Para além de ser uma alavanca para a inovação urbana, o 5G pode representar também novas formas de responder às necessidades dos cidadãos e novas oportunidades de negócio. É a cidade como plataforma na sua plenitude.

Com a rede 5G, conseguimos imaginar uma cidade que identifica as zonas de maior tráfego, comunicando esta informação com os veículos autónomos. Em que toda a infraestrutura está digitalizada e os semáforos conseguem reagir atempadamente a ambulâncias em serviço. Que aproveita as suas infraestruturas existentes, como postes de iluminação, eles próprios, carregadores de veículos elétricos, e concede-lhes ainda novas funcionalidades, nomeadamente enquanto pontos de acesso à rede 5G. Que disponibiliza várias redes 5G capazes de responder aos diferentes requisitos, não só de cidadãos, como de diversas indústrias. Preparada para a constante interligação de todos os sensores (nas áreas da segurança, mobilidade, energia e ambiente) que fornecem informação em tempo real sobre a “saúde” do município, permitindo que os autarcas avaliem as suas políticas atuais e definam novas medidas, em tempo real. Uma cidade com soluções focadas em melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos.

A inovação urbana com recurso ao 5G

O projeto europeu 5GCity, no qual a Ubiwhere está envolvida, partilha a visão dessa cidade inteligente. Graças ao conhecimento adquirido na implementação de três pilotos, em Barcelona, Bristol e Lucca, criou-se uma plataforma diferenciadora e aberta, adotando o conceito “neutral hosting”. Esta plataforma permite a aquisição de equipamento para computação e de telecomunicações, bem como a criação de uma rede WiFi e/ou LTE/5G para uso dedicado. Assim, fornecedores de serviços de diversos verticais podem tirar proveito da infraestrutura detida pelo município para lançar aplicações de valor acrescentado, tirando também partido do paradigma Edge Computing (computação mais próxima do utilizador) e da flexibilidade no configuração de redes 5G privadas, via software.

Uma das mais-valias do 5G é precisamente esta: recorrendo apenas a software e à sua flexibilidade, novas redes dedicadas e de alta qualidade podem ser rapidamente lançadas. Estas infraestruturas das cidades – mobiliário urbano, postes de iluminação, armários de rua, bancos digitais, etc. – permitem que a digitalização possa ser capitalizada através da plataforma 5GCity. No fundo, a cidade é a própria plataforma, em que se tira proveito do seu hardware – equipamento de computação e armazenamento que compõem a Edge Cloud, bem como pontos de acesso WiFi e LTE/5G (modelo neutral hosting).

Novas oportunidades de negócio para as cidades

Coordenado pela Ubiwhere, o projeto SNOB-5G visa facilitar a expansão de rede 5G ao criar meios inteligentes, escaláveis e sustentáveis para a sua distribuição. À margem de responder às expectativas de Qualidade de Experiência (QoE) dos utilizadores de comunicações móveis, a rede 5G vem potenciar a capacidade de resposta rápida e serviços inteligentes às cidades, tornando esta uma mudança inevitável para que as cidades possam acompanhar as necessidades emergentes dos seus cidadãos. Mas ainda que esta mudança seja imprescindível, a verdade é que a corrente sobrepopulação dos centros urbanos apresenta novos desafios à instalação massiva e ubíqua de uma rede 5G de forma escalável e eficiente, atendendo às infraestruturas de telecomunicações atuais.

Hoje, metade da população do mundo reside em cidades, e prevê-se que este número continue a aumentar, fazendo-se acompanhar de uma quantidade imensa de dispositivos, sensores e serviços. Atualmente, as operadoras de telecomunicações favorecem meios de conexão de redes com fios, como a fibra ótica, que, apesar de responder aos requisitos de baixa latência, nem sempre está disponível e traduz-se num grande desafio a nível do planeamento de rede e elevados custos de instalação.

O SNOB-5G vai superar estes obstáculos com a criação de uma solução inteligente para ligações sem fios (backhaul) entre unidades 5G, que permitirá às cidades usufruir das suas infraestruturas para distribuir rede banda-larga 5G e instituir novos serviços inovadores (sistemas de transporte inteligentes e comunicação veicular para carros autónomos), alavancando a ação das cidades no mercado da rede 5G.

As telecomunicações deixarão de depender da disponibilidade da fibra ótica, ao serem substituídas por um sistema de rede autónomo, apto para funcionar numa topologia mesh, isto é, conectando-se aos pontos de rede disponíveis, sempre que uma ligação sem fios não providencia o desempenho requerido ou em caso de falha de um dos pontos. O SNOB-5G estabelece uma rede resiliente e sem falhas, que assegura uma Qualidade de Serviço (QoS) superior em ambientes urbanos e salvaguarda a segurança e privacidade dos utilizadores.

A tecnologia 5G é uma nova oportunidade de negócio para as cidades. Dado que as suas infraestruturas existentes (mobiliário urbano) ganham novas funcionalidades, é crucial fornecer o suporte básico para a instalação do equipamento necessário. Além disso, através de plataformas dedicadas, que facilitam a gestão destes novos sites de telecomunicações, os municípios vão conseguir entrar no mercado 5G, desbloqueando as suas potencialidades.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.