Um projeto de restauro ecológico em Idanha-a-Velha, no concelho de Idanha-a-Nova, está apostado em devolver a Natureza a um terreno de 1.600 hectares. A iniciativa é da Terra Agora, uma fundação dedicada à conservação, regeneração e valorização das paisagens naturais nacionais, que se propõe a criar um banco de terras direcionado exclusivamente a este propósito.
Para isso, começa por adquirir terrenos, seja através da compra ou de doação, com o compromisso de não os voltar a vender nem usar para outros fins, de modo a cumprir esta missão durante várias gerações. “O nosso conceito passa por libertar a terra, fazendo da fundação um cofre, um banco, e não intervindo especificamente no cuidado dela. Isto porque escolhemos um guardião coletivo, que terá de apresentar uma visão de muito longo prazo para os terrenos, mais de 150 anos”, disse à Smart Cities Ivan Sellers, Presidente do Conselho de Curadores da Terra Agora. A partir deste horizonte temporal, os projetos eleitos devem apresentar retornos em diversos níveis – natural, social, humano, construído e financeiro -, fomentando o desenvolvimento local regenerativo.

Terrenos de Idanha-a-Velha já recebem ações regenerativas e diversos eventos.
Depois de doados por um mecenas, os terrenos de Idanha-a-Velha tornaram-se pioneiros neste objetivo, graças a um projeto que, entretanto, passou a ser desenvolvido em parceria com a empresa PlantarFuturo. Em campo está já uma equipa de nove profissionais empenhados com várias ações regenerativas, como a reflorestação ou a produção de azeite biológico. Ao mesmo tempo realizam-se as varias atividades artísticas, encontros e oficinas.
“Nesta primeira fase queremos experimentar, levar pessoas com conhecimento, para que elas plantem em diferentes parcelas e meçam as taxas de sucesso de diversas abordagens ecológicas”, revela Ivan Sellers, para quem o envolvimento da população local é primordial. “É muito pouco provável neste tipo de projetos que haja um retorno financeiro, por isso a participação das pessoas torna-se muito importante, por exemplo a podar ou a fazer limpezas de mato. E elas nunca o fariam se não sentissem que este projeto ecoa nelas e faz algum sentido nas suas vidas”, acrescenta.
Depois de Idanha-a-Velha, a fundação procura agora adquirir novos terrenos, seja a título oneroso ou gratuito, além de desafiar proprietários de todo o país a juntarem-se a esta missão. A ideia é aplicar o mesmo ideal noutros locais e regiões, mesmo que com outros modelos ou numa escala mais reduzida. “E porque não fazê-lo também em áreas urbanas?”, pergunta Ivan Sellers, sugerindo que a Fundação teria interesse em adquirir propriedades em cidades, como forma de combater a especulação imobiliária. “Isso poderia acontecer, por exemplo, com um edifício muito prezado pela comunidade local, mas que alguém quisessem demolir para outros fins”, concretiza.
Para já o foco principal é o terreno de Idanha a Velha, que faz dele o primeiro grande passo da fundação. De alguma forma torna-se também um contributo para as metas da Lei do Restauro da Natureza, aprovada recentemente pela União Europeia, cujo objetivo é a recuperação de pelo menos 30% dos habitats em mau estado até 2030, 60% até 2040 e 90% até 2050.
“Num país onde ardem todos os anos 150 mil hectares, reconstruir 1600 em Idanha-a-Velha é uma gota de água, mas não deixa de ser um passo”, conclui o responsável da Terra Agora.