Um estudo internacional avaliou a adaptação às alterações climáticas de 199 cidades mundiais, entre elas Lisboa, Almada e Setúbal, e concluiu que a maioria das medidas tomadas até ao momento são insuficientes e pecam por tardias. O trabalho, publicado na revista científica Nature Cities, revela que estes centros urbanos mostram preocupação com o tema e até já começaram a atuar, mas defende que é imperativo melhorar as respostas, a começar pela celeridade com que são tomadas.
“Perante as rápidas mudanças em curso, as coisas estão a avançar demasiado devagar. Fala-se muito, mas implementa-se muito pouco”, diz Matthias Garschagen, investigador da Universidade Ludwig-Maximilians de Munique (LMU), na Alemanha, citado pelo site da instituição. “Os nossos resultados mostram a necessidade de recuperar o atraso a todos os níveis”, até porque “há pouca mudança transformadora, envolvendo um repensar fundamental da gestão de riscos”, acrescenta o geógrafo, especializado em gestão de risco nas zonas costeiras.
De acordo com os investigadores, em muitos casos não parece haver uma relação evidente entre as medidas adotadas e a redução dos riscos. Além disso, embora as cidades costeiras tenham em consideração os riscos naturais futuros, como as inundações e o calor, raramente valorizam com os fatores socioeconómicos, caso das tendências da vulnerabilidade social. E, regra geral, as medidas e ações destes centros urbanos baseiam-se mais em acontecimentos passados e nos efeitos atuais das alterações climáticas, quando deveriam fazê-lo com base em fatores quantificáveis e projeções de riscos futuros.
“Outra questão importante é saber quando faz mais sentido abandonar as medidas de proteção costeira e considerar a reinstalação da população”, sublinha o coordenador do estudo, que considerou a influência de variados fenómenos extremos, como a subida do nível do mar, as inundações, as tempestades, a erosão costeira, os ciclones tropicais ou as ondas de calor.
O estudo mostra também que as regiões mais ricas implementam mais medidas de adaptação, como a construção de diques de grandes dimensões na América do Norte e da Europa ou a criação de abrigos para as populações mais vulneráveis. Já os países e regiões menos prósperas “foram deixados à sua sorte”, fazendo da família e da comunidade o principal suporte em caso de necessidade ou urgência. Ainda assim, identifica uma cidade num país de baixo rendimento com uma adaptação de nível médio: Maputo, em Moçambique. De acordo com o trabalho, esta cidade africana “incorpora medidas de adaptação nos seus planos de desenvolvimento e definiu responsabilidades claras para lidar com os impactos das alterações climáticas”.
Fotografia de destaque: © Luís Filipe Catarino – CM Almada