Depois de três dias de evento, a edição de 2020 do Portugal Smart Cities Summit, que teve lugar em Lisboa, terminou ontem com a presença do ministro da Economia, Pedro Siza Vieira. Na sessão de encerramento, o governante deixou uma mensagem de oportunidade relativamente aos recursos financeiros que aí vêm e fez questão de assinalar o regresso de eventos como este, reforçando o imperativo de retomar a normalidade “de uma forma compatível com as salvaguardas de saúde pública”.
Num evento dedicado às cidades inteligentes, Pedro Siza Vieira destacou a oportunidade trazida pelos pacotes financeiros que vão estar disponíveis para o país para um investimento que terá de ser feito “aproveitando o potencial das tecnologias digitais”.
O governante lembrou os perto de 30 mil milhões de euros (dos quais 15 mil milhões a título de subvenção) do próximo quadro financeiro plurianual europeu, 2021-2027, a que Portugal poderá aceder, assim como os vários programas de apoio comunitário, como o Horizonte Europa, sucessor do Horizonte 2020, ou o Connecting Europe Facility. Também os 750 mil milhões de euros alocados recentemente pela Comissão Europeia ao instrumento NextGenerationEU foram referidos pelo ministro português, lembrando que as prioridades europeias ditam que a acção climática e a transição digital recebam, respectivamente, 37% e 20% destes fundos.
Apesar do montante inédito disponibilizado, para o governante, a sua execução vai depender de um trabalho conjunto já que terá de acontecer ao longo de dez anos por vários executivos e diferentes responsáveis políticos – “É um exercício de todos, todos temos de trabalhar para construir isto”, afirmou, apelando a que “se evite o fatalismo de considerar que os fundos são insuficientes” e que “Portugal não será capaz de aproveitar estes recursos”.
A edição deste ano do Portugal Smart Cities Summit marca o regresso da Fundação AIP aos eventos empresariais, desta feita, no Centro de Congressos de Lisboa e com um modelo híbrido, que junta o formato presencial e digital. “É importante para mim estar aqui e assinalar o que é voltar a ter um evento”, afirmou o ministro. “A pandemia está aí e vai continuar. Os nossos comportamentos moldam-se às novas exigências, mas não podem simplesmente desaparecer”.
“É muito reconfortante retomar as nossas actividades com o Portugal Smart Cities Summit, porque este abraça as principais áreas e clusters que são decisivos para se ganharem os desafios da transição energética e da transição digital (…) com a aprendizagem que as empresas e as pessoas fizeram nesse período [de confinamento], estamos hoje em condições de apoiar as empresas a retomar o seu pleno funcionamento, num quadro em que tem de prevalecer um equilíbrio inteligente e responsável entre os imperativos de saúde pública e as exigências de crescimento da economia”, disse, por sua vez, o presidente da Fundação AIP, o Comendador Jorge Rocha de Matos, garantindo o regresso do certame em 2021.
Esta foi a sexta edição do Portugal Smart Cities Summit, que decorreu entre os dias 22 e 24 de Setembro. Nestes três dias, tiveram lugar seis conferências, com a participação de mais de 80 oradores nacionais e internacionais, que, segundo a organização, contaram com uma audiência presencial e on-line e mais de 6000 visualizações no live streaming, transmitido diariamente na FIL Virtual, a app do evento, e Youtube.
Oportunidades para a cidade média, mas também para a smart nation
“Nunca o conceito de inteligência dos territórios foi tão importante (…) O salto tecnológico é acelerado, territórios e autarquias que não souberem apanhar este comboio ficarão para trás”, admitiu António Almeida Henriques, vice-presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP) e presidente da secção Cidades Inteligentes, durante a sessão de abertura do Portugal Smart Cities Summit.
Tendo em conta a actual situação pandémica, o também presidente da câmara municipal de Viseu lembrou que “a digitalização está cada vez mais inscrita na agenda” e, por isso, a cobertura digital “tem de ser uma prioridade”. Numa visão optimista, Almeida Henriques referiu que a Covid-19 veio trazer oportunidades para os territórios do interior, com a possibilidade do teletrabalho, num contexto em que se impõe o “conceito de cidade média, que tem de estar no centro [da estratégia] para criar riqueza nestes territórios”.
Numa perspectiva mais macro, Nelson Pinho, chefe de gabinete do secretário de Estado da Transição Digital, chamou à atenção da necessidade de desenvolver standards e a interoperabilidade, no sentido de evolução de “smart city para uma smart digital nation”. O responsável lembrou o Plano de Acção para a Transição Digital, aprovado em Abril passado, onde está vertida a necessidade de desenvolver uma Estratégia Nacional para as Smart Cities. “Convoco-vos a todos – porque esta estratégia não vai ser fechada em um, dois, três ou quatro gabinetes –, instituições públicas e privadas para contribuírem para esta estratégia porque esta deve ser nossa, deste ecossistema, e para todos”, declarou.
Para dar a conhecer os projectos que estão a desenvolver, alguns municípios portugueses aceitaram o desafio e marcaram a sua presença física no certame. Na zona de exposição, foi possível conhecer as iniciativas desenvolvidas por Viseu, Seixal, Cascais, Sintra, Torres Vedras, Aveiro, Fundão, Portimão e Mangualde. Mas não só: Leiria, Lisboa, Vila Nova de Gaia, Maia e Barreiro e ainda a AMRS – Associação de Municípios da Região de Setúbal participaram no programa de conferências, partilhando as suas experiências em matéria de inteligência urbana.
Para além dos responsáveis municipais, o congresso contou com a presença de vários membros do Executivo, entre os quais João Matos Fernandes, ministro do Ambiente e Acção Climática, que assinalou o arranque do congresso e lembrou que as autarquias e empresas são “parceiros fundamentais” para alcançar os objectivos nacionais em matéria de descarbonização.
Alexandra Leitão, ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública, João Galamba, secretário de Estado da Energia, Inês dos Santos Costa, secretária de Estado do Ambiente, e Eduardo Pinheiro, secretário de Estado da Mobilidade, foram também oradores em destaque, por estes dias, no Centro de Congressos.
Saiba mais sobre esta edição do Portugal Smart Cities Summit na edição de Outubro/Novembro/Dezembro da Smart Cities.