O município de Sintra e os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) de Sintra lançaram, na passada sexta-feira, com a ajuda da CP, uma campanha de divulgação do sistema de recolha de biorresíduos “sobre carris”. A apresentação, que contou com a presença do presidente da câmara municipal de Sintra, Basílio Horta, decorreu na estação ferroviária de Sintra e inaugurou a carruagem SMAS de Sintra, devidamente decorada com as mensagens da campanha. O momento serviu ainda para sublinhar a importância ambiental e financeira da implementação da recolha selectiva dos resíduos orgânicos para os municípios, antecipando a sua obrigatoriedade em 2024.

Basílio Horta, presidente da câmara municipal de Sintra, discursou no lançamento da campanha de divulgação.
Com o objectivo de sensibilizar os sintrenses a aderirem ao sistema de recolha selectiva de biorresíduos, a carruagem da CP SMAS de Sintra fez, na sexta-feira de manhã, a sua primeira viagem oficial entre a vila e a estação do Rossio, em Lisboa. Na ocasião, Basílio Horta fez questão de destacar a importância da iniciativa para o concelho e para o país, reflectindo não só questões ambientais, mas também financeiras, no que toca às despesas mensais do município com o tratamento dos resíduos e que, segundo o governante, “podem chegar a um milhão de euros”.
Sendo que os resíduos orgânicos correspondem a mais de 40% da produção de resíduos indiferenciados, a implementação bem-sucedida da sua recolha selectiva vai ter impacto na factura mensal do município com o tratamento de resíduos. “Com o aumento da taxa [de gestão de resíduos], podemos atingir esses valores e, por isso, temos de avançar”, disse o autarca.
“A taxa de gestão de resíduos (TGR) tem vindo a aumentar – era de 12 Euros/tonelada e já está em 35 Euros/tonelada – e a perspectiva é que continue a aumentar nos próximos anos. A TGR é paga pela quantidade de resíduos colocada em aterro, por isso, todo o material que conseguirmos tirar do processo final através desta solução vai ser valorizado, e os resíduos que forem valorizados já não vão pagar TGR”, explicou, por sua vez, aos jornalistas o director delegado dos SMAS de Sintra, Carlos Vieira.
Passar a palavra para convencer os munícipes
Já sem o presidente da câmara sintrense, embarcaram, nesta viagem “inaugural” da carruagem dos SMAS de Sintra, a equipa dos SMAS de Sintra, incluindo Carlos Vieira, o presidente da Tratolixo, Nuno Soares, representantes locais e de municípios vizinhos, jornalistas e ainda dois actores que encarnaram o papel de saloios para ajudar no esclarecimento de algumas dúvidas sobre a recolha selectiva de biorresíduos. Além de divulgar este sistema, a acção teve também como objectivo levar os passageiros a aderirem no local, podendo levar consigo o balde e os respectivos sacos verdes ou optando pela entrega posterior em casa.
“Estamos a fazer acções de sensibilização espalhadas um pouco por todo o concelho e, neste caso específico, junto da CP, utilizando também os comboios, de forma a tentar sensibilizar os munícipes de Sintra e explicando que têm aqui uma alternativa para colocar os seus resíduos [orgânicos] valorizando-os em termos ambientais e financeiros”, explicou Carlos Vieira aos jornalistas, partilhando a vontade de que, neste ano, o processo, que é “uma prioridade” para o município e para os SMAS, entre em “velocidade de cruzeiro”.

Dois actores representaram o papel de saloios de Sintra para ajudar a esclarecer dúvidas sobre a recolha selectiva de biorresíduos.
Sintra avançou com o processo de recolha selectiva de biorresíduos em finais de 2020 através de um projecto piloto e em Outubro de 2022 iniciou a expansão da iniciativa a todo o município. “Temos [cerca de] 400 mil habitantes em Sintra e cerca de 160 mil clientes dos SMAS de Sintra; neste momento, andamos à volta dos 15-20 mil aderentes [à recolha selectiva de biorresíduos], o que é já um número interessante, mas queremos expandir muito mais”, afirmou o responsável.
O município liderado por Basílio Horta foi um dos quatro – a par de Cascais, Mafra e Oeiras – a optar pelo sistema de recolha selectiva dos biorresíduos em co-colecção, usando, para isso, o sistema de sacos ópticos. A cada munícipe aderente são entregues um balde de sete litros e um conjunto de sacos verdes, assim como um panfleto informativo sobre o que pode ou não ser colocado nesse balde. Quando cheio, o utilizador tem apenas de fechar o saco e colocá-lo no contentor do indiferenciado para ser recolhido, no processo habitual, pelos SMAS de Sintra. Daí, os resíduos seguem para a Tratolixo, entidade que gere o processo em alta, onde os sacos com biorresíduos são triados por um separador óptico, seguindo, depois, para valorização energética ou para compostagem.
“É um sistema pioneiro a nível nacional, disruptivo, que vai permitir aos municípios fazer a recolha de biorresíduos em co-colecção, desonerando-os de investimentos em novos contentores para colocar na via pública, em novas viaturas para recolhas dedicadas ou em lavagens específicas”, avança Nuno Soares, presidente da Tratolixo, cujo investimento no separador óptico necessário para tornar este método possível rondou os cinco milhões de euros. “A obra está a decorrer, estamos ainda a fazer testes piloto, mas todos os resultados apontam para muito bons indicadores.”
Olhando para o tema dos biorresíduos como “um desígnio nacional”, Nuno Soares está convicto de que esta “pode ser uma solução para muitos sistemas no país”, garantindo que o nível de investimento e de poupança foi analisado de forma conjunta entre a Tratolixo e os municípios que a compõem –Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra.
Adesão vale um euro de desconto na factura
Para fomentar a adesão gratuita dos munícipes, Sintra optou ainda por introduzir um desconto de um euro por mês no tarifário dos serviços de água e resíduos durante este ano.
“Há muito tempo que se fala nos sistemas PAYT – Pay as You Throw, nos quais a pessoa paga pela produção de resíduos, mas tenho uma visão um pouco diferente sobre isso que tenho tentado levar a cabo na direcção dos SMAS. Procurámos junto da entidade reguladora, ERSAR, encontrar um meio termo que fosse interessante [tanto] para nós podermos implementar o sistema, [como] também para que a própria entidade reguladora percebesse que era uma mais-valia para os munícipes”, relata Carlos Vieira. “A ideia dos SMAS foi devolver um euro todos os meses na factura dos clientes que aderirem a este processo, [assim] aliamos a visão da mais-valia financeira a este processo.”
Além do sistema de recolha selectiva de biorresíduos junto dos clientes domésticos, os SMAS de Sintra estão também a reforçar a recolha junto de agentes económicos no sector da restauração, em cantinas escolares e de outras instalações sociais. Neste caso, o sistema será diferente, com recurso a contentorização e a uma viatura de recolha próprias, não necessitando, depois, de ser separado em alta. Segundo o representante dos serviços municipalizados, haverá ainda uma solução “intermédia” para pequenos cafés e restautantes, com produção mais pequena, que terão à disposição baldes de 20, 30 ou 40 litros e os mesmos sacos verdes, para recolha também em co-colecção.
Recorde-se que, a partir de 1 de Janeiro de 2024, a recolha selectiva de biorresíduos ou a sua separação e reciclagem na origem passa a ser obrigatória, cabendo aos municípios garantir o seu cumprimento. A exigência está prevista pela Directiva dos Resíduos.