Com 1755 gravado na memória, os lisboetas já se habituaram ao fantasma de um sismo de grande magnitude. A câmara municipal de Lisboa não descuida a ameaça e tem procurado soluções que ajudem a cidade a viver com o risco. Entre as mais recentes está a GeoSIG, uma plataforma de dados que vai permitir conhecer melhor o subsolo.
Em 2015, Lisboa assinalou o 260º aniversário do Terramoto de 1755. A ocorrência de um sismo semelhante na cidade é dada como certa, mas é impossível prever quando irá acontecer. Tanto pode ter lugar daqui a mil anos, como ainda antes de terminar de ler este artigo. Os habitantes da capital já se habituaram a viver com a ideia, mas nem por isso esperam que as autoridades da cidade descuidem a redução dos efeitos deste risco. Desde o início de 2015, a câmara municipal de Lisboa (CML) conta com uma nova ferramenta para o efeito. O GeoSIG é uma aplicação web capaz de gerir toda a informação de dados geológicos, geotécnicos e hidrogeológicos que a cidade possui, e que, de acordo com Carlos Simões, chief operating officer da Smartgeo, ultrapassam os dois mil estudos, “elaborados no âmbito de muitos projectos e obras realizadas no concelho ao longo do tempo, desde o início do séc. XIX”.
Graças à ferramenta, desenvolvida pela Smartgeo, a informação passa a estar disponível de forma simples para a CML, universidades e outras entidades a quem esta informação possa ser útil, com a possibilidade de incluir novos estudos, permitindo, desta forma, um “retrato” do subsolo lisboeta mais completo e actualizado.
As vantagens da solução em termos organizacionais são claras, mas, se a terra tremer em Lisboa, como é que a GeoSIG vai ajudar? A resposta passa por “conhecer para mitigar e prevenir”. Cláudia Pinto, geóloga no departamento de Informação Geográfica e Cadastro da CML, explica: “Através destes dados, pretende conhecer-se o comportamento dos solos face à vibração induzida por um evento sísmico e os eventuais efeitos de sítio/efeitos de amplificação de onda locais. A informação permitirá a definição de medidas a integrar ao nível dos regulamentos dos instrumentos de gestão municipais e que promovam reforços estruturais em zonas mais vulneráveis, constituindo deste modo uma medida de mitigação dos efeitos de um sismo”.
Conhecendo o subsolo, é possível evitar ou reforçar construções em zonas mais frágeis, defende Carlos Simões, e, assim, mitigar possíveis danos. Em termos de prevenção para o futuro, “os mapas temáticos provenientes do GeoSIG podem também verter informação para o próximo Plano Director Municipal, sob a forma de recomendações acerca da construção em diferentes zonas de Lisboa, de acordo com a morfologia do seu subsolo”, e ainda “planear a construção abaixo do solo, como caves ou garagens, de forma a evitar um dos problemas mais comuns nas cidades actuais que é a inundação por águas fluviais subterrâneas destas construções”, acrescenta o especialista.
A complexidade técnica dos dados armazenados no GeoSIG e dos seus modelos geográficos não permite que estes sejam directamente utilizáveis pelos cidadãos, pelo menos, na sua fase actual. Todavia, Carlos Simões não descarta a ideia de que isto possa acontecer, no caso de a informação “vir a ser utilizada pelas entidades responsáveis em cenários de desastres naturais para planeamento de salvamentos em caso de derrocadas de terreno e construções e para a eventual reconstrução das áreas afectadas”.
Nos gabinetes do município, o uso da plataforma é feito em três fases: uma inicial, na qual a informação será usada pelos serviços cuja missão é a elaboração de pareceres de âmbito geológico; posteriormente, serão produzidos mapas temáticos relativos a diversos factores de ambiente geológico, que serão, então, disponibilizados aos restantes serviços municipais e constituirão informação fundamental ao nível do planeamento da cidade; e, por fim, com a integração dos dados nas peças dos instrumentos de Gestão Territorial e nos Planos de Emergência.
Na sua missão de retratar o subsolo, o GeoSIG não deverá ficar só por Lisboa. Segundo o responsável da Smartgeo, esta é uma solução “perfeitamente escalável para qualquer outra cidade e está nos planos da empresa e da CML o início de contactos com outras autarquias portuguesas e estrangeiras para a sua disseminação”.
Plano de leitura obrigatória
De “moderado a elevado” é como Cláudia Pinto classifica o risco de ocorrência de um sismo em Lisboa. A razão deve-se ao facto de a cidade se encontrar próxima de “fontes sismogénicas activas”. Por sua vez, o risco de danos é, segundo a especialista, variável em todo o concelho. “Uma avaliação do risco face a um fenómeno natural implica a determinação da probabilidade de ocorrência de um evento, a vulnerabilidade do território e a quantificação das perdas, quer de bens quer de vidas”, esclarece. “Essa análise, tendo em conta todas as variáveis envolvidas, entre as quais o tipo de formação geológica, a espessura dos materiais de cobertura e o próprio parque edificado, é de difícil quantificação/avaliação pelo que, estudos de âmbito mais local são mais indicados em detrimento de estudos à escala do município”, complementa.
Dada a sua vulnerabilidade, Lisboa dispõe de um Plano de Emergência, desenvolvido pelo Serviço Municipal de Protecção Civil e que inclui medidas de actuação para antes, durante e após a ocorrência de um sismo. “Este Plano pode e deve ser consultado por todos os cidadãos, uma vez que inclui uma série de medidas de fácil aplicação e que podem ajudar a salvar muitas vidas”, aconselha a geóloga da CML. O documento está disponível no sítio on-line da Protecção Civil
Conselhos práticos em caso de sismo (recomendações elaboradas com a ajuda do Comandante Luís Carvalho, da Protecção Civil da Amadora)
Plano de protecção:
Os adultos e as crianças devem dialogar sobre o que fazer se ocorrer um sismo. Ensine às crianças como desligar a electricidade, a água e o gás. Combine um ponto de encontro com a sua família
Durante o sismo:
EM CASA OU NUM EDIFÍCIO
Locais mais SEGUROS:
· Vãos de portas, de preferência em paredes mestras;
· Cantos das salas;
· Debaixo de mesas, camas ou outras superfícies resistentes.
Locais mais PERIGOSOS:
· Elevadores;
· Junto a janelas, espelhos e chaminés;
· No meio das salas;
· Saídas.
Tenha sempre à mão um estojo de emergência:
· Rádio a pilhas;
· Lanterna a pilhas e pilhas de reserva;
· Estojo de primeiros socorros;
· Medicamentos essenciais;
· Agasalhos.
Tenha sempre armazenados água e alimentos enlatados para dois ou três dias.
*O artigo foi publicado, originalmente, na edição #05 da revista Smart Cities. Aqui, com as devidas adaptações.