A inteligência urbana passa, indubitavelmente, pela capacidade de inovação de um território. Nesse processo, participam vários actores, desde a indústria e o tecido empresarial à academia, passando pela própria sociedade civil e autoridades públicas. Cada um tem um papel nesta engrenagem, pelo que fazer funcionar o ecossistema de inovação é crucial para alcançar uma cidade próspera.

 

 

Durante a última década, com base nestas observações, Nathalie Crutzen lançou várias iniciativas académicas na Europa e fundou o Smart City Institute (HEC Liège, Universidade de Liege), uma entidade académica que fornece uma especialização científica na área da gestão de cidades inteligentes. O Smart City Institute tem como objectivo estimular a investigação, ensino, inovação e empreendedorismo no campo das smart cities, tendo como base um ecossistema colaborativo, que inclui empresas privadas (como a Proximus, Schréder, Strategy& and Vinci Energies), a academia (HEC Liège) e várias instituições territoriais (Valónia, Europa).

 

As iniciativas smart cities estão a disseminar-se por todo o mundo a um ritmo extraordinário. A sua arrojada ambição é aumentar a competitividade das comunidades locais através da inovação, ao mesmo tempo que melhoram a qualidade de vida dos cidadãos através de melhores serviços públicos e de um ambiente mais limpo (1).

Investigações anteriores mostraram perspectivas contrastantes e uma multitude de dimensões e abordagens a este fenómeno. Apesar de este ser um factor que pode estimular o debate, falta-lhe uma avaliação sistemática e uma visão integrada (1).

Nesse sentido, um número cada vez maior de publicações – artigos científicos, relatórios – tem vindo a discutir este fenómeno durante a última década e as iniciativas estão a florescer na Europa, América e Ásia-Pacífico. No entanto, o próprio conceito smart city está ainda a emergir e o trabalho referente à sua definição e conceptualização está em progresso. Adicionalmente, a grande maioria destas iniciativas permanece centrada na tecnologia, quando é já amplamente reconhecido que os académicos e os responsáveis pela implementação de projectos precisam de avançar para além de um foco puramente tecnológico e abraçar a gestão e perspectivas interdisciplinares, já que estes ecossistemas complexos integram subsistemas sociais, económicos, ecológicos e políticos (2).

“(…) as cidades inteligentes são entendidas, acima de tudo, como comunidades inteligentes, ecossistemas colaborativos que facilitam a inovação através da criação de conexões entre os cidadãos, governos, empresas e institutos de ensino”.

Kourtit e Nijkamp (2012) propuseram uma definição holística de smart cities: “o resultado de estratégias criativas e baseadas no conhecimento com vista a reforçar o desempenho socioeconómico, ecológico, logístico e competitivo das cidades. Estas smart cities têm como base uma mistura promissora de capital humano (e.g., mão-de-obra qualificada), capital infra-estrutural (e.g., instalações de comunicações de alta tecnologia), capital social (e.g. ligações em rede abertas e intensas) e capital empreendedor (e.g. actividades de negócio de risco e criativas)”. Mais concretamente, num dado território, os projectos smart city podem ser tradicionalmente classificados em seis categorias: qualidade de vida (smart living), competitividade (smart economy), capital humano e social (smart people), serviços públicos e sociais e participação cívica (smart governance), transportes e infra-estrutura de comunicação (smart mobility) e recursos naturais (smart environment) (3).

Segundo a perspectiva neo-evolucionária, as iniciativas e projectos smart city representam uma plataforma de inovação única para empresas, agências governamentais e investigadores (4). Nesta medida, as cidades inteligentes são entendidas, acima de tudo, como comunidades inteligentes, ecossistemas colaborativos que facilitam a inovação através da criação de conexões entre os cidadãos, governos, empresas e institutos de ensino.

 

1- Appio et al., 2010;
2- Letaifa, 2015;
3- Giffinger et al., 2007;
4- Leydesdorff and Deakin, 2011.

As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.