Perguntam-me muitas vezes: “Por que é que te preocupas tanto com os oceanos? O que é que o teu trabalho na área da tecnologia tem a ver com a saúde dos oceanos?”. E eu respondo: “Tem tudo a ver”.
Um oceano saudável é essencial para a nossa sobrevivência – este magnífico cenário marítimo ocupa quase três quartos do planeta, é responsável por 97% da nossa água e produz mais de metade do oxigénio na atmosfera. Tem um forte impacto na nossa vida, na saúde das nossas famílias, das nossas comunidades e nos negócios. No entanto, e apesar dos compromissos governamentais, do apoio dado por muitas celebridades que dão voz a inúmeras campanhas e de este ser um tópico amplamente falado por muita gente em todo o mundo, os nossos oceanos continuam em perigo.
Todos os anos, mais de oito milhões de toneladas de plástico entram no oceano. Ao longo do tempo, este plástico vai dividir-se em triliões de partículas que só abandonam verdadeiramente o oceano quando são ingeridas pela vida marinha ou entram na nossa cadeia alimentar (o comum consumidor de peixe e marisco consome 11 000 partículas de plástico por ano). O plástico que existe no oceano tem um forte impacto sobre o ambiente e a saúde das pessoas e é atualmente uma grande ameaça para o futuro do nosso planeta. Este é um assunto que deve preocupar toda a gente.
Um oceano saudável é essencial para a nossa sobrevivência – este magnífico cenário marítimo ocupa quase três quartos do planeta, é responsável por 97% da nossa água e produz mais de metade do oxigénio na atmosfera.
Por onde devemos começar a abordar o problema do plástico?
Qualquer tentativa de reduzir o desperdício de plástico, seja a nível individual seja a nível empresarial, é um passo dado na direção certa. Campanhas como #StopSucking ou The Last Straw demonstram e sublinham de forma perfeita este problema da poluição causada pelos plásticos, ao mesmo tempo que sensibilizam e ajudam a educar um público mais vasto. No entanto, num debate recente realizado pela Dell e pela Lonely Whale, surgiu um tema chave que colocou uma nova tónica sobre o problema: tem vindo a ser feita uma vasta investigação sobre o problema dos plásticos nos oceanos, contudo não se tem feito o suficiente para resolver este problema.
A nível individual, o conselho que devemos seguir para prevenir a poluição causada pelos plásticos é bastante simples: se diariamente fizermos o que é correto e agirmos de forma inteligente, podemos fazer a diferença. O debate, que reuniu representantes da CIEL, Common Seas, World Resources Institute e Interface, demonstrou que, apesar do contributo individual ser importante, sozinhos não fazemos o suficiente.
É necessário que os governos, as empresas e as ONGs sejam responsabilizadas e assumam compromissos para removerem o plástico que já está no oceano, impedindo a acumulação. Bem como que tomem decisões sustentáveis que limitem a produção de plástico.
Ações valem mais do que palavras
Durante a sua intervenção no debate, Kristian Teleki, diretor da Sustainable Ocean Initiative no World Resources Institute, sublinhou que existem novos níveis de interesse em torno da temática da poluição pelo plástico junto da esfera pública, política e privada. Como tal, existe também agora um objetivo final muito claro para dissociar a geração de resíduos do crescimento económico.
Enquanto esta meta não é atingida, governos de todo o lado do mundo estabeleceram compromissos para endereçarem o problema do plástico. É, porém, importante sublinhar que não existe uma solução mágica e única para todos os problemas porque o que funciona em França pode não funcionar no Egito, e, como tal, precisamos de considerar que existem distintos pontos de partida em cada país. Cada governo necessita de investir em infraestruturas individuais que suportem soluções de resíduos escaláveis que consigam rapidamente responder aos problemas que vão surgindo.
Esta é uma tarefa arrojada e os melhoramentos urgentes e necessários ao nível das infraestruturas não vão aparecer do dia para a noite. Acaba por não ser inesperado ver alguns governos abandonarem os acordos de sustentabilidade, sem qualquer problema devido à falta de responsabilização, ou simplesmente prometerem uma série de mudanças sem tomarem qualquer medida ou iniciativa.
Seja devido à falta de investimento em infraestruturas, seja devido à pouca visibilidade dada aos sistemas de reciclagem ou de tratamento de resíduos de um país, os governos não estão a oferecer soluções suficientes para a gestão de resíduos. Como tal, cabe às empresas liderarem a inovação nos plásticos e reduzirem o volume de resíduos nos nossos oceanos.

Promessas que mantêm os plásticos na economia
Pode não existir ainda uma forma de reverter os danos causados pelo plástico nos oceanos, no entanto, temos também a oportunidade de transformar a forma como pensamos este assunto. Muitas empresas estão já a olhar para os resíduos de plástico como uma matéria-prima e não como um desperdício. Aliás, estão a perceber o impacto positivo, aos níveis económico e de sustentabilidade, que a utilização de resíduos plásticos tem nas suas linhas de produção, comparativamente aos materiais virgens. Empresas como a Adidas, a Trek e a Herman Miller, entre outras, integram já plásticos oceânicos nos seus produtos, tais como em embalagens, mobiliário ou calçado. O McDonalds pretende remover os plásticos descartáveis como opção. As empresas têm de começar a tomar medidas e a analisar de que forma podem reutilizar os resíduos plásticos ou outros materiais alternativos.
A boa notícia é que a sustentabilidade comercial é promovida pela vontade do cliente, pela inovação e pela redução de custos e não é apenas boa para o ambiente, mas para a economia também.
Os consumidores estão cada vez mais empenhados em resolver o problema dos plásticos, fazendo opções de compra ecológicas. Por último, as empresas que lideram o movimento sustentável de plásticos oceânicos estarão prontas para cumprir as futuras regulamentações sobre resíduos plásticos, nomeadamente porque os governos estão a tentar ajudar os oceanos através de novos impostos aplicados ao plástico.
A colaboração é um elemento chave
Ninguém conseguirá enfrentar o problema dos plásticos no oceano sozinho. Apesar de os objetivos individuais de sustentabilidade promoverem a inovação, é importante garantir a colaboração com os governos e mesmo com as empresas concorrentes. A longo prazo, reduzir o problema do plástico nos oceanos vai ser de extrema importância para todos nós, mas ninguém vai conseguir fazer a diferença sozinho.
Por esta razão, as empresas que desenvolveram novas formas de utilização dos plásticos que estão nos oceanos estão a partilhar os seus conhecimentos e iniciativas em projetos que já deram provas de sucesso, para que estas ideias possam servir de inspiração a terceiros e de base a novos projetos.
Está na hora de agirmos
O caminho para a produção sustentável e para as boas práticas empresariais pode parecer longo, mas os primeiros a acreditarem e a tomarem medidas serão aqueles que vão conquistar o coração e as mentes do futuro.
Não tenho dúvidas de que, eventualmente, os governos de todo o mundo irão investir nas infraestruturas necessárias e promover as mudanças que todos necessitamos que eles promovam.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.