O município de Loulé e o CEiiA assinaram, na última quinta-feira, um protocolo de cooperação para a implementação de iniciativas de âmbito tecnológico com vista a aproximar a cidade algarvia da neutralidade carbónica. Entre as acções previstas está a criação de um Mercado Local Voluntário de Carbono.
Oficializando uma parceria que tem vindo a ser desenvolvida nos últimos meses, a câmara municipal de Loulé e o CEiiA acordaram formalmente a união de esforços para reduzir as emissões de carbono no território algarvio recorrendo, para isso, ao uso da tecnologia e à valorização das acções dos cidadãos.
A cooperação entre as duas entidades visa a promoção da mobilidade sustentável através da criação de um mercado local voluntário de carbono, a integração de Loulé na rede de cidades neutras em carbono, a quantificação do stock de carbono e do potencial do sequestro pela biomassa vegetal e a implementação de medidas com vista à justiça climática transversais na gestão municipal.
Créditos para a sustentabilidade
Para a criação do Mercado Local Voluntário de Carbono em Loulé, será usada a plataforma AYR, um mecanismo de valorização das emissões evitadas através de um sistema de créditos desenvolvido pela entidade de Matosinhos e que foi um dos vencedores dos prémios Novo Bauhaus Europeu em 2021.
Através de dispositivos colocados nos diversos modos de transporte, a plataforma vai permitir quantificar as emissões evitadas sempre que um munícipe optar por um comportamento mais sustentável, concedendo-lhe créditos em cada acção. Esses “activos ambientais” são transaccionáveis e vão poder ser trocados por bens e serviços verdes na cidade, criando uma “moeda de sustentabilidade” para usar no Mercado Local Voluntário de Carbono louletano e valorizando, assim, a componente comportamental dos cidadãos.
“Este Mercado permite gerar este tipo de transacções, com uma grande preocupação que é a de que estes sejam créditos fidedignos, tenham qualidade e impacto na neutralidade carbónica da cidade”, explicou José Rui Felizardo, administrador do CEiiA.
Além dos munícipes, a autarquia quer também envolver as empresas que operam na cidade, nomeadamente a CIMPOR, o IKEA, o Mar Shopping, o Lidl, o Aldi, entre outros.
“Este é um desafio que é lançado a toda a comunidade, às empresas, às famílias, aos cidadãos, todos são chamados a dar aqui o seu contributo”, afirmou Vítor Aleixo, presidente da câmara municipal. Estas iniciativas farão de Loulé “uma espécie de laboratório vivo”, disse, mostrando-se “feliz” com este “casamento” entre a sustentabilidade ambiental e a tecnologia. Segundo o autarca, “a vontade política e os recursos humanos sensibilizados para as questões da neutralidade carbónica” fazem do concelho algarvio “um parceiro apetecível”.
No âmbito das acções implementadas com o apoio do CEiiA, a autarquia ambiciona também juntar-se à “Rede de Cidades Neutras em Carbono”, que, segundo a mesma fonte, conta já com oito cidades portuguesas, dando, assim, visibilidade às suas acções, mas também “maior responsabilidade”.
A isto e com vista à promoção da mobilidade suave, a autarquia anunciou ainda que se prepara para abrir um concurso público para o lançamento de uma rede de bicicletas partilhadas em Loulé, Quarteira, Vilamoura e Almancil, para um período de cinco anos, no valor de 6,7 milhões de euros.
Um “novo capítulo”
Além da neutralidade carbónica, o edil de Loulé manifestou outra preocupação para o futuro: a justiça climática. Sobre o tema, Vítor Aleixo falou de um “novo capítulo” que se irá abrir na política ambiental e de acção climática do município.
“Não haverá mudança no mundo se, associada à transição climática, não formos justos com toda a comunidade. A transição e a adaptação à mudança do clima têm custos incríveis que não podem ser repercutidos em segmentos específicos de pessoas que normalmente não têm voz e são aquelas que são chamadas a pagar a maior parte da factura, quando nem sequer são elas os maiores responsáveis pelas alterações do clima”, sublinhou.
Recorde-se que, nos últimos anos, as políticas ambientais têm sido uma prioridade do município de Loulé, que, entre outras iniciativas, foi o primeiro do país a aprovar um Plano Municipal de Acção Climática, conforme é exigido pela Lei de Bases do Clima.