Poderosa, sem limites tecnológicos, mas com fronteiras éticas. Para José Carlos Príncipe, um dos maiores especialistas mundiais em engenharia computacional, é já inquestionável que “a inteligência artificial vai mudar o sistema”. O desafio que agora se coloca passa por garantir que a sua aplicação e generalização aconteça com “uma consciencialização ética”.
Durante a conferência internacional CEES 2023, a decorrer até esta sexta-feira no Funchal, o professor e investigador da Universidade da Flórida (Estados Unidos) abordou o tema da “Inteligência Artificial e a Digitalização da Sociedade” e, no final, foi questionado sobre os impactos que esta nova (r)evolução tecnológica pode trazer. Embora defenda que a inteligência artificial permite o aumento da produtividade e que “não é boa ideia parar o progresso”, faz questão de avisar que “os governos e a sociedade devem estar alerta” e, sobretudo, têm de ser mais proactivos e céleres na resposta a esta realidade.
“Estou preocupado, e a razão não é por termos instituições, porque eu confio nas instituições dos países democráticos. A questão é a lentidão do processo de decisão. Isso é, na minha opinião, o que temos de mudar. Uma mudança no feedback ético e no controlo tecnológico”, afirmou o especialista, dando como exemplo a rápida e enorme evolução que houve do Chat GPT-3 para o Chat GPT-4. “O sistema estava num estado muito mais avançado. A dificuldade que vejo é que a nossa sociedade não prestou atenção, não encontrou formas mais rápidas [de responder]”, acrescentou o investigador português radicado nos Estados Unidos.
E poderá a inteligência artificial, um dia, passar a decidir por nós? José Carlos Príncipe diz que “para já, é impossível” as máquinas assumirem o controlo. Além disso, “os humanos têm sempre como possibilidade um botão vermelho que desligue o computador e… puf!”. Mas, mesmo assim, reitera que é imperativo pensar sobre “esta e outras questões, em consciência, e não é no futuro, é já”. Também por isso, deixou um alerta em jeito de conclusão: “Temos, todos, de exigir mais rapidez no controlo ético da tecnologia da inteligência artificial”.
A importância da literacia energética
Depois de José Carlos Príncipe, o segundo dia da conferência (quarta-feira, 28 de Junho) prosseguiu com a apresentação de Nelson Lage, da ADENE, dedicada à literacia energética enquanto ferramenta essencial para a energia e a transição climática. Para o presidente da Agência para a Energia, trata-se de uma “poderosa ferramenta”, que além de criar um sentido de consciência geral, também ajuda a despoletar o passo seguinte, ou seja, uma acção colectiva que contribua para a preservação da energia e dos recursos.
“A literacia energética é essencial para transformar as pessoas em agentes de mudança, colaborando activamente na construção de um mundo melhor para todos. Não somente agora, mas também no futuro”, afirmou Nelson Lage durante a sua intervenção por vídeo-conferência. Para que a literacia energética seja efectivamente uma prioridade, acrescentou o responsável da agência portuguesa, é necessário que haja “cidadãos informados e participativos na energia, porque são os protagonistas da transição energética que nos conduzirá a uma sociedade mais justa, sustentável e democrática.”
Para isso, a ADENE tem promovido diversas iniciativas, programas e projectos, com Nelson Lage a apresentar vários exemplos. Entre eles, o mais recente é o lançamento (esta semana) da Rota da Energia na Madeira, uma acção a nível nacional que desde 2021 realiza sessões de formação e informação em dezenas de concelhos do país, nomeadamente junto de escolas, empresas, técnicos e cidadãos em geral. Além disso, organiza também uma Escola de Verão com o objectivo de incentivar a literacia energética junto dos mais novos. Na área da formação, destaque ainda para a Academia ADENE e para a participação na criação do Centro Protocolar de Formação Profissional para a Transição Energética.
Outros exemplos de actividades da agência são o site “Poupa Energia”, com uma importante componente informativa e de aconselhamento, ou as diversas acções de promoção das energias renováveis e da eficiência energética, bem como o apoio técnico prestado a várias entidades. Por fim, recordou as parcerias promovidas nos últimos anos, com destaque para a colaboração com a Rede Europeia de Agências de Energia (EnR), que a ADENE presidiu entre Fevereiro de 2012 e Março de 2013.
Da etiquetagem ambiental à circularidade
No terceiro dia do evento (quinta-feira, 29 de Junho), o destaque do programa foi a apresentação de Francesco Asdrubali, professor e investigador da Universidade de Roma (Itália), que falou sobre o papel da etiquetagem ambiental no sector da construção. Já Paulo Santos, da ADENE, escolheu como tema as ferramentas inovadoras que estão a ser desenvolvidas para promover a sustentabilidade e a circularidade nas organizações e no ambiente construído.
A CEES 2023 termina esta sexta-feira (30 de Junho) com um dia só para sessões paralelas. Entre os temas em análise estão, por exemplo, a promoção de edifícios educacionais sustentáveis em associação com esquemas sustentáveis de mobilidade ou a valorização de resíduos naturais para melhorar o isolamento sonoro. Mas também o impacto da preservação da herança cultural; o design inclusivo no contexto das JustGreenCities; o estímulo de comportamentos eficientes do ponto de vista energético em famílias com crianças; ou a sustentabilidade social de regeneração urbana numa comunidade histórica (o caso de rua Pingjiang, em Suzhou, China).
Recorde-se que no primeiro dia de conferência (terça-feira, 28 de Junho) um dos temas em destaque foi a gestão da água na Madeira, juntamente com o papel dos materiais inovadores face às alterações climáticas.
A conferência internacional “Construction, energy, environment & sustainability (CEES) 2023 é organizada pelo Itecons e pela Universidade de Coimbra, em colaboração com o centro de investigação canadiano CONST-NRC.
Fotografia de destaque: © Itecons