Este verão, o secretário de Estado do Ambiente e da Energia, João Galamba, anunciou, num evento público realizado em Cascais, que o seu gabinete estava a rever o PERSU (Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos) 2030, porque era necessário fazer algumas correções.
João Galamba quer mexer no status quo do sector dos resíduos e dar uma reviravolta no atual estado de inércia em que está enredado. É um bom sinal, porque é preciso dar passos mais concretos, apoiar as entidades competentes na tomada das melhores soluções estratégicas e dar confiança aos stakeholders. Sair da zona de conforto não é fácil, nem simples. Requer visão, determinação, mas também recursos.
A equipa do ministério do Ambiente sabe isso muito bem, por isso, anunciou também a preparação de envelopes financeiros que vão acompanhar as decisões a priorizar os investimentos necessários no sector, ao nível da recolha dos biorresíduos e do tratamento dos resíduos.
A Limpeza Urbana também está incluída nesta visão e neste caminho, como é percetível pelas ações elencadas no PERSU 2030. E não só. Em março, foi aprovado por despacho do orçamento do Fundo Ambiental para 2022, uma verba dedicada ao PROLU – Programa de Formação para a Limpeza Urbana, proposto ainda em 2021 pela ALU.
Estamos agora a desenvolver o seu conteúdo programático, que promete ser uma importante ferramenta para a literacia das entidades e dos stakeholders na área da limpeza urbana e dos resíduos, para a formação dos técnicos municipais e de juntas de freguesia, para a divulgação de boas práticas, e para a demonstração de equipamentos e de soluções de sucesso. Juntamente com a secretaria de Estado e a FEFAL, queremos chegar a todo o país e a todos os que têm a ver com a Limpeza Urbana. Até ao final do ano, haverá mais novidades sobre este programa de formação.
Estamos a trilhar o caminho do conhecimento na Limpeza Urbana, o que é absolutamente fundamental para se implementar inovação. E, no sector dos resíduos e da limpeza urbana, precisamos muito de inovação. Não basta prepararmo-nos para cumprir metas; é preciso olhar para lá deste médio prazo. Falo da falta de recursos humanos no sector, que se começa a sentir em Portugal, e, que, pela Europa, já está a condicionar os sistemas de gestão de resíduos e da limpeza urbana, os veículos e os equipamentos de recolha. Falo de sistemas tecnológicos que fazem já parte do nosso léxico, mas pouco da realidade portuguesa, como o impacto da Inteligência Artificial (IA) no planeamento e na gestão dos espaços e serviços públicos, cujos limites, riscos e oportunidades estão, este ano, numa ampla fase de discussão a nível europeu.
O que tem isto a ver com Limpeza Urbana? Tudo! Como iremos demonstrar no IV Encontro Nacional de Limpeza Urbana, de 3 a 4 de novembro, em Loulé, a Limpeza Urbana tem impacto no poder de uma cidade, o que se reflete na sua capacidade de atrair negócios (multinacionais, centros de negócios), de captar turismo, de manter habitantes permanentes, etc.
Mas pessoas felizes não vivem fechadas nas suas casas; em vez disso, usufruem dos espaços públicos e cuidam desses espaços, numa nova lógica na qual as cidades têm de ser esculpidas para as pessoas. É esta nova forma que temos de dar às nossas cidades!
Fotografia de destaque: ©Associação Limpeza Urbana
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