O que é uma smart city é um tema que, ainda hoje, levanta muita discussão, no entanto, um pouco por todo o mundo, as cidades vão construindo aquilo que é a sua visão de cidade inteligente com base no que são os seus contextos e prioridades. Passada essa fase, há uma pergunta que se impõe: afinal, o quão smart é um território e como podemos medir o seu desempenho?
Abordagem e metodologia
Entre os diferentes debates em torno das cidades inteligentes, o tópico da medição do desempenho tem vindo a ganhar relevância. O desempenho nas smart cities implica a medição dos avanços de um território no que respeita à sua capacidade de proporcionar uma melhor qualidade de vida aos seus cidadãos.
Vários autores (por. ex. Giffinger, 2007) e projetos (por ex. CITYKeys [1]) forneceram enquadramentos para que municípios meçam e monitorizem o respetivo desempenho enquanto smart city. Embora estes enquadramentos sejam úteis e interessantes, muitas vezes, medem o desempenho de uma cidade a partir de uma abordagem do exterior para o interior. Isto implica que o desempenho é, muitas vezes, medido com base em conjuntos de indicadores predefinidos, que são utilizados sobretudo para comparar territórios.
No Smart City Institute, decidimos focar-nos numa abordagem mais gerencial. Desenvolvemos um modelo baseado na abordagem do interior para o exterior. Isto significa que, na medida em que cada território é diferente, o seu sistema de medição do desempenho deve basear-se nas suas próprias especificidades. Pretendemos orientar municípios na definição do seu próprio sistema de medição do desempenho, um sistema que lhes permita melhorar os respetivos objetivos e processos.
Desta forma, propomos um modelo integrativo e derivado diretamente das especificidades e estratégias do território. Em termos de metodologia, o modelo foi elaborado com alicerces na literatura existente sobre gestão do desempenho empresarial, gestão do desempenho público e medição e gestão do desempenho de smart cities.
A nossa proposta:
PRINCÍPIOS BÁSICOS DA MEDIÇÃO DO DESEMPENHO
Uma vez que a perspetiva do interior para o exterior se baseia na estratégia e na análise de quais os temas relevantes, é necessário proceder meticulosamente com vista a compreender, de facto, o que medir e como medir.
Em primeiro lugar, é necessário que um município compreenda as suas especificidades territoriais, culturais, históricas, estruturais e organizacionais. Isto inclui um resumo dos principais processos e interesses e preocupações das partes interessadas. Em segundo lugar, os municípios têm de se questionar de que forma a tecnologia pode ser útil no respetivo processo de transição sustentável. Quando este ponto estiver claro, a visão tem de ser transformada em objetivos mais operacionais (resultados).
Quando os resultados estiverem definidos, os municípios têm de desenvolver um plano ou uma estratégia para definir como esses resultados irão ser atingidos. Resumidamente, têm de escolher que meios (por exemplo, dinheiro, recursos humanos) são introduzidos na organização, as atividades nas quais serão utilizados e as concretizações que irão resultar destas(es) atividades/processos.
Aquando da definição da visão a longo prazo, ou seja, os resultados pretendidos e os planos consequentes para os atingir, é também crucial que os municípios trabalhem o mais possível com os grupos de partes interessadas.
MEDIÇÃO DO DESEMPENHO
Passo 1. Definição de indicadores
Uma vez estabelecidos a estratégia e os projetos, os municípios têm de começar por definir indicadores. Para serem eficazes e eficientes, os municípios têm de definir indicadores de resultados, meios, processos e concretizações. Estes podem ser qualitativos ou quantitativos.
Os municípios devem estar cientes de que este processo é moroso, já que os indicadores têm de ser definidos e validados. Tal requer a inclusão da colaboração de peritos técnicos e políticos. Uma vez que definir o seu próprio conjunto de indicadores de uma forma eficiente pode ser moroso, as autoridades podem inspirar-se em indicadores existentes.
Passo 2. Definição do método de recolha de dados
Com vista a determinar em que posição se encontra no momento o município e onde pretende chegar, é necessário definir um método de recolha de dados que clarifique que tipo de dados (por exemplo, opinião pública, estatísticas, dados de sensores) pretende recolher e como pretende tratar os mesmos. Ao escolher um método, é necessário ter em mente que toda a atividade de medição incorre em custos no que respeita à implementação e manutenção.
Desta forma, é importante compreender verdadeiramente quem irá recolher os dados, com que frequência serão recolhidos, qual o custo e a dificuldade da recolha, quem irá analisar os dados e quem os irá reportar. Aspetos como a capacidade de recolher dados, a segurança dos dados, a legislação e a interoperabilidade têm de ser cuidadosamente considerados. Quando o método estiver definido, os municípios podem medir em que posição se encontram atualmente.
Passo 3. Definição de objetivos
Para serem eficazes, os indicadores têm de ser complementados com objetivos. Os objetivos são metas especificadas que indicam o número, o momento e a localização do que se pretende atingir. Para definir objetivos atingíveis, os municípios têm de se questionar sobre qual o nível de desempenho que necessitam de atingir para cada indicador, a forma como irão definir objetivos de desempenho adequados para estes indicadores, e quão desafiantes são esses objetivos de desempenho. O valor atribuído a esses objetivos pode ser considerado como a inclusão da mediação do presente e do nível desejado de melhoria.
Passo 4. Monitorizar
Uma vez definidos os indicadores, a recolha de dados e os objetivos, os municípios podem começar a monitorizar os seus resultados.
Passo 5. Valorização dos dados
Numa fase posterior, durante o processo de monitorização, as informações recolhidas têm de ser valorizadas. Entre as opções existentes, os municípios podem escolher valorizar os respetivos dados ao partilhá-los como dados abertos.
Podem também fazê-lo na forma de comunicações para simular decisões de gestão mais adequadas. As comunicações podem ser realizadas através de canais formais e informais, como relatórios, painéis ou apresentações.
Para obter explicações mais detalhadas, incentivamos a leitura do relatório na íntegra, que se encontra disponível aqui.
[1] Fundado pelo programa HORIZON 2020 da União Europeia, com a ajuda de cidades, o CITYKeys desenvolveu e validou indicadores chave de desempenho e procedimentos de recolha de dados para uma monitorização comum e transparente, bem como melhorou a comparabilidade de soluções de Cidades Inteligentes em cidades europeias (CITYKeys, n.d.).