Um território analítico, resiliente, preditivo, de conhecimento, e, acima de tudo, criativo. Esta é a fórmula encontrada pelo município de Esposende para definir aquilo que é a visão smart city do concelho. Numa sessão de apresentação pública, que teve lugar no passado dia 5 de Setembro, a autarquia deu o pontapé de saída para uma iniciativa tecnológica que atribui às artes um papel de destaque.

Com vista à transformação digital do território, o projecto “Esposende SmartCity” conta com o apoio tecnológico do dstgroup e tem como objectivo fazer do município uma Cidade Analítica, Resiliente, Preditiva, de Conhecimento e Educação. Mas não só: nesta estratégia, o elemento diferenciador é a ligação às artes e à cultura, propondo Esposende como um “Território Criativo”.

“O que fascina e marcará para sempre o território de Esposende é [o facto de ser] o território criativo. É nossa prioridade: ter ruas repletas de arte que se constituam como apelo à visitação. [Um local onde] A arte, as pessoas e o território encontrem forma de se fundir”, afirmou, em conversa com a Smart Cities, Benjamim Pereira, presidente da câmara municipal de Esposende.

Durante a apresentação do projecto, foi já dado um passo nesse sentido, com a inauguração da instalação artística ambiental “octo_ _ _ _”, da autoria de Pedro Tudela e Miguel Carvalhais, estando já prevista a chegada de mais duas obras de arte pública urbana na cidade até ao final do ano, uma delas terá, “à partida”, da assinatura do artista Vhils. “Queremos que a cidade passe a ter uma vida artística e cultural emergente, com o apoio do conceito tecnológico da smart city”, disse o governante.

No que se refere ao eixo da analítica, a proposta passa por tirar partido da recolha de dados, sendo que, nesta primeira fase, está já a avançar a instalação de sensorização para a qualidade do ar, ruído e índice ultravioleta. No entanto, a ideia é começar por utilizar os sistemas de informação já existentes e ir alargando a sua aplicação, em áreas como o ambiente, mobilidade, energia, cultura, património e reabilitação urbana. “Não estamos a partir para as smart cities do zero, temos mecanismos a funcionar e por isso é que nos sentimos atraídos por este mundo, no qual já temos o resultado concreto daquilo que é o investimento tecnológico e o benefício que daí advém”, afirmou Benjamim Pereira.

Ao reforçar o conhecimento nas diversas matérias ligadas à gestão do território, a autarquia espera vir a ser capaz de prever situações e responder de forma preventiva. Com isto, o projecto dá forma à “cidade preditiva”, que será, no futuro, gerida num centro de controlo.

O conhecimento que resulta deste processo vai ser particularmente útil para fazer frente aos efeitos das alterações climáticas. “O conceito de território resiliente é muito importante para Esposende, que está situado junto ao oceano Atlântico, com cotas muito baixas, com problemas de inundações e um fenómeno agressivo de erosão costeira”, explicou. A medição e acompanhamento de parâmetros ambientais permite “definir estratégias para o futuro, como a eventual deslocação de áreas da cidade ou de protecção, de uma forma mais efectiva, com menos custos e, talvez, com melhores resultados operacionais”, referiu o autarca.

Já enquanto cidade de conhecimento e educação e contando com o apoio do Centro de Educação Ambiental, Esposende vai apostar na acção orientada para a educação e sensibilização dos cidadãos, através da tecnologia digital, em matérias como o ambiente e sustentabilidade e uso mais eficientes dos recursos naturais. “As pessoas são agentes de desenvolvimento e se conseguirmos ir à sua base, à génese, à escola, e começarmos a trabalhar, a ensinar e a educar as pessoas, naturalmente que teremos um futuro muito melhor para nós, com cidadãos mais capacitados, inclusivamente, para pensar aquilo que queremos no futuro”, disse Benjamim Pereira.

Nesta fase, “os primeiros passos do projecto” contam com um orçamento de cerca de 150 mil euros, “via município, sem qualquer apoio do Portugal 2020”. No entanto, o autarca garante que todas as obras que estão a ser lançadas “têm já esta preocupação com a integração smart city, a todos os níveis”, não sendo, assim, mensurável o montante total investido, uma vez que não é “um investimento directo numa rede ou empreitada”.

Para além de fornecedor de soluções tecnológicas, através da marca Mosaic, a parceria entre o dstgroup e o município esteve também alinhada na vertente artística e cultural do projecto, desta feita, com a participação da zetgallery. “Há décadas que o grupo investe na cultura para se tornar mais humanista”, afirmou José Teixeira, CEO da empresa, durante a apresentação do projecto. “O Mosaic é uma proposta de valor económico e social, assente em quatro pilares – Sustentabilidade, Território, Pessoas e Arte. A cultura é a variável que tornará a cidade mais competitiva”, acrescentou, explicando que o objectivo ali foi juntar a “poética da cidade” ao pensamento digital, numa “proposta de urbanismo sensual, que liga as artes e a música” ao território.

No arranque do projecto, marcou ainda presença Tiago Miranda, do Instituto de Biosustentabilidade da Universidade do Minho – outro parceiro da iniciativa, cujo contributo assentará, essencialmente, nos eixos ambiental, através dos projectos OMARE – Observatório Marinho de Esposende e Next-Sea, e criativo, com a criação de obras de arte que abordam o tema da sustentabilidade.

Para a autarquia, o Esposende SmartCity é uma resposta ao “contexto actual, que impele a projectar a cidade do futuro e a procurar estratégias” para a melhoria da qualidade de vida da população. “O papel dos municípios já não é o do licenciamento, mas o de preparar uma cidade para os tempos vindouros”, afirmou Benjamim Pereira.