem uma mais-valia, em específico em meios urbanos.
Os sistemas de monitorização são fundamentais para que se possam prever situações anómalas. Por exemplo, a colocação de sensores em áreas sujeitas a cheias para monitorizar o nível dos rios, a pressão atmosférica e os padrões de precipitação. Esses sensores podem transmitir dados em tempo real para sistemas centrais e emitir alertas quando o risco de cheias aumenta. A previsão meteorológica avançada pode ser associada a modelos de inteligência artificial e machine learning, sendo, muitas vezes, usados para analisar dados meteorológicos e prever eventos climáticos extremos, como tempestades e inundações. Os sistemas de alerta precoce para uso em redes de sensores sísmicos podem ajudar as autoridades a detetar abalos sísmicos iniciais e a enviar alertas antes de terramotos mais intensos, minimizando danos, permitindo que as pessoas procurem refúgio e possibilitando que sejam ativados sistemas automáticos de emergência como, por exemplo, o corte das redes de gás.
O planeamento urbano inteligente, que pode incluir a modelação 3D e a simulação, pode ser utilizado para prever o impacte de desastres naturais em diferentes áreas da cidade, o que pode auxiliar no planeamento de infraestruturas resilientes e na criação de rotas de evacuação eficientes. Também o desenvolvimento de novas tecnologias de construção, que utilizem materiais e técnicas avançadas, como isolantes sísmicos e sistemas de dissipação de energia, podem reduzir os danos em edifícios durante terramotos. Os sistemas de escoamento inteligentes são um exemplo de infraestruturas que permitem prevenir cheias urbanas, adaptando-se em tempo real ao volume de água, e a adoção de soluções baseadas na natureza também podem ser adotadas para a promoção da resiliência dos centros urbanos, sendo permanentemente monitorizadas com sensores embutidos.
A tecnologia permite o acesso à resposta e coordenação em tempo real. De facto, a utilização de drones equipados com câmaras térmicas ou de alta-definição pode monitorizar incêndios florestais em tempo real, ajudando a identificar a propagação das chamas e permitindo o direcionamento das equipas de combate ao fogo para as áreas críticas. Além disso, as imagens de satélite fornecem uma visão geral das áreas afetadas por cheias ou outros desastres, permitindo uma resposta mais eficiente. As aplicações e as plataformas de comunicação podem ser usadas para enviar alertas em massa para a população e fornecer instruções detalhadas de evacuação ou medidas de segurança, bem como para facilitar a comunicação entre equipas de emergência.
A análise preditiva através da utilização da inteligência artificial (IA) e Big Data permite, através do processamento de grandes volumes de dados, prever a ocorrência de desastres naturais, identificando padrões que indicam um risco crescente. Através da análise de dados climáticos, geológicos e sociais, é possível antecipar onde podem ocorrer cheias ou deslizamentos de terra. Também a utilização de algoritmos de IA permite otimizar a gestão de recursos em situações de emergência, como a alocação de bombeiros ou de equipas de resgate em incêndios, ou a gestão de abrigos temporários em situações de evacuação.
Por fim, os sistemas de simulação, como simuladores de realidade virtual, podem ser usados pelas autoridades e pelas equipas de emergência para treinar em cenários de desastres naturais. A utilização de modelos de evacuação inteligente, que usam algoritmos para simular fluxos de tráfego e de movimento de pessoas em situações de emergência, podem otimizar os planos de evacuação.
A tecnologia pode ser um pilar fundamental na gestão das cidades, especialmente face a situações extremas que se tornam cada vez mais recorrentes, mas é também a força motriz para uma transmutação dos núcleos urbanos. Num futuro próximo, consolidar-se-á o perfil de cidades sustentáveis e inteligentes, o que exigirá também a capacitação técnico-científica de todos os seus agentes.
Este artigo foi originalmente publicado na edição n.º 45 da Smart Cities – outubro/novembro/dezembro 2024