Aprender com os melhores, aprender com os bons exemplos e aprender com os erros – este poderia ser o resumo da sessão sobre Estratégia do terceiro dia da Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes. O evento, que acontece esta semana, a partir de Évora em formato híbrido, junta líderes regionais europeus e especialistas nacionais e internacionais num debate sobre a visão para o futuro das comunidades inteligentes na Europa.

Nesse sentido, foi possível ouvir a experiência de Miguel Ángel García Fuentes, CARTIFF, Head of Strategy, descrito como “o” especialista em smart cities“, em grande medida pelo facto de a CARTIFF coordenar diversos projectos,  financiados pela União Europeia, em cidades como Hamburgo, onde estão a implementar estratégias para transformar os ecossistemas em locais mais sustentáveis e “smart”. O responsável apontou que as cidades têm de conseguir dar resposta a todos os desafios actuais, no âmbito do ambiente, recursos,  iniquidade existente,  tecnologia, governação ou mesmo de novos desafios, como os trazidos pela pandemia, tendo sempre em mente que todas as transformações devem ser sempre feitas a pensar nos cidadãos. Na elaboração da estratégia, Ángel García Fuentes enumerou três prioridades fundamentais: processos e infra-estrutura integrada; edifícios/construção sustentáveis; e mobilidade urbana sustentável.

Já Miguel de Castro Neto, subdirector da NOVA IMS e coordenador do NOVA Cidade – Urban Analytics Lab , deu três exemplos portugueses de smart regions: Oeste, Algarve e Alentejo Competitive Intelligence Center. Esta última quer aproveitar a transformação digital e as capacidades analíticas de dados para potenciar os melhores clusters económicos do Alentejo. Aproveitando o capital humano para criar organizações orientadas para os dados, este projecto, que consiste na reformulação de uma escola, começou há dois anos e a primeira fase deverá estar concluída antes do Verão.  Depois disso, será iniciada a segunda fase, na qual se tentará atrair as empresas mais competitivas no Alentejo para o Competitive Intelligence Center, proporcionando formação em data science e gestão de informação, por forma a potenciar a transformação digital nas empresas, dotando-as de uma competitividade analítica e permitindo a criação de novos produtos e serviços. Em jeito de conclusão, Miguel de Castro Neto referiu que o projecto está a usar data science e inteligência artificial para mudar a “forma” do Alentejo.

Georg Houben, Policy Officer, Smart Cities & Communities Team na DG de Energia da Comissão Europeia, lembrou que hoje 75% da população da UE vive em cidades, com 55% a residir em cidades de pequena ou média dimensão. A par disso, cerca de 85% do PIB da UE é gerado nessas mesmas cidades, que disponibilizam empregos, crescimento, resiliência, investimento, inovação, redução do CO2. O responsável apontou algumas das oportunidades disponíveis para o desenvolvimento da inteligência territorial lançadas por Bruxelas, nomeadament o Pacto Ecológico Europeu ou os programas Horizonte 2020 e Horizonte Europa. No entanto, Georg Houben alertou para o facto de ser necessário atrair investimento privado. A transformação não se pode basear única e exclusivamente em investimento público.

Anna Lisa Boni, secretária-geral da EUROCITIES, por seu lado, referiu que uma das consequências da pandemia foi o incremento de parcerias, a todos os níveis (assentes na partilha de dados), e que os dados obtidos são analisados e que já existem milhares de exemplos, disponíveis na plataforma da EUROCITIES. Estes dados podem ser usados para melhorar as políticas e ajudar as cidades, por exemplo, no controlo da multidão, numa melhor gestão do tráfego, na implementação de regulamentação, na definição de novos acordos de energia, entre outros. “Melhores dados e em tempo real podem melhorar o planeamento urbano, suportar decisões locais e resultar em serviços mais user friendly“, avançou.

Como as zonas rurais podem beneficiar da digitalização

Sebastiano Toffaletti, secretário-geral da Digital SME Alliance, também presente neste terceiro dia da cimeira, destacou a importância das tecnológicas de pequena e média dimensão. Não só pelo seu carácter económico, mas também pela sustentabilidade e pelo facto de, elas próprias, serem uma fonte de desenvolvimento, principalmente em pequenas cidades ou zonas rurais. Por esse motivo, Sebastiano Toffaletti defende que o incentivo à implementação destas empresas pode ajudar a revitalizar áreas que sejam atingidas pelo despovoamento, perda de postos de trabalho ou cuja economia esteja fragilizada.

“Impulsionar ecossistemas digitais locais através de start-ups e por PME digitais locais não apenas ajudará a comunidade como uma fonte de inovação contínua, mas também melhorará as condições económicas para a comunidade, seja através de entrepreneurs, nómadas digitais irão utilizar espaços que as organizações tradicionais deixam vazios”, disse, acrescentando que estes não só criarão emprego, como atrairão talento e novas ideias e darão “nova vida a essas áreas”.  E, para isso, deve-se, sempre que possível, escolher fornecedores locais, porque isso ajuda a criar um ecossistema, rematou.

“Não há smart cities sem smart citizens” [cidadãos inteligentes], afirmou, por fim, Frédéric Vallier, secretário-geral no CCRE-CEMR (Council of European Municipalities and Regions), lembrando que é preciso investir em educação, na geração mais jovem e nos cidadãos, nomeadamente os mais idosos e os que não têm acesso à tecnologia.

Entre os dias 3 e 9 de Maio, a Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes acontece no Convento do Espinheiro em Évora, mas também no formato on-line, sob a Presidência Portuguesa da União Europeia e organizada pelo AURORAL, o projecto europeu coordenado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo – CCDR-Alentejo. O programa completo e a lista de speakers da Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes podem ser consultados aqui. O evento pode ser acompanhado on-line, através do canal de YouTube do AURORAL ou no website do projecto. O registo de participação oficial na cimeira deve ser feito on-line.

A revista Smart Cities é media partner oficial da Cimeira Europeia das Regiões para Comunidades Inteligentes.