O relatório mais recente da BP (2020[1]) mostra que o sistema energético mundial está numa encruzilhada com taxas de crescimento muito baixas ou mesmo negativas dos combustíveis fósseis e crescimento acelerado de renováveis.

O consumo de petróleo cresceu 0,9% em 2019, face a 2018, abaixo da média dos últimos anos, com a China e outras economias emergentes a liderarem, enquanto nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento) a procura tem estado a cair. O consumo de carvão diminuiu 0,6% em 2019, face a 2018, e a sua participação na energia primária mundial caiu para o nível mais baixo em 16 anos (27%). O consumo de gás natural aumentou 2%, bem abaixo do crescimento excecional verificado em 2018 (5,3%, face a 2017).

Por sua vez, o consumo de energia renovável em 2019 contribuiu com o maior aumento em termos de energia alguma vez registado, tendo sido responsável por mais de 40% do crescimento global da energia primária. Como resultado, as energias renováveis ​​aumentaram sua participação na matriz energética mundial de 4,5% em 2018 para 5%, com a eólica e solar a liderarem. As renováveis proporcionaram o maior incremento na geração de eletricidade em 2019 (340 TWh), seguidas do gás natural (220 TWh), substituindo parcialmente o carvão, que caiu drasticamente (-270 TWh). A participação das renováveis na geração de eletricidade foi de 10,4% em 2019, superando, pela primeira vez, a geração nuclear.

O balanço de CO2,apurado pelo Global Carbon Project, relativo à produção e uso de energia e produção de cimento, estimava um total de 36,8 GT CO2 em 2019, 0,8% acima da emissão apurada para 2018. Este valor representa 87% do total das emissões mundiais de CO2, o que mostra que o mundo vive ainda na fase fóssil, muito embora pareça haver evidência de estarmos a sair para a fase renovável muito em breve.

O balanço de CO2 apurado pelo Global Carbon Project (2020[2]), relativo à produção e uso de energia e produção de cimento, estimava um total de 36,8 GT CO2 em 2019, 0,8% acima da emissão apurada para 2018. Este valor representa 87% do total das emissões mundiais de CO2, o que mostra que o mundo vive ainda na fase fóssil, muito embora pareça haver evidência de estarmos a sair para a fase renovável muito em breve.

A explosão expectável de tecnologias renováveis, incluindo baterias, antecipa o grande consumo de materiais como bauxite, alumínio, cobre, germanium, indium, níquel, selenium, telerium, entre outros. O relatório do banco Mundial (2017[3]) projetou um aumento de mais de 1000 por cento na procura por metais para tecnologias de armazenamento de bateria de energia, e de 200 por cento para tecnologias eólica e solar para responder aos objetivos do Acordo de Paris. A enorme procura destes metais, muitos deles pertencentes ao grupo das Terras Raras da Tabela Periódica, vem colocar uma pressão imensa da indústria extrativa em várias regiões do Planeta com impacto negativo nos ecossistemas e na destruição da biodiversidade que albergam.

Importa refletir como a transição energética pode ser desenvolvida alinhada com a sustentabilidade do Planeta, para que o novo sistema energético não origine novos problemas ambientais. A Conferência Energy Transition and Sustainability, organizada pela Associação Portuguesa de Economia da Energia e o centro de investigação CENSE da FCT NOVA, que se vai realizar nos dias 20 e 21 de Janeiro, reunirá investigadores e agentes do mercado que debaterão um vasto conjunto de temas de interface entre a energia e a sustentabilidade. Sublinha-se a palestra Minerals for Climate Action: The Mineral Intensity of the Clean Energy Transformation por John Drexhage, autor principal do relatório do Banco Mundial acima mencionado. A conferência fechará com um debate entre decisores políticos, empresas e academia, sobre opções para acelerar a transição energética em Portugal, apelando a inovadores instrumentos de política, à inovação made in Portugal e à participação da sociedade.

[1] https://www.bp.com/en/global/corporate/energy-economics/statistical-review-of-world-energy.html

[2] https://www.globalcarbonproject.org/carbonbudget/

[3] https://openknowledge.worldbank.org/handle/10986/28380

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