O mundo está pressionado pela escassez de recursos e pelo exagero do desperdício. O modelo de consumo a que estamos habituados está a causar problemas gravíssimos no nosso planeta e a mudança é necessária. Da mesma forma que se desenha um produto de consumo, poderá o design ajudar a alcançar um modelo de vida mais sustentável?
Vivemos num ambiente altamente construído pelo homem e, em todos os segundos das nossas vidas, interagimos com artefactos de design físicos, como os objectos, e não físicos, como, por exemplo, as políticas. Tudo é design. Se olharmos para o consumo, o consumismo e todos os impactos que lhe estão associados, desde as emissões de dióxido de carbono até ao plástico nos oceanos, vemos que é tudo um produto do design – seja este pobre, seja este bom. Design bom porque, através de acções de marketing, nos conseguiu manipular para comprar aquelas coisas; design pobre porque alguém não pensou bem naquilo e, agora, está a causar um grande problema.
Enquanto designer e socióloga, a minha especialização é em mudanças socio-ambientais e também em design e criatividade. Na UnSchool, ensinamos a combinar estas duas coisas e trata-se de provocar mudanças criativas. Como compreender, como fazer a mudança e, nessa área, aprendemos que cada problema contém a sua própria solução. Ora, se nos projectamos dentro de um problema, também conseguimos desenhar-nos para sair dele. Há uma oportunidade para resolver qualquer problema através do seu entendimento. O design é apenas a aplicação de algum resultado ou de uma ideia nova com base na exploração que foi feita. É preciso compreender uma coisa para a conseguirmos mudar.
“Há uma oportunidade para resolver qualquer problema através do seu entendimento”.
Receber um briefing para desenhar um produto não é muito diferente de estar interessada em ajudar a resolver a questão do plástico, por exemplo. Tudo isto é muito semelhante, tanto na micro-escala, como na macro-escala, e todos temos o poder e a influência, pois estamos a investir no futuro através das escolhas económicas que fazemos. É algo a que chamo de “design do cidadão” [citizen design]. Tudo o que fazemos é uma parte dos dados de um sistema e é medido, logo, tem um impacto. Portanto, para mim, o design é uma componente muito importante, mas não no sentido de alguém que sabe usar o [programa] Ilustrator, mas na medida em que somos todos cidadãos-designers do futuro através das acções que tomamos hoje. A meu ver, isto é muito poderoso: não são apenas as pessoas com competências de design que o fazem, mas todos nós, ao desenharmos as nossas vidas. O Método de Design Disruptivo, que desenvolvi, pode ser aplicado a tudo, incluindo a cidades. É um processo composto por três fases: mining [mineração], landscaping [perspectiva panorâmica] e building [construção].
A fase de mining é uma espécie de pesquisa, mas divertida, na qual aprendemos a adorar um problema por tentar compreendê-lo sem o tentar resolver – muitas pessoas tentam resolver um problema sem o compreender. E, nesse processo, encontramos pequenas peças que, se as juntarmos, chegamos à fase de landscape, na qual aplicamos os sistemas de pensamento e conseguimos uma perspectiva diferente. Erguemo-nos acima do problema e conseguimos uma visão aérea. A panorâmica é uma espécie de mapa, onde identificamos áreas nas quais podemos intervir. Sempre que fazemos isto, encorajo as pessoas a fazê-lo num ponto de intervenção no qual tenham algum domínio, porque, muitas vezes, as pessoas queixam-se de um problema e exigem a outros que o resolvam – normalmente, ao governo ou ao ensino e a maior parte das pessoas não faz parte de nenhum deles. “O que é que tu podes fazer? Como podes fazer a mudança?” – é aqui que a fase de construção entra e que é um processo criativo mais tradicional. O conceito é: aprende a adorar um problema antes de o tentares resolver, compreende os sistemas e desenha intervenções que vão alterar o sistema que compreendes.
As opiniões expressas são da responsabilidade dos autores e não reflectem necessariamente as ideias da revista Smart Cities.