A velocidade e abrangência com que as cidades absorvem e implementam a tecnologia, apoiadas por enquadramentos políticos ágeis, determinam a sua capacidade de disputar e atrair talentos. Possuir internet de banda larga e implementar tecnologias digitais ao consumo energético, à reciclagem de resíduos e aos transportes contribuem para tornar a cidade mais atrativa.

É fundamental que as cidades garantam o acesso e a utilização das tecnologias de informação e comunicação da Indústria 4.0. Esta revolução, que foi designada por “Indústria 4.0” na Feira de Hannover em 2011, não se limita apenas à conectividade entre a máquina e os sistemas inteligentes, já que interage com as tecnologias dos mundos da física, do digital e do biológico.
Na Física. Veículos auto-guiados capazes de sentir o ambiente onde se movem e reagir-lhe com recurso à Inteligência Artificial (ex. automóveis, drones), impressões 3D que permitem a personalização de bens (ex. implantes médicos), robôs capazes de realizar uma grande variedade de tarefas (ex. trabalhos domésticos), materiais mais leves e mais fortes (ex. grafeno), recicláveis (ex. novos polímeros).
No Digital. O mundo digital altera a forma como os indivíduos e as organizações colaboram. O número de dispositivos ligados à Internet, como smarphones, tablets e computadores, aumenta exponencialmente, alterando a forma como os indivíduos e as organizações colaboram. Os canais de distribuição e, em particular, a economia on-demand permitem que a maior empresa de táxis, a Uber, não tenha qualquer veículo ou um retalhista sem stocks, como o Alibaba.
No Biológico. No campo da biologia e, em particular, na genética, os avanços são vertiginosos. Já hoje o Watson da IBM é capaz de recomendar tratamentos personalizados para doentes com cancro. O fabrico 3D já tem sido usado para criar pele, osso e outros tecidos.

A Quarta Revolução Industrial exige organização e liderança com capacidade para novas formas de colaboração e modelos de negócio completamente novos. Inovar é um processo social complexo. Há que gerir os impactos da Quarta Revolução Industrial sobre as cidades. Os governos das cidades serão forçados a mudar, passando a ser vistos como centros de serviço público, avaliados pela sua capacidade de oferecer um serviço mais alargado, mais eficiente e individualizado. A sua sobrevivência depende da sua capacidade de adaptação. Têm de aprender a colaborar e a adaptar-se, assegurando que as pessoas permanecem no centro de todas as decisões, deixando a inovação florescer.

O desafio das cidades é o de acolher a modernidade e ao mesmo tempo continuar a abraçar os sistemas de valores tradicionais. As cidades têm sempre janelas para o passado.

A tecnologia digital não conhece fronteiras. A interação das tecnologias e os grupos sociais permitem ao indivíduo exercer uma influência que era impensável há alguns anos; ajudam a aumentar a consciência e o envolvimento com estratégias de uso sustentável dos recursos; aumentam a utilização inteligente e renovável dos recursos naturais, permitindo a recuperação da biodiversidade em áreas ameaçadas. As cidades são sistemas de sistemas com redes e infraestruturas urbanas, edifícios, transportes, serviços, comunidades e pessoas. As cidades estão a aumentar a sua rede de sensores, integrando e monitorizando as redes e infraestruturas num centro dedicado, que corresponde ao cérebro da cidade digital. Este centro coloca à disposição dos serviços públicos, investidores e utilizadores da cidade informação útil para a tomada de decisão, através de ferramentas de inteligência artificial. A tomada de decisão automatizada permite simplificar processos e a prestação de melhores serviços aos cidadãos. Muitas empresas desenvolvem carros sem condutor que têm potencial para ser mais eficientes e seguros, além de reduzir os congestionamentos e as emissões nocivas. O recurso à Inteligência Artificial permite automatizar processos complexos, tornando mais fácil e rápido chegar a conclusões baseadas em dados e experiências passadas. Nestes tempos de mudança radical temos de ter a sabedoria de não sermos esmagados, por ignorância.

“Face the Challenge” em 2018, “As cidade do Futuro/Future Cities” em 2019

Para discutir cidades inteligentes, teve lugar, de 3 a 5 de abril de 2018, a quarta edição do FICIS – Fórum Internacional das Comunidades Inteligentes e Sustentáveis, um evento de referência no âmbito das smart cities, em Portugal, e no qual estiveram protagonistas da sociedade – governo das cidades, empresas, universidades e sociedade civil a partilhar e discutir as tendências emergentes. “Face the Challenge” foi o lema do encontro, onde, durante três dias, se discutiram as tecnologias desenvolvidas pela inovação digital, as políticas dos territórios e a cultura. O FICIS promoveu o debate sobre inovação dos territórios em sessões que tiveram como motes o Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Rio Minho e o Rio Douro, sendo protagonistas três presidentes de câmara em cada sessão. No FICIS’18, houve lugar à apresentação, por empresas globais e regionais, a novas gerações de sensores e tecnologias de apoio à decisão, algumas já em curso nas nossas cidades. Na mobilidade, as experiências de Cascais, Braga e Porto estiveram em debate. As Media Arts, a musealização e a regeneração urbana também estiveram em discussão, a par da investigação e desenvolvimento através das universidades e laboratórios de investigação presentes.

 

Em 2019, o FICIS volta com o lema “As Cidades do Futuro/Future Cities”, porque o futuro depende das pessoas, da cultura e dos valores, criando uma consciência coletiva de um destino partilhado.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.