A partir desta semana, 14 300 habitantes do município de Sintra vão poder participar numa iniciativa piloto de recolha selectiva de biorresíduos, que serão, posteriormente, transformados em composto orgânico ou energia. O projecto, cujo lema é “Bio-recursos: demasiado bons para desperdiçar!”, é desenvolvido pelos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) de Sintra e pretende criar um modelo para levar esta prática a todo o concelho até 2023.

O projecto, lançado a 19 de Outubro, vai abranger 4752 fogos habitacionais nas zonas piloto de A-dos-Francos, Albarraque, Bairro da Felosa, Bairro da Tabaqueira, Cabra Figa (de Baixo), Casal do Marmelo, Covas, Manique de Cima, Moncorvo de Baixo, Moncorvo de Cima, Paiões, Rio de Mouro (velho), Serradas, Varge Mondar e Várzea.

Para implementar o sistema, serão distribuídos, a cada um dos fogos participantes, contentores (baldes) e sacos específicos, produzidos com 100% de plástico reciclado, para a deposição deste tipo de resíduos. A par disto, será feita uma acção de sensibilização ambiental com o objectivo de apelar à separação correcta dos resíduos, informar sobre os procedimentos de deposição e sobre os benefícios deste sistema.

“A acção baseia-se numa abordagem positiva por contacto pró-activo, na modalidade mista de telefone-a-telefone (TaT) e porta-a-porta (PaP), garantindo a maior segurança aos munícipes face às actuais exigências e risco sanitário”, adianta Carlos Vieira, director delegado dos SMAS de Sintra. Deste modo, a entidade vai aproveitar para divulgar as vantagens de aderir ao sistema, nomeadamente a menor produção de lixo indiferenciado, o que significa também menos esforço e tempo gastos na gestão doméstica dos resíduos, redução do espaço ocupado em aterros e um maior aproveitamento de recursos para energia e composto orgânico.

A adesão ao projecto piloto pode ser feita pelo telefone (910 443 505), sendo que, depois deste contacto, os munícipes recebem os materiais necessários – balde e sacos específicos. Aos aderentes será dado o dístico “Porta Recursos”, de forma a “potenciar os efeitos de pertença e reconhecimento social”, explicam os serviços municipalizados.

Para além dos SMAS de Sintra, o projecto conta também com a participação da Tratolixo, empresa intermunicipal de Sintra, Cascais, Oeiras e Mafra, que ficará responsável por receber os biorresíduos recolhidos e pela sua transformação em energia ou composto para agricultura.

Depois do projecto piloto, a intenção é que se possa levar a recolha selectiva de bio-recursos a todo o território sintrense, cumprindo, assim, com as exigências comunitárias, em particular a Directiva (UE) 2018/851. “Até 31 de Dezembro de 2023, as directivas comunitárias estabelecem que os biorresíduos (resíduos alimentares) devem ser separados e reciclados na origem ou recolhidos selectivamente, a fim de reduzir os resíduos encaminhados para aterro, permitindo a sua valorização”, explica Carlos Vieira, “pretende-se, com este projecto piloto, desenvolver um modelo de recolha selectiva de biorresíduos, testar e avaliar a sua implementação com vista ao cumprimento das metas e objectivos estabelecidos a nível nacional e comunitários, no sentido de alargar o sistema a todo o concelho de Sintra até 2023”.

Os biorresíduos representam a maior fatia entre todos os resíduos urbanos da Europa, cerca de 34%, segundo apurou um relatório recente da Agência Europeia do Ambiente. Desses, cerca de 60% são resíduos de alimentos, o que coloca o desperdício alimentar na ordem dos 173 quilos de alimentos/por cidadão/ano na Europa. Face a estes números, a redução e gestão dos biorresíduos, assim como a sua valorização, são determinantes para o cumprimento da meta europeia de reciclar 65% dos resíduos urbanos até 2035.

Economia circular, inovação e eficiência na estratégia

Enquanto entidade responsável pela recolha e transporte de resíduos urbanos no concelho de Sintra, os SMAS de Sintra assumem naturalmente a promoção deste projecto. Prestes a celebrar o seu 75º aniversário, em 2021, têm mais de 190 mil clientes e servem uma população de 386 mil habitantes, distribuídos num território com 320 quilómetros quadrados. Para além disso, são ainda responsáveis pela gestão dos sistemas públicos de drenagem, tratamento e destino final de águas residuais urbanas e recolha e transporte de resíduos urbanos a destino final adequado.

Neste contexto, revela Carlos Vieira, “os SMAS de Sintra querem assumir-se, cada vez mais, como a marca de referência no desenvolvimento sustentável do município de Sintra, assente em elevados padrões de protecção e valorização dos sistemas ambientais, consolidando uma imagem de confiança, transparência e competência”.

Em virtude da legislação, o projecto piloto de recolha selectiva de biorresíduos surge agora, mas economia circular não é novidade para esta entidade municipal de Sintra, que, há mais de 15 anos, criou o projecto “EcoÁgua”. A iniciativa consiste na reutilização de águas residuais tratadas para fins múltiplos, como a lavagem e higienização de contentores de superfície, varrição urbana e lavagem de arruamentos, limpeza e desobstrução de colectores de drenagem de águas residuais e limpeza de mecanismos das estações de tratamento de águas residuais. Desde a sua criação, o projecto já assegurou a poupança de quase 1,5 milhões de euros, com mais de 2,6 milhões de metros cúbicos de água reutilizada, garantem os SMAS de Sintra.

Nos últimos tempos, a entidade tem realizado uma “forte aposta na inovação”, da qual resultou a implementação do sistema de telegestão e o recente lançamento de uma plataforma digital renovada para agilizar a relação com os clientes. “O sistema de telegestão permite assegurar volumes de armazenamento compatíveis com os consumos previstos e reais, operar remotamente e detectar anomalias em equipamentos, optimizar a bombagem em função dos tarifários energéticos, detectar fugas de água, monitorizar indicadores de qualidade de água, integrar zonas de medição e controlo e garantir a segurança de instalações”, enumera o responsável. Por sua vez, a plataforma digital, que contará em breve com uma aplicação móvel, “insere-se no objectivo de aproximar os SMAS de Sintra dos seus clientes de uma forma clara, acessível, moderna e dinâmica”.

A par destas inovações, nos últimos cinco anos, a melhoria da eficiência dos sistemas tem sido também uma das prioridades destes serviços municipalizados. “Ao nível do abastecimento, conseguimos uma poupança de 3,679 milhões de metros cúbicos, e a redução das perdas de água em cerca de 45%”, avança o gestor. “Em final de 2019, os SMAS de Sintra alcançaram o melhor resultado de sempre ao nível das perdas de água, com 18,4%, um valor pela primeira vez abaixo do preconizado (20%) pela Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR)”.